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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Reencarnação – Transmigração Progressiva

Questões 189 a 196 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec

Cap. XI, 33 A 49, de A Gênese, de Allan Kardec

Cap. IV, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

 

Sendo o Espírito criado simples e ignorante, aos poucos vai percorrendo os caminhos de sua evolução. Pouco a pouco  desenvolve sua inteligência. Ninguém pode tornar-se Espírito puro em apenas algumas  encarnações. Necessitamos de milhares de encarnações para atingirmos a perfeição. Somente após várias encarnações ou depurações sucessivas, num tempo mais ou menos longo, e de acordo com seus esforços, que os Espíritos atingem o objetivo a que estão destinados. Mas, a perfeição da Terra, por exemplo, é relativa, não é a perfeição absoluta. Em cada planeta atingimos a perfeição que o mesmo comporta. Como disseram os Espíritos Superiores a Kardec, “o Espírito deve avançar em ciência e em moralidade”.

Explica Kardec que “a marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente na hierarquia e não descem da categoria que já alcançaram. Nas diferentes existências corporais podem descer como homens, mas não como Espíritos. Assim, a alma de um potentado da Terra pode, mais tarde, animar o mais modesto artesão e vice-versa, porque as posições entre os homens, frequentemente, estão na razão inversa da elevação dos sentimentos morais. Herodes era rei, Jesus, carpinteiro”.

Diz-nos Kardec que “o princípio da reencarnação é uma consequência necessária da lei de progresso. Sem a reencarnação, como se explicaria a diferença que existe entre o presente estado social e o dos tempos de barbárie? Se as almas são criadas ao mesmo tempo que os corpos, as que nascem hoje são tão novas, tão primitivas, quanto as que viviam há mil anos; acrescentemos que nenhuma conexão haveria entre elas, nenhuma relação necessária; seriam de todo estranhas umas às outras. Por que, então, as de hoje haviam de ser melhor dotadas por Deus, do que as que as precederam? Por que têm aquelas melhor compreensão? Por que possuem instintos mais apurados, costumes mais brandos? Por que têm a intuição de certas coisas, sem as haverem aprendido? Duvidamos de que alguém saia desses dilemas, a menos que admita que Deus cria almas de diversas qualidades, de acordo com os tempos e lugares, proposição inconciliável com a ideia de uma justiça soberana. Admiti, ao contrário, que as almas de agora já viveram, em tempos distantes; que possivelmente foram bárbaras como os séculos em que estiveram no mundo, mas que progrediram; que para cada nova existência trazem o que adquiriram nas existências precedentes; que, por conseguinte, as dos tempos civilizados não são almas criadas mais perfeitas, porém, que se aperfeiçoaram por si mesmas com o tempo, e tereis a única explicação plausível da causa do progresso social. Tudo na criação tem uma finalidade, sem o que Deus não seria nem prudente, nem sábio. Ora, se a Terra se destinasse a ser uma única etapa do progresso para cada indivíduo, que utilidade haveria, para os Espíritos das crianças que morrem em tenra idade, vir passar aí  alguns anos, alguns meses, algumas horas, durante as quais nada podem haurir dele? O mesmo ocorre se pondere com referência aos idiotas e aos cretinos. Uma teoria somente é boa sob a condição de resolver todas as questões a que diz respeito. A questão das mortes prematuras há sido uma pedra de tropeço para todas as doutrinas, exceto para a Doutrina Espírita, que a resolveu de maneira racional e completa. Para o progresso daqueles que cumprem na Terra uma missão normal, há vantagem real em volverem ao mesmo meio para aí continuarem o que deixaram inacabado, muitas vezes na mesma família ou em contato com as mesmas pessoas, a fim de repararem o mal que tenham feito, ou de sofrerem a pena de talião”.

No encontro de Jesus com o senador Nicodemos, há dois mil anos, quando este o procurou certa noite para dizer-lhe que ele, o Cristo, só poderia vir da parte de Deus para fazer aquelas coisas extraordinárias, tendo recebido como resposta que “é necessário nascer de novo para conhecer o Reino de Deus”, ao que Nicodemos teve dificuldades de entender, obrigando Jesus a dizer-lhe que ele era mestre em Israel e não sabia daquelas coisas, que são terrestres, imagina se ele falasse das coisas do céu... Mais claro é impossível. Jesus explica-lhe que o corpo nasce do corpo, mas o Espírito  vem do Espaço, ou seja, do Mundo Espiritual. O ensino de Jesus é muito claro, porém, clérigos e teólogos conseguiram deturpá-lo ao longo dos séculos, atribuindo ao batismo o poder mágico de transformar as pessoas, além de outras invencionices que a razão não admite, como a bobagem de que todos nascem com pecado... É uma longa estória, com tanta fantasia, que nem as crianças de hoje acreditam.

Há uma sabedoria muito sutil e profunda no mecanismo da reencarnação

Ensina Hermínio de Miranda que “o esquecimento é necessário ao progresso do Espírito, que só evolui quando caminha por suas próprias forças, escolhendo livremente entre o bem e o mal. De que lhe serviria uma existência  anterior, dos crimes que praticou, dos ódios que se abrigaram em seu coração, dos inimigos que teve, das riquezas ou poderes que possuiu, ou das misérias e angústias por que passou? Para que trazer, para uma existência que começa de novo, as aflições e preocupações de uma que se foi e já mergulhou no passado? Não é mais fácil nos reconciliarmos com uma criatura que não mais desperta em nós lembrança do dano que nos causou? As vidas que se entrelaçam estão cheias de exemplos dessa natureza. Numa existência, matamos um desafeto e lhe roubamos a esposa e os bens, encharcando de ódio a nossa vida e a dele. Os nossos caminhos se separam antes que pudéssemos refazer a amizade, mas ainda não  é tarde. É bem possível que ele nos volte, numa vida subsequente, como filho de nossa própria carne, para que lhe possamos restituir o bem da vida que lhe tiramos da outra vez e os bens materiais que dele subtraímos impiedosamente. É um processo inteligente e suave, pois que aquilo que lhe arrebatamos num instante, assumindo uma dívida enorme, agora lhe pagamos aos pouquinhos, sem grandes sacrifícios, amparando-o, educando-o à nossa custa, orientando-o para o bem. Quando, depois do desenlace de mais uma existência, nos reencontramos no Além, em plena consciência do passado, já estaremos reconciliados e mais amigos que nunca, pois nada é mais forte para cimentar uma ligação fraterna que a lembrança de antiga e superada inimizade. Se, porém, no decorrer da existência corpórea, identificássemos o antigo desafeto de passadas eras, não teríamos a mesma serenidade para concertar com ele um pacto de paz e harmonia, porque antigas feridas voltariam a sangrar e os sepultados ódios subiriam à tona, toldando-nos o entendimento e os bons propósitos. Além de tudo isso, há também razões de ordem prática e menos transcendentais. Não podemos trazer para uma nova existência antigos preconceitos, impertinências, intolerâncias, nem sequer o mesmo conservadorismo estreito que impediria o nosso progresso e nos tornaria velhos rabugentos desde a primeira infância. É que tudo evolui e progride, e, ao cabo de alguns decênios, precisamos mesmo ceder lugar aos Espíritos que vão chegando, para que, com a nossa caturrice muito natural da velhice, não comecemos a servir de estorvo a novas ideias e novas conquistas. Os próprios costumes sociais e políticos também mudam com os tempos, enquanto que nós, presos aos limitados horizontes de uma existência carnal, não podemos alcançar muito longe nem acompanhar a marcha das modificações históricas e sociais. Com todos os seus erros, desvios e desvirtuamentos, temos que reconhecer que vive hoje no mundo uma população materialmente mais sadia e mais ciosa da sua liberdade”.