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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os Trabalhadores da Última Hora

Os Trabalhadores da Última Hora
                                            Cap. XX, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
O reino dos Céus é semelhante a um pai de família que, ao romper do dia, saiu a fim de assalariar trabalhadores para sua vinha; tendo combinado com os trabalhadores que eles teriam uma moeda por sua jornada de trabalho, enviou-os à vinha. Saiu ainda na terceira hora do dia e, tendo visto outros que permaneciam na praça sem nada fazer, lhes disse: Ide também vós outros à minha vinha, e vos darei o que for razoável; e eles para lá se foram. Saiu ainda na sexta  e na nona hora do dia, fez a mesma coisa. E saindo na décima primeira hora, encontrou outros que estavam sem nada fazer, aos quais disse: Por que permaneceis aí durante todo o dia sem trabalhar? Foi porque ninguém nos assalariou, disseram. Ele lhes disse: Ide também vós outros para minha vinha. Chegada a noite, o senhor da vinha disse àquele que tomava conta de seus negócios: Chamai os trabalhadores e pagai-lhes, começando pelos últimos até os primeiros. Aqueles, pois, que vieram para a vinha apenas na décima primeira hora, aproximando-se, receberam uma moeda cada um. Os que foram assalariados primeiro, vindo por sua vez, julgaram que deveriam receber mais, mas não receberam mais que uma moeda cada um; e, ao recebê-la, murmuraram contra o pai de família, dizendo: Os últimos trabalharam apenas uma hora, e pagastes tanto quanto a nós, que suportamos o peso do dia e do calor. Mas, como resposta, disse a um deles: Meu amigo, não cometi injustiça para convosco; não combinamos receberdes uma moeda por vossa jornada? Tomai o que vos pertence e ide; quanto a mim, quero dar a este último tanto quanto dei a vós. Não me é permitido fazer o que quero? Vosso olho é mau porque sou bom? Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos, porque muitos são os chamados e poucos os escolhidos.
 
Missão dos Espíritas, pelo Espírito Erasto
Não escutais já o ruído da tempestade que há de arrebatar o velho mundo e abismar no nada o conjunto das iniquidades terrenas? Ah! Bendizei o Senhor, vós que haveis posto a vossa fé na sua soberana justiça e que, novos apóstolos da crença revelada pelas proféticas vozes superiores, ides pregar o novo dogma da reencarnação e da elevação dos Espíritos, conforme tenham cumprido, bem ou mal, suas missões e suportado suas provas terrestres.
Não mais vos assusteis! As línguas de fogo estão sobre as vossas cabeças. Ó verdadeiros adeptos do Espiritismo!... Sois os escolhidos de Deus! Ide e pregai a palavra divina. É chegada a hora em que deveis sacrificar à sua propagação os vossos hábitos, os vossos trabalhos, as vossas ocupações fúteis. Ide e pregai. Convosco estão os Espíritos elevados. Certamente falareis a criaturas que não quererão escutar a voz de Deus, porque essa voz as exorta incessantemente à abnegação. Pregareis o desinteresse aos avaros, a abstinência aos dissolutos, a mansidão aos tiranos domésticos, como aos déspotas! Palavras perdidas, eu o sei; mas não importa. Faz-se mister regueis com os vossos suores o terreno onde tendes de semear, porquanto ele não frutificará e não produzirá senão sob os reiterados golpes da enxada e da charrua evangélicas. Ide e pregai!
Ó todos vós, homens de boa-fé, conscientes da vossa inferioridade em face dos mundos disseminados pelo Infinito! Lançai-vos em cruzada contra a injustiça e a iniquidade. Ide e proscrevei esse culto do bezerro de ouro, que cada dia mais se alastra. Ide, Deus vos guia! Homens simples e ignorantes, vossas línguas se soltarão e falareis como nenhum orador fala. Ide e pregai, que as populações atentas recolherão ditosas as vossas palavras de consolação, de fraternidade, de esperança e de paz.
Que importam as emboscadas que vos armem pelo caminho! Somente lobos caem em armadilhas para lobos, porquanto o pastor saberá defender suas ovelhas das fogueiras imoladoras. Ide, homens que, grandes diante de Deus, mais ditosos do que Tomé, credes sem fazerdes questão de ver e aceitais os fatos da mediunidade, mesmo quando não tenhais conseguido obtê-los por vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz.
Marcha, pois, avante, falange imponente pela tua fé! Diante de ti os grandes batalhões dos incrédulos se dissiparão, como a bruma da manhã aos primeiros raios do sol nascente. A fé é a virtude que desloca montanhas, disse Jesus. Todavia, mais pesadas do que as maiores montanhas, jazem depositadas nos corações dos homens a impureza e todos os vícios que derivam da impureza. Parti, então, cheios de coragem, para removerdes essa montanha de iniquidades que as futuras gerações só deverão conhecer como lenda, do mesmo modo que vós só muito imperfeitamente conheceis os tempos que antecederam a civilização pagã.
Sim, em todos os pontos do Globo vão produzir-se as subversões morais e filosóficas; aproxima-se a hora em que a luz divina se espargirá sobre os dois mundos.
Ide, pois, e levai a palavra divina: aos grandes que a desprezarão, aos eruditos que exigirão provas, aos pequenos e simples que a aceitarão; porque, principalmente entre os mártires do trabalho, desta provação terrena, encontrareis fervor e fé. Ide; estes receberão com hinos de gratidão e louvores a Deus, a santa consolação que lhes levareis, e baixarão a fronte, rendendo-lhe graças pelas aflições que a Terra lhes destina.
Arme-se a vossa falange de decisão e coragem! Mãos à obra! O arado está pronto; a terra espera; arai!
Ide e agradecei a Deus a gloriosa tarefa que Ele vos confiou; mas, atenção! Entre os chamados para o Espiritismo muitos se transviaram; reparai, pois, vosso caminho e segui a verdade.
Pergunta: - Se, entre os chamados para o Espiritismo, muitos se transviaram, quais os sinais pelos quais reconheceremos os que se acham no bom caminho?
Resposta: - Reconhecê-los-eis pelos princípios da verdadeira caridade que eles ensinarão e praticarão. Reconhecê-los-eis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus princípios, porque Deus quer o triunfo de Sua Lei; os que seguem Sua Lei, esses são os escolhidos e Ele lhes dará a vitória; mas Ele destruirá aqueles que falseiam o espírito dessa Lei e fazem dela degrau para contentar sua vaidade e sua ambição.

Muito interessante esta mensagem do Espírito Erasto, transmitida em 1863, em Paris, para Allan Kardec, demonstrando, claramente, que Deus quer que todos tomem conhecimento da realidade espiritual, exortando os Espíritas a trabalharem com muito afinco, deixando de lado os lazeres, as horas vazias em frente à televisão, as perdas de tempo com vícios que só degradam, com futilidades em geral, para auxiliar no esclarecimento da Humanidade. Quem não dispõe de algum tempo durante o dia para fazer algo de útil, como visitar alguém doente, ou criança abandonada, ou deficiente, ou idosos, levando um sorriso, um olhar amigo, uma palavra de conforto?
Quanto tempo nos dedicamos ao trabalho no Centro Espírita, onde podemos ser úteis atendendo, encaminhando, orientando, estudando, colaborando na limpeza e higiene, bem como em quaisquer outras tarefas, todas importantes na Casa? Temos parceiros que vão uma vez por semana no Centro e acham que fazem muito. Também muitos não vão ao Centro à noite porque é muito perigoso. Ora, a pessoa que se diz Espírita, pois, já compreendeu o que seja o Espiritismo, já deve ter a noção mínima de que Deus providencia proteção especial, através dos bons Espíritos, àqueles que se dedicam ao Bem, desinteressadamente, isto é, com amor. Contudo, muitos companheiros, que se mantêm bem longe dos livros Espíritas, titubeiam, têm medo de sair à noite para fazer caridade. Por isso, o Espiritismo é uma Doutrina que exige estudo daqueles que o adotam, pois, como disse Jesus, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Como iremos colaborar com Jesus se não temos noção da missão que nos compete desempenhar, se ainda não incorporamos a real atitude de um cristão, que não se limita a visitas semanais às instituições e necessitados, porém, exige que nos transformemos em servos sinceros do Senhor, vinte e quatro horas por dia?
Toda a Espiritualidade Superior nos aguarda, muitos Espíritos amigos de longa data observam-nos e torcem por nós, a fim de que deixemos de lado os preconceitos, as perdas de tempo, as futilidades, e cumpramos com nossos programas, nossos planejamentos, para concretizarmos, efetivamente, os ideais superiores que todos temos adormecidos dentro de nós e, que, por acomodamento, por distração, passamos pela Terra sem fazer o que já deveríamos ter feito há bastante tempo, mas, que, as ilusões do mundo, quase sempre, foram mais fortes do que a nossa vontade.
Somos os trabalhadores da última hora, principalmente, porque estamos na derradeira oportunidade de servirmos junto com Jesus ao Pai de Infinita Bondade nesta Nova Era que já se iniciou, dando oportunidade à Terra de tornar-se um mundo de regeneração. Se não aproveitarmos mais esta chance, com certeza, demorará muito para ganharmos uma nova, pois, segundo estamos sendo informados há bastante tempo, muitos Espíritos daqui deste planeta terão que reencarnar e manter-se por um  bom tempo em outro planeta de nível evolutivo primitivo, onde tudo está sendo preparado para este grupo que não quer mudar a mentalidade, cultivando o mal aqui na Terra. Tão cedo os que forem expurgados daqui não poderão voltar, pois, deverão melhorar-se no exílio, a fim de que, um dia, quando tiverem, então, atingido o desenvolvimento moral requerido, possam retornar para esta paisagem querida. É isto que Jesus dizia quando falava da separação dos bodes e das ovelhas, do choro e do ranger de dentes, em suas parábolas tão magníficas, ajudando-nos a compreender que somos Espíritos eternos e que Deus se importa com todos. Ele fez muitas vezes o convite a todos nós. Por milhares de anos, cuidados e orientações não  nos faltaram. Por todo este tempo sempre tratamos as coisas sérias com leviandade, deixando sempre para depois, só que o depois nunca chegou. Finalmente, agora atingimos a reta final. Não podemos mais adiar a nossa entrada no Reino, sob pena de termos que enfrentar “outras” experiências que nos marcarão definitivamente, só que em outro orbe, bem fora da rota que costumamos fazer com amigos e parentes, porém, agora, com a tripulação não muito conhecida, redundando em uma saudade imensa de todos aqueles que para lá não irão, pois aceitaram o convite para as núpcias e fizeram a vontade do Senhor.

Significativa é a expressão de Jesus: “Meu Pai trabalha desde sempre, e eu também”.
Deus, o Ser Absoluto, sustenta tudo e a todos desde sempre. Jesus, o Espírito mais elevado que já passou por aqui como encarnado e, na maior parte do tempo, como desencarnado, é um Espírito pleno que, há mais de quatro bilhões de anos trabalha somente para nós, desde a organização e a formação do planeta Terra, com todos os seus elementos,  com todos os bilhões de seres visíveis e invisíveis que o habitam, até a nossa transformação, passando de seres inferiores, irracionais, para seres pensantes, conquistando, então o pensamento contínuo, descobrindo, assim, a cada passo evolutivo, o Universo maravilhoso em que estamos inseridos, tornando-nos, desse modo, colaboradores, co-criadores, verdadeiros filhos do Altíssimo.
Todos os dias o Criador está a convidar-nos para a Seara Divina. E Ele espera que nos comportemos, em qualquer lugar, conscientes de que somos Seus servidores. Por que Jesus diz que muitos são chamados e poucos são escolhidos? Porque grande parcela dos habitantes deste planeta não atende ao convite, regressando ao Mundo Espiritual com lamentáveis comprometimentos morais, desajustando-se e fazendo jus ao sofrimento amargo por um bom tempo. Eles não têm tempo, pois, uns precisam cuidar de seus negócios, outros de seus afazeres particulares. São as ilusões deste mundo que nos arrebatam. Fazer a vontade do Senhor sempre é mais difícil para nós os iludidos. Mas, chegará o dia em que, cansados de tanto não termos “olhos de ver”, pediremos ao Pai que nos cure da cegueira interior, passando realmente a enxergar as maravilhas que Ele sempre fez para todos os Seus filhos.

Como ensina Públio, em Relembrando a Verdade, pela psicografia de André L. Ruiz, o Evangelho pode ser comparado a um desses cursos avançados para a maioria dos alunos renascidos no mundo, a lhes permitir a matrícula nos curso do Espírito, como representantes Daquele que tem, no trabalho, a grande fonte de realização e modificação do Universo. Jesus a cristaliza na parábola do senhor que sai buscando trabalhadores para a sua vinha e que, a cada hora, recruta e assalaria os que aceitam. Todavia, deixa claro que não há distinção entre os que aceitam o trabalho no início da jornada e os que o aceitaram ao final do dia, quando só havia pouco tempo para ser usado na obra. Desde que os que chegaram à vinha ao final do dia não tenham desperdiçado as outras horas anteriores em descansos indevidos, desde que tenham tido interesse de fazer algo sem que encontrassem o que realizar, desde que não sejam aqueles que se transformam apenas por medo da noite que se aproxima, os trabalhadores da última hora que foram  convocados e aceitaram o trabalho, oferecendo o melhor de seus esforços ainda que ao final do período, receberão por Bondade Soberana o sinal da aprovação de sua boa vontade, merecendo, simbolicamente, o mesmo tipo de remuneração que os primeiros receberam tendo trabalhado desde o início da obra. Injustiça, poderão pensar muitos. No entanto, Jesus estabelece bem a diferença. Os primeiros aceitaram um preço em seu trabalho para o dia todo e o patrão, sem discuti-lo, enviou-os à vinha, garantindo-lhes que, ao final do período, receberiam o que haviam combinado. Nesta relação, estamos diante da remuneração, tendo o princípio da justiça estabelecido a efetiva e correta proporção entre o dia trabalhado e o pagamento recebido. Os últimos, no entanto, aqueles que estavam à cata de trabalho, mas não haviam encontrado o senhor da vinha até a última hora do dia, tendo oferecido o melhor, tendo aproveitado o tempo que lhes faltava, não deixando para o dia seguinte e trabalhando obedientes, foram estimulados pelo senhor, recebendo de sua Bondade – não de sua Justiça – a quota superior aos esforços empreendidos.
A Misericórdia atua sempre em favor daqueles que, apesar de sua precariedade, aceitam o convite do trabalho, que recebem do Amor o investimento na Boa Vontade demonstrada, de tal maneira, que, se à primeira vista deveriam receber da Justiça apenas a undécima parte de uma moeda pelo tempo proporcional que trabalharam, receberam as outras onze partes da Bondade que os acolheu e os estimulou para que nunca deixassem de trabalhar.
Perante o Criador de todas as coisas, não interessa a que horas se tenha decidido a criatura pelo exercício de sua característica essencial. A partir do instante em que a Vontade deu o primeiro passo sincero na direção da obra, o Senhor e a vinha o recebem e o remuneram, seja pela Justiça seja pela Misericórdia, de tal maneira que o efetivo trabalhador nunca se veja prejudicado e nunca se arrependa de ter saído da inércia e da omissão.
Seja a Justiça, seja a Misericórdia ou a Bondade, todos nós estaremos sendo avaliados por olhos generosos que nos endereçarão os melhores rendimentos, muito mais pelo sincero devotamento que nosso coração traduza do que pelas toneladas ou miligramas que tenhamos transportado. E, sem sombra de dúvidas, todos nos encontramos na condição dos trabalhadores da última hora, nos momentos finais do dia, quando a noite vem cobrar de todos a própria prudência, a sabedoria de terem amealhado azeite para as lamparinas, lenha para o fogo, provisões para o frio.
Aproveitemos a oportunidade de realizar, a benefício de todos, os esforços mais pequeninos, aproveitando todo o tempo que tenhamos. Do que fizermos, buscando ser úteis, dependerá nossa condição futura. O que é certo é que, ninguém que não tenha se oferecido na obra do Bem usurpará o pagamento dos que, na primeira ou na última hora, tenham trabalhado como cooperadores de Deus no embelezamento e na harmonização da maior de todas as Suas obras: o coração das criaturas.
Você é o convidado. Não pense na moeda. Pense na obra.

“Não É Fácil Ser Espírita”

De repente, vi-me diante de uma senhora de seus 50 anos de idade, muito culta, viajada, que, segundo suas próprias palavras, fora Espírita. Fora. Verbo no passado, pretérito mais-do-que perfeito, quer dizer, um passado já remoto, muito distante. Fora. Não é mais! Embora fosse psicóloga, e psicólogo só pergunta e você só responde, inverti os papéis e, sem nenhuma psicologia (sem discrição também) eu quis saber por que não era mais Espírita. Por que não continuava a sê-lo. E ela, com um sorriso amistoso, sereno mesmo, explicou:
- Porque ser Espírita não é fácil!
Achei que não deveria perguntar mais nada. Eu entendera tudo! Com efeito, embora o Espiritismo não cobre perfeição de ninguém (Kardec inclusive define o Espírita verdadeiro como sendo aquele que luta por empreender a sua reforma moral), o Espírita se sente na obrigação de buscar melhorar-se. E nisto aquela senhora estava mais do que certa: Não é fácil ser Espírita, não! Tiro a conclusão por mim mesmo! Eu que o diga! Eu que o diga! Nem me tentem consolar dizendo ser falsa modéstia de minha parte. Não é modéstia, não! É a realidade mesmo... Não é fácil ser Espírita porque arrastamos imperfeições milenárias como se fosse a nossa própria sombra. Temos muitas limitações a vencer. E levar em frente tal tarefa (tarefa que é nossa e ninguém poderá fazê-la por nós), como dizem os cariocas não é mole, não!
Entendamos bem que a Doutrina Espírita não prega a ideia obstinada de perfeição. Querer ser perfeito da noite para o dia ou  leva a criatura à dissimulação(e aí estará enganando a si mesma antes de enganar o semelhante); ou leva ao desânimo. Por isso, Deus que é Justo e é Bondoso, dá-nos muitas existências corporais. Não é para que pensemos assim: - Ah! Vou aproveitar bem a vida material agora. Vou deixar esta história de reforma moral e de progresso do Espírito para OUTRA ENCARNAÇÃO! Quem pensa assim, também está redondamente enganado. O que deve e pode ser feito aqui e agora, não pode ser transferido para amanhã, que isto é atraso de vida! É perda de tempo!...
No entanto, não se recomenda aquela sofreguidão e querer abraçar o mundo com as pernas como se diz em linguagem coloquial. Sem santarronice, sem ideias  salvacionistas, tratemos de melhorar a nossa situação em todos os sentidos. Quer dizer, não apenas do ponto de vista material, mas também da moralidade, do saber, do conhecimento, da cultura enfim... Mas seja este esforço algo natural, sereno, tranquilo, espontâneo. Bem sei que todo começo exige esforço, exige trabalho, mostra-se por vezes até desanimador. Contudo, insistamos. A espontaneidade virá depois da disciplina, como, aliás, já disse Emmanuel.
Alguns pensamentos otimistas gostaria de lembrar aos leitores no sentido de sugestão na área deste  progresso indispensável ao nosso crescimento integral.
- Trabalhe quanto puder, tornando-se útil quanto possível;
- Mobilize o tempo de que disponha no serviço ao semelhante;
- Esqueça você mesmo, criando alegria para os outros.
Três pensamentos apenas que, no entanto, podem sugerir-nos um vasto programa de vida.
Ser Espírita não é fácil porque ainda temos defeitos, defeitos estes que tanto nos têm feito sofrer. Todavia, a pouco e pouco podemos e devemos transformá-los em virtudes. E aí seremos realmente felizes! Termino estes escritos com o relato do que sucedeu a um colega Espírita. Ao lado de outro amigo, ele seguia viagem de trem a fim de assistir a uma palestra doutrinária, levando um exemplar de O Evangelho Segundo o Espiritismo debaixo do braço. O trem ia cheio, lotado, com passageiros e mais passageiros empurrando-se mutuamente numa tarde de verão intenso. E nossos dois confrades naquela viagem desconfortável. Lá num trecho do percurso, um passageiro menos educado deu uma cotovelada nas costelas do companheiro Espírita que levava o exemplar de O Evangelho. Sentido a dor daquela cotovelada, nosso confrade instintivamente sentiu vontade de responder à agressão com outra cotovelada também. E quando esboçou a reação, eis que seu irmão de crença, vendo que o livro estava escorregando e ia cair, gritou:
- Cuidado, Fulano, olha o Evangelho...
Ouvindo semelhante advertência, nosso companheiro esqueceu-se da cotovelada e perdoou àquele passageiro mal-educado.
Sem querer ser impertinente, eu perguntaria ao leitor: - Quando você leva uma cotovelada, você olha o Evangelho?
Perguntar-me-ia a mim mesmo: - Quando alguém “me pisa o calo de estimação”, eu olho o que diz o Evangelho? Eu levo em conta o que pregou e o que viveu Jesus? Ou “solto os bichos” em cima do meu próximo e depois fico a dizer que não é fácil ser Espírita? (Do livro “Semeando Ideias”, de Celso Martins e Deolindo Amorim)

Cairbar Schutel, no livro Parábolas e Ensinos de Jesus, diz-nos que “esta parábola, em parte, dirige-se aos Espíritas, pois, quantos deles por aí andam, sem estudo, sem prática, sem orientação, fazendo obra contraproducente e ao mesmo tempo abandonando seus deveres de família, seus interesses pessoais, seus deveres de sociedade! Na seara chega-se até a  encontrar os vendilhões que apregoam sua mercadoria pelos jornais como o mercador na praça pública, sempre visando bastardos interesses. Ora são médiuns mistificadores que exploram a saúde pública, ora são “gênios” capazes de abalar os céus para satisfazerem a curiosidade dos ignorantes. Enfim, são muitos os que trabalham, mas poucos os que ajuntam, edificam, tratam como devem a vinha que foi confiada à sua ação. Há uma outra ordem de Espíritas que nenhum proveito tem dado ao Espiritismo. Encerram-se entre quatro paredes, não estudam, não lêem, e passam a vida a doutrinar espíritos.