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terça-feira, 24 de julho de 2012


Há Muitas Moradas na Casa de Meu Pai

                                                      Cap. III, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
                                                      Questões 55 a 59; 172 a 188, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec

 Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver também vós aí estejais. (João, 14:1-3)

Diz-nos Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, que “a casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao adiantamento dos mesmos Espíritos. Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles que ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.
E, em O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos Seres Superiores, na questão 55, se “todos os globos que circulam no espaço são habitados”, tendo como resposta: Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como crê, o primeiro em inteligência, em bondade  e perfeição. Todavia, há homens que se crêem muito fortes, que imaginam que somente seu pequeno globo tem o privilégio de abrigar seres racionais. Orgulho e vaidade! Julgam que Deus criou o Universo só para eles.
Nestes dois livros básicos do Espiritismo temos explicações muito claras sobre a pluralidade das existências e a pluralidade dos mundos, bem como dos diferentes níveis de Espíritos que habitam cada planeta, de acordo, com o grau de adiantamento de cada um. A transformação da Terra de mundo de provas e expiações para mundo de regeneração, que nestes últimos tempos várias correntes filosóficas têm anunciado, ao se referirem à Nova Era, consta nestas obras fundamentais da Doutrina Espírita, de modo claro, possibilitando-nos compreender, com racionalidade, que o progresso faz parte da Natureza, sem mágicas e sem fantasias, como anunciou o Espírito Agostinho em 1862.
O Sol está a 150.000.000 de km da Terra. Com um diâmetro de 1.500.000 km, poderíamos colocar 1.000.000 de planetas do tamanho da Terra dentro dele. Atualmente, com os progressos realizados na área astronômica, com sondas viajando pelo espaço, bem como com a construção de telescópios mais potentes, percebemos em cada avanço da ciência quão magníficas são outras estrelas de nossa própria galáxia, tornando nosso Sol uma estrelinha, se colocado ao lado delas. Sirius, Pollux, Arcturus, Aldebaran, Riegel, Eta Carinae, Betelgeuse, Pistol, Antares, Mu Cephei, Vy Canis Majoris, são estrelas que, se comparadas, deixam nosso astro rei do tamanho de um pinhão, enquanto outras estrelas seriam do tamanho de uma pinha e, outras, do tamanho do pinheiro, ou maiores ainda. A estrela Eta Carinae é 5.000.000 de vezes maior do que o Sol. Já a estrela Betelgeuse é 300 vezes maior do que a estrela Eta Carinae. A maior estrela conhecida até o momento, a Canis Majoris, é um bilhão de vezes maior do que o Sol. Nosso astro tem 1.500.000 km de diâmetro, sendo que Canis Majoris tem 2.800.000.000 km de diâmetro. Se tomássemos um avião e fôssemos fazer a volta nesta estrela, com velocidade de 900 km/h, levaríamos 1.100 anos para completarmos apenas uma volta nela. E, segundo muitos cientistas, existem estrelas ainda maiores do que a Canis Majoris em outras galáxias...
O Espírito Humberto de Campos relata a visita que fez ao planeta Marte, que o deixou extasiado, não só pela beleza do local, como também pela mansuetude e inteligência de seus habitantes, que não se alimentam de animais. Conta ele que a paz já se estabeleceu neste planeta, que é considerado belicoso por nós, mas, na verdade, somos nós, os terrícolas que gostamos de guerras.  Os marcianos têm telescópios tão poderosos que chegam ao extremo de examinar as vibrações de ordem psíquica na atmosfera da Terra. Os marcianos sentem-se incomodados pelas influências nocivas da Terra, o único orbe de aura infeliz nas suas vizinhanças mais próximas e, desde muitos anos, enviam mensagens ao nosso planeta, através de ondas luminosas. (Novas Mensagens, Espírito Humberto de Campos, médium Chico Xavier)
Outro Espírito que visitou Marte e fez semelhantes descrições foi Maria João de Deus, confirmando os relatos do Espírito Humberto de Campos a respeito da paisagem de Marte e do nível evolutivo do povo marciano. (Cartas de Uma Morta, Espírito Maria João de Deus, médium Chico Xavier)
Vejam como o Espiritismo tem contribuído para o esclarecimento da Humanidade terrestre. Quanto temos a ganhar ao nos voltarmos para a Espiritualidade que, há mais de 155 anos, transmite-nos informações interessantíssimas a respeito não só do mundo espiritual, mas também do nosso e de outros mundos do Universo. São conhecimentos trazidos por Espíritos com vários serviços prestados, consagrados, como também, por médiuns idôneos, sem interesses materialistas, com o único objetivo de colaborar com a raça humana.
Ao referir-se às muitas moradas da casa do Pai, o Espírito Públio ensina que, “considerada a mãe Terra como o ponto de passagem da infância bisonha para a adolescência, podemos afirmar que nós, que estamos estagiando no orbe, somos Espíritos infantilizados pelo pouco conhecimento e pelo pouco domínio de nossas próprias forças. Como Espíritos infantis ou rebeldes, acomodados ou cheios de caprichos, a Terra é a etapa generosa da vida que nos permite a evolução dos comportamentos geniosos, mimados, dengosos, para uma realidade mais universal e positiva, fazendo com que os Espíritos ali sejam despertados para responsabilidades que julgavam nunca ter que assumir. Por enquanto, a Terra é a classe da balbúrdia e das rebeldes crianças bagunceiras. No entanto, nela aprenderemos lições importantes, tais como: Termos que cuidar do nosso uniforme, que é o nosso corpo físico. Termos que nos levantar da inércia, para atender às necessidades materiais e alimentares. Termos que nos virar sozinhos, deixando no mundo invisível os amigos que nos apóiam e nos estimulam. Termos que dividir a carteira com os outros, que são os irmãos da jornada humana. Termos que chegar no horário da aula, aprendendo a regular nossas rotinas de Espirito, disciplinando nosso voluntarismo.  Todavia, acima e além disso tudo que aprendemos, desenvolvemos na classe primária da Terra a noção de responsabilidade pessoal e de autoridade moral, quando identificamos que, acima do professor bom e generoso, que nós não acatamos nem obedecemos como deveríamos, na escola existe... a Diretoria. Na Terra, temos o pré-primário no qual desenvolvemos as noções importantes para a alma a fim de que, nos mundos melhores, depois de termos assimilado as importantes lições que nos orientam os passos iniciais, passemos a colaborar mais e melhor com os professores, a respeitá-los e admirá-los, ao mesmo tempo em que paremos de ter medo do Diretor, nos esforçando para sermos seus fiéis e devotados servidores, a benefício do bem-estar e do equilíbrio de toda a escola do Universo que Ele criou e dirige.
Celso Martins conta-nos que, Jerônimo de Praga, sacerdote, físico e grande sábio, teve a audácia, a petulância, o atrevimento de afirmar, em uma de suas obras, a pluralidade da vida, bem como a dos mundos habitados. Por esse ato impensado, por essa abusada ousadia, foi condenado pelo Concílio de Constança, iniciado em 1414 e encerrado quatro anos mais tarde, porque à época, havia três papas (Gregório XII, Benedito XIII e João XIII), cada qual excomungando os outros dois, tidos e havidos  como heréticos, daí a demora da condenação de Jerônimo de Praga, discípulo de Jan Huss, o mesmo Espírito que foi Elias e, mais tarde, Allan Kardec. (E o Mundo Não Acabou, Celso Martins)
Para Antonio Fernandes Rodrigues, “quanto mais se aperfeiçoa e se aumenta a potencialidade dos telescópios, mais nos aprofundamos no incomensurável da criação Divina. Hoje já se conhecem  bilhões de galáxias no infinito. Já se sabe que elas  são constituídas em grupos de galáxias, como se fossem agrupamentos de pessoas ou famílias, sendo que alguns desses aglomerados são formados de dez mil galáxias. Quanto mais avançamos no infinito, mais nos admiramos da criação do Universo, mais nos maravilhamos com a grandiosidade da criação Divina. Temos que lembrar, entretanto, que os sábios da Terra ainda se igualam às crianças, comparando-os com os dos mundos felizes, sem considerar os Espíritos Superiores que vivem nas esferas mais elevadas. Camille Flammarion num de seus livros diz-nos que, dialogando com sábios de um mundo superior ao nosso, eles comentavam as descobertas dos seus grandes cientistas, quando ele aparteou os anfitriões, dizendo que na Terra também havia grandes mestres, citando alguns. Mas, ao invés de ouvir elogios aos nossos grandes cientistas, filósofos, etc, ouviu a seguinte frase: Todos eles reunidos não saberiam o mesmo que sabe qualquer criança de nosso mundo. (Reflexões Doutrinárias, Antonio F. Rodrigues)


sexta-feira, 20 de julho de 2012


Falta Educação para a Morte

Temos assistido, diariamente, a matérias na televisão sobre mortes de pessoas, tanto em acidentes como por outros motivos, demonstrando um desconhecimento tão elementar desta questão, que chamou-nos a atenção. As reportagens de uma TV local sobre as mortes de pessoas no acidente da TAM, que ocorreu há cinco anos, deixou-nos perplexos. Foram alguns dias de cenas do incêndio que ocorreu no prédio da própria empresa, quando o tal avião chocou-se contra ele, vindo a morrer cerca de 199 pessoas. Com estas cenas ao fundo, com frases de efeito e depoimentos deprimentes dos parentes, a TV, no horário do almoço, com certeza contribuiu para disseminar uma grande amargura e medo entre os seus milhões de teleespectadores.
Quem primeiro cuidou da Psicologia da Morte e da Educação  para a morte, em nosso tempo, foi Allan Kardec. Ele realizou uma pesquisa psicológica exemplar sobre o fenômeno da morte. Por anos seguidos falou a respeito com os Espíritos dos mortos. Como explica o Prof. Herculano Pires, “as religiões podiam ter prestado um grande serviço à Humanidade se houvessem colocado o problema da morte em termos de naturalidade. Mas, nascidas da magia e amamentadas pela mitologia, só fizeram complicar as coisas. Como disse Victor Hugo “morrer não é morrer, mas apenas mudar-se. A mudança simples de que falou Victor Hugo transformou-se, nas mãos de clérigos e teólogos, numa passagem dantesca pela selva selvaggia da Divina Comédia.
Muito antes de Augusto Comte, os médicos haviam descoberto que os vivos dependiam sempre e cada vez mais da assistência e do governo dos mortos. De toda essa embrulhada resultou o pavor da morte entre os mortais. O pavor maior da morte provém da ideia de solidão e escuridão. Mas os teólogos acharam que isso era pouco e oficializaram as lendas remotas do Inferno, do Purgatório e do Limbo... De tal maneira se aumentaram os motivos do pavor da morte, que ela chegou a significar desonra e vergonha. Para os judeus, a morte se tornou a própria impureza. Os túmulos e os cemitérios foram considerados impuros. Como podiam eles aceitar um Messias que vinha da Galiléia dos Gentios, onde o Palácio de Herodes fora construído sobre terra de cemitérios? Como aceitar esse Messias que morreu na cruz, vencido pelos romanos impuros, que arrancara Lázaro da sepultura e o fizeram seu companheiro nas lides sagradas do messianismo?
Certa ocasião, o Papa Paulo VI declarou que “existe uma vida após a morte, mas não sabemos como ela é”. Isso quer dizer que a própria Igreja nada sabe da morte, a não ser que morremos. A ideia cristã da morte, sustentada e defendida pelas diversas igrejas, é simplesmente aterradora. Os pecadores ao morrer se vêem diante de um Tribunal Divino que os condena a suplícios eternos. Os criminosos broncos, ignorantes e todo o grosso da espécie humana são atirados nas garras de Satanás, um anjo decaído que só não encarna o mal porque não deve ter carne. Mas com dinheiro e a adoração interesseira a Deus, essas almas podem ser perdoadas, de maneira que só para os pobres não salvação, mas para os ricos o Céu se abre ao impacto dos tédeuns suntuosos, das missas cantadas e das gordas contribuições para a Igreja. Nunca se viu soberano mais venal e tribunal mais injusto. A depreciação da morte gerou o desabrido comércio dos traficantes do perdão e da indulgência divina. O vil dinheiro das roubalheiras e injustiças terrenas consegue furar a Justiça Divina, de maneira que o desprestígio dos mortos chega a máximo da vergonha. A felicidade eterna depende do recheio dos cofres deixados na Terra.
Diante de tudo isso, o conceito da morte se azinhavra(mancha) nas mãos dos cambistas da simonia(venda dos bens espirituais), esvazia-se na descrença total, transforma-se no conceito do nada, que Kant definiu como conceito vazio. O morto apodrece enterrado, perdeu a riqueza da vida, virou pasto de vermes e sua misteriosa salvação depende das condições financeiras da família terrena. O morto é um fraco, um falido e um condenado, inteiramente dependente dos vivos na Terra.
O povo não compreende bem todo esse quadro de misérias em que os teólogos envolveram a morte, mas sente o nojo e o medo da morte, introjetados em sua consciência pela farsa dos poderes divinos que o ameaçam desde o berço ao túmulo e ao além-túmulo. Não é de admirar que os pais e as mães, os parentes dos mortos se apavorem e se desesperem diante do fato irremissível da morte.
Jesus ensinou e provou que a morte se resolve na Páscoa da ressurreição, que ninguém morre, que todos temos o corpo espiritual e vivemos no além-túmulo como vivos mais vivos que os encarnados. Paulo de Tarso proclamou que o corpo espiritual é o corpo da ressurreição, mas a permanente imagem do Cristo crucificado, das procissões absurdas do Senhor Morto, heresia clamorosa, as cerimônias da Via-Sacra  e as imagens aterradoras do Inferno Cristão, mais impiedoso e brutal do que os Infernos do Paganismo, marcados a fogo na mente humana através de dois milênios, esmagam e envilecem a alma supersticiosa dos homens.
Não é de admirar que os teólogos atuais, divididos em várias correntes de sofistas cristãos moderníssimos, estejam hoje proclamando, com uma alegria leviana de debilóides, a Morte de Deus e o estabelecimento do Cristianismo Ateu. Para esses teólogos, o Cadáver de Deus foi enterrado pelo Louco de Nietsche, criação fantástica e infeliz do pobre filósofo que morreu louco.
O clero cristão, tanto católico como protestante, tanto do Ocidente como do Oriente, perdeu a capacidade de socorrer e consolar os que se desesperam com a morte de pessoas amadas. Seus instrumentos de consolação perderam a eficiência antiga, que se apoiava no obscurantismo das populações  permanentemente ameaçadas pela Ira de Deus.
Igreja, Mãe da Sabedoria Infusa, recebida do Céu como graça especial concedida aos eleitos, confessa que nada sabe sobre a vida espiritual e só aconselha aos fiéis as práticas antiquadas das rezas e cerimônias pagas, para que os mortos queridos sejam beneficiados no outro Mundo ao tinir das moedas terrenas. O Messias espantou a chicote os animais do Templo que deviam ser comprados para o sacrifício redentor no altar simoníaco e derrubou as mesas dos cambistas, que trocavam no Templo as moedas gregas e romanas pelas moedas sagradas dos magnatas dispenseiros da misericórdia divina. O episódio esclarecedor foi suplantado na mente popular pelo impacto esmagador das ameaças celestiais contra os descrentes, esses rebeldes demoníacos. Em vão o Cristo ensinou que as  moedas impuras de César só valem na Terra. Há dois mil anos essas moedas impuras vêm sendo aceitas por Deus para o resgate das almas condenadas.    Quem pode, em sã consciência, acreditar hoje em dia numa Justiça Divina que funciona com o mesmo combustível da Justiça Terrena? Os sacerdotes foram treinados a falar com voz empostada, melíflua e fingida, para, à semelhança da voz das antigas sereias, embalar o povo nas ilusões de um amor venal e sem piedade. Voz doce e gestos compassivos não conseguem mais, em nossos dias, do que irritar as pessoas de bom senso. O Cristo Consolador foi traído pelos agentes da misericórdia divina que desceu ao banco  das pechinchas, no comércio impuro das consolações fáceis. Os homens preferem jogar no lixo as suas almas, que Deus e o Diabo disputam não se sabe porquê.

Todos morremos e todos ressuscitamos. Por isso não somos mortais, mas imortais.

Mas, a mais difícil tarefa da Educação para a Morte é precisamente a de quebrar esse condicionamento milenar, integrando os homens numa visão mais realista da vida. Os fatos são de todos os tempos e estão ao alcance de todas as criaturas dotadas de bom senso. Hoje, graças à abertura científica produzida pelo avanço acelerado das Ciências, não se pode admitir que pessoas razoavelmente cultas continuem amarradas, como acontece na própria Parapsicologia, ao sincretismo teológico do Tomismo de Tomás de Aquino”. (Educação para a Morte, J. Herculano Pires)


quarta-feira, 11 de julho de 2012


Perdão: Bem-aventurados os que são Misericordiosos
                                       Cap. X, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
                                                  Questão 661, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec
Bem-aventurados os que são misericordiosos porque obterão misericórdia.
Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai Celestial vos perdoará os pecados; mas, se não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai Celestial também não vos perdoará os pecados.
Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso irmão. Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro:  - Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão quando houver pecado contra mim?  Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes. (Mateus, 5:7; 6:14-15; 18:15, 21 e 22)
Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido na prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis enquanto não houverdes pago o último ceitil. (Mateus, 5:7; 6:14-15; 18:15, 21 e 22; 5:25 e 26)
É importantíssimo que prestemos atenção às palavras de Jesus, pois, elas mostram-nos o que o Criador espera de nós em cada encarnação aqui na Terra. E, todos os dias, temos oportunidades de aprendizado e teste. A cada minuto estamos sendo aferidos pelas leis divinas para sermos elevados ou reprovados por força das nossas atitudes perante o próximo, ou seja, qualquer um que cruze o nosso caminho, desde nossa casa, passando pela vizinhança, pelas ruas, por nosso trabalho, em qualquer lugar. Em geral, a maior parte da população da Terra, dita civilizada, pode compreender o que realmente somos: Espíritos em evolução, progredindo sempre, conforme determina a legislação divina. Hoje, mais do que nunca, com as luzes da Doutrina Espírita que se espalham sobre o globo, ficamos cada vez mais conscientes do que somos e o que viemos fazer aqui. Sabendo o que somos torna-se bem mais fácil agir como criaturas que trabalham pela própria paz e, consequentemente, por um mundo melhor.
Segundo Allan Kardec, “a misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, sem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda mansidão e caridade.
Ai daquele que diz: nunca perdoarei. Esse, se não for condenado pelos homens, sê-lo-á por Deus. Com que direito reclamaria  ele o perdão de suas próprias faltas, se não perdoa as dos outros? Jesus nos ensina que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe ao seu irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
Na prática do perdão, como, em geral, na do bem, não há somente um efeito moral: há também um efeito material. A morte, como sabemos, não nos livra dos nossos inimigos; os Espíritos vingativos perseguem, muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais guardam rancor; donde decorre a falsidade do provérbio que diz: “morto o animal, morto o veneno”, quando aplicado ao homem. O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os da subjugação e possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder. Deus o permite, para os punir do mal que a seu turno praticaram, ou, se tal não ocorreu, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, não perdoando. Importa, conseguintemente, do ponto de vista da tranquilidade futura, que cada um repare, quanto antes, os agravos que haja causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos, a fim de que, antes que a morte lhe chegue, esteja apagado qualquer motivo de dissensão, toda causa fundada de ulterior animosidade.
Por essa forma, de um inimigo encarniçado neste mundo se pode fazer um amigo no outro; pelo menos, o que assim procede põe de seu lado o bom direito e Deus não consente que aquele que perdoou sofra qualquer vingança. Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos  o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, da prisão, enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não houverdes satisfeito completamente a justiça de Deus”.
Na questão 661, de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se podemos, através da prece, pedir perdão a Deus e os Espíritos Superiores deram a seguinte resposta: - Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras.
                  Aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama
Um fariseu chamado Simão, em Cafarnaum, convidou Jesus para jantar em sua casa. O jantar ia em curso, quando bela mulher entrou com um vaso de alabastro contendo perfume. Ajoelhou-se e pôs-se a lavar os pés de Jesus, derramando lágrimas de emoção e enxugando-os com seus cabelos, beijando-os e ungindo-os  com perfume.
Simão, o fariseu hospedeiro, pretendia testar Jesus, pois, os grandes profetas jamais permitiriam que uma prostituta os tocassem tornando-os impuros. E Simão pensou: “ Se este homem fosse profeta, saberia quem é esta mulher. Trata-se de uma pecadora”.
Lá pelas tantas, Jesus disse-lhe: Simão, tenho algo a dizer-te. – Fala, Mestre...
- Certo homem tinha dois devedores: um devia quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou a dívida a ambos. Qual deles, portanto, lhe terá mais amor?
- Suponho que foi aquele a quem mais perdoou.
- Julgaste bem. Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, os regou com lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, porém, desde que entrei, não cessou de beijar-me os pés. Não ungiste minha cabeça com óleo; ela, porém, ungiu com perfume os meus pés. Por isso te digo: perdoados lhe são os pecados, que são muitos, porque ela muito amou; mas, aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
E disse à  mulher: - Perdoados são os teus pecados. A tua fé te salvou. Vai-te em paz! (Lucas, 7:36-50)
                                                           Boa Nova: O Perdão
O Espírito Humberto de Campos,  relembrando fatos marcantes da visita de Jesus a Nazaré, conta que os apóstolos se inflamaram, discutindo com as pessoas nas ruas e entre si,  devido ao tratamento dispensado ao Messias pelo povo daquela cidade, falando mal Dele, ao que o Cristo afirmou, tendo em vista às inúmeras questões colocadas por seus discípulos, pois, Ele não revidara e determinara a retirada de todos daquela cidade:
- “Mas, não será vaidade exigirmos que toda gente faça de nossa personalidade elevado conceito?  Nas ilusões que as criaturas da Terra inventaram para a sua própria vida, nem sempre constitui bom atestado da nossa conduta o falarem  bem de nós, indistintamente. Agradar a todos  é marchar pelo caminho largo, onde estão as mentiras da convenção. Servir a Deus é tarefa que deve estar acima de tudo e, por vezes, nesse serviço divino, é natural que desagrademos aos mesquinhos interesses humanos.
O que é indispensável é nunca perdermos de vista o nosso próprio trabalho, sabendo perdoar com verdadeira espontaneidade de coração. Se nos labores da vida um companheiro nos parece insuportável, é possível que também algumas vezes sejamos considerados assim. Temos que perdoar aos adversários, trabalhar pelo bem dos nossos inimigos, auxiliar os que zombam da nossa fé”. 
E Pedro atalhou: - Mas, para perdoar não devemos aguardar que o inimigo se arrependa? E que fazer, na hipótese de o malfeitor assumir a atitude dos lobos sob a pele da ovelha? E Jesus respondeu-lhe:
- Pedro, o perdão não exclui a necessidade da vigilância, como o amor não prescinde da verdade. A paz é um patrimônio que cada coração está obrigado a defender, para bem trabalhar no serviço divino que lhe foi confiado. Se o nosso irmão se arrepende e procura o nosso auxílio fraterno, amparemo-lo com as energias que possamos despender; mas, em nenhuma circunstância cogites de saber se o teu irmão está arrependido. Esqueça o mal e trabalha pelo bem. Quando ensinei que cada homem deve conciliar-se depressa com o adversário, busquei salientar que ninguém pode ir a Deus com um sentimento de odiosidade no coração. Não poderemos saber se o nosso adversário está disposto à conciliação; todavia, podemos garantir que nada se fará sem a nossa boa-vontade e pleno esquecimento dos males recebidos. Se o irmão infeliz se arrepender, estejamos sempre dispostos a ampará-lo e, a todo momento, precisamos e devemos olvidar o mal.
Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre pergunta:
- Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será até sete vezes?
- Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete, disse-lhe Jesus.
Daí por diante, o Mestre sempre aproveitou as menores oportunidades para ensinar a necessidade do perdão recíproco, entre os homens, na obra sublime da redenção.
Acusado de feiticeiro, de servo de Satanás, de conspirador, Jesus demonstrou, em todas as ocasiões, o máximo de boa-vontade para com os espíritos mais rasteiros de seu tempo. Sem desprezar a boa palavra, no instante oportuno, trabalhou a todas as horas pela vitória do amor, com o mais alto idealismo construtivo. E no dia inesquecível do Calvário, em frente dos seus perseguidores e verdugos, revelando aos homens ser indispensável a imediata conciliação entre o espírito e a harmonia da vida, foram estas as suas últimas palavras:
- Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!... (Boa Nova, Espírito Humberto de Campos e médium Chico Xavier)

Diz-nos o Dr. Alírio de Cerqueira  Filho, que “a maior dificuldade que temos, em relação ao perdão, é o processo de culpa instalado em nossas mentes, especialmente na cultura ocidental. Temos fortemente alicerçado em nossa cultura o hábito de nos culparmos e culpar aos outros quando cometemos, ou alguém comete, algum erro. Devido a princípios religiosos, associamos o erro ao pecado e, automaticamente, à culpa. A culpa que sentimos, é resultado de séculos de condicionamento dentro do pensamento judaico-cristão. Quando o cristianismo transformou-se em catolicismo, como também ocorreu nas várias religiões dele derivadas, ele, o cristianismo, não estabelecia a culpa e a punição como segue até hoje”.
Em inúmeras passagens do Evangelho, Jesus aborda a improcedência da questão do julgamento, da condenação e da punição, reforçando a necessidade da renovação interior pelo arrependimento e pelo auto-aperfeiçoamento, que nos liberta dos erros:
E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. (Mateus: 9:11-13) (Psicoterapia à Luz do Evangelho de Jesus, Alirio de Cerqueira Filho)
                                                      Cumprindo a Lei do Perdão
O fato ocorreu, há vários anos, nas proximidades da cidade mineira de Pedro Leopoldo. A pobre viúva, certo dia, é surpreendida por um quadro desolador: trazem-lhe para casa o cadáver do filho assassinado. Ela não conseguiu saber a causa do homicídio e nem mesmo o nome do assassino, que fugira sem deixar pista. Inconsolável, a mãe extremosa passou a viver num verdadeiro mar de lágrimas. Como se lhe agravassem os sofrimentos morais, uma sua amiga, Dona Joaninha Gomes, resolveu recorrer aos préstimos de Chico Xavier.  O médium não se fez de rogado. Compareceu sem demora à residência da viúva, para realizar uma reunião do Culto do Evangelho. Forma-se um círculo de cinco pessoas que, após a prece inicial, se aprestam para a leitura de um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, aberto ao acaso, indicando o item 14 do Capítulo X, intitulado Perdão das Ofensas.
Chico ia proceder à leitura, quando alguém bate à porta. A dona da casa atende. É um desconhecido, esfarrapado, a implorar um prato de comida e um cobertor. Entra. Pede-se-lhe que aguarde alguns momentos. Ele se ajeita num banco, esperando. Prossegue a sessão. Após a leitura e o comentário do tema, um dos presentes indaga da viúva se ela havia perdoado o matador de seu filho, cujo nome, daí por diante, foi repetido várias vezes.
O Evangelho, pelo menos, lhe mandava que perdoasse – foi o que respondeu.
Surge, então, o imprevisto. O desconhecido, aproximando-se da dona da casa, pergunta-lhe:
- Pois a senhora é a mãe do morto?
Incontinenti, para assombro de todos, pôs-se a chorar convulsivamente, confessando ter sido ele o assassino do rapaz. Ajoelhou-se e pediu perdão.
Num gesto de elevado sentimento cristão, a viúva, também sem conseguir conter o pranto, exclama, comovida: - Não me peça perdão, meu filho, que eu também sou uma pobre pecadora... Roguemos a Deus para que nos perdoe!
Trouxe-lhe em seguida uma refeição farta e nutriente, bem como o agasalho de que ele necessitava.
Vejamos como Chico Xavier narra o final da ocorrência, conforme encontramos no Anuário Espírita, 1972:
- Ele, entretanto, transformado, saiu do Culto do Evangelho conosco e foi-se  entregar ã Justiça. No dia imediato, Joaninha Gomes e eu voltamos ao lar da generosa senhora e ela nos contou, edificada, que durante a noite sonhara com o filho, a lhe dizer que, ele mesmo, a vítima, trouxera o ofensor ao seu regaço de mãe, para que ela o auxiliasse com bondade e socorro, entendimento e perdão.
Quanta sublimidade nesse fato real que mais parece uma pequena obra-prima de ficção! A vida imitando a arte? Seria mais certo dizer: a própria arte da vida, ou seja, a arte do bem viver, segundo os preceitos evangélicos!
Que nos sirva de lição: o Espírito evolvido perdoa ao ofensor, adquirindo mérito. O Espírito atrasado mais se atrasa exercendo a vingança sobre aquele que o ofende. Daí os terríveis  dramas da obsessão, que martirizam simultaneamente obsidiados e obsessores.
Cumpramos, pois, a Lei do Perdão, que está bem definida nas palavras do Pai Nosso:  Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores... (Pelos Caminhos da Vida-Aureliano Alves Neto)


quarta-feira, 4 de julho de 2012


Pedi e Obtereis

Cap. XXVII, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

Questões 658 a 666, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec

Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas que, afetadamente, oram em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa.

Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que serão atendidos. Não vos torneis semelhantes a eles, porque o vosso Pai sabe do que é que tendes necessidade, antes que lho peçais.

Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, também não vos perdoará os pecados. (Mateus, 6:5-8; Marcos, 11:25-26)

Ação da Prece. Transmissão do Pensamento

Conforme Allan Kardec,  “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus.

O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluído universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar é o do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem à distância entre encarnados. Esta explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligível os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.

Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se, portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que favoreçam o recolhimento. A prece comum tem ação mais poderosa, quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, porquanto é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas, que importa seja grande o número de pessoas reunidas para orar, se cada uma atua isoladamente e por conta própria? Cem pessoas juntas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma  mesma aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos em Deus, e mais força terá a prece que lhe dirijam do que a das cem outras”.

Segundo O Livro dos Espíritos, “Orar a Deus é pensar nele, se aproximar dele e colocar-se em comunicação com ele. Pela prece pode-se propor três coisas: louvar, pedir e agradecer. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras”.

Falando sobre os poderes de Deus, Humberto de Campos relata que Simão Pedro, cuja sogra fora curada por Jesus, pressionado pela família para obter favores excepcionais junto ao Senhor, perguntou-Lhe:

- Mestre, será que Deus nos ouve todas as orações? E Jesus respondeu-lhe:

- Não tenhas dúvida: todas as nossas orações são ouvidas...

- Se Deus ouve as súplicas de todos os seres, por que tamanhas diferenças de sorte? Por que razão sou obrigado a pescar, quando Levi ganha bom salário no serviço dos impostos. Como explicar que Joana disponha de servas numerosas, quando minha mulher é obrigada a plantar e cuidar de nossa horta?

- Pedro, precisamos não esquecer que o mundo pertence a Deus e que todos somos seus servidores. Os trabalhos variam conforme a capacidade do nosso esforço. Todo trabalho honesto  é de Deus. Achas que uma casa estaria completa sem as mãos abnegadas que lhe varrem os detritos? Se todos os filhos de Deus se dispusessem a cobrar impostos, quem os pagaria? Assim, Pedro, precisamos considerar, em definitivo, que somos filhos e servos de Deus, antes de qualquer outro título convencional, dentro da vida humana. Necessário é, pois, que disponhamos o nosso coração a bem servi-lo, seja como rei ou como escravo, certos de que o Pai nos conhece a todos e nos conduz ao trabalho ou à posição que mereçamos.

- Mestre, disse Pedro, como deveremos interpretar a oração?

- Em tudo deve a oração constituir o nosso recurso permanente de comunhão ininterrupta com Deus. Nesse intercâmbio incessante, as criaturas devem apresentar ao Pai, no segredo das íntimas aspirações, os seus anelos e esperanças, dúvidas e amargores. Essas confidências lhes atenuarão  os cansaços do mundo, restaurando-lhes as energias, porque Deus lhes concederá de sua luz. É necessário, portanto, cultivar a prece, para que ela se torne um elemento natural da vida, como a respiração. É indispensável conheçamos o meio seguro de nos identificarmos com o nosso Pai.

Entretanto, Pedro, observamos que os homens não se lembram do céu, senão nos dias de incerteza e angústia do coração. Se a ameaça é cruel e iminente o desastre, se a morte do corpo é irremediável, os mais fortes dobram os joelhos. Mas, quanto não deverá sentir-se o Pai amoroso e leal de que somente o procurem os filhos nos momentos do infortúnio, por eles criados com as suas próprias mãos? Em face do relaxamento dessas relações sagradas, por parte dos homens, indiferentes ao carinho paternal da Providência que tudo lhes concede de útil e agradável, improficuamente desejará o filho uma solução imediata para as suas necessidades e problemas, sem remediar ao longo afastamento em que se conservou do Pai no percurso, postergando-lhe os desígnios, respeito às suas questões íntimas e profundas.

Depois de alguns dias, Pedro tornou a comentar com  Jesus:

- Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas.

- E que tens pedido a Deus?

- Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de certos problemas materiais.

- Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que solicitares as bênçãos de Deus, a fim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito, receberás pela oração os bens divinos do consolo e da paz.

Um dos filhos de Alfeu, reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à pequena  comunidade ali reunida, adiantou-se para Jesus, pedindo:

- Senhor, ensina-nos a orar!

Dispondo-os então em círculo e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de luz, o Messias pronunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à Humanidade. Elevando o seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas as coisas, exclamou:

- Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. E, ponderando que a redenção da criatura nunca se poderá efetuar sem a misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das imperfeições humanas, continuou: - Venha a nós o teu reino. Dando a entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as circunstâncias, acrescentou: - Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos céus. Esclarecendo que todas as possibilidades de saúde, trabalho e experiência chegam para os homens, invariavelmente, da fonte sagrada da proteção divina, prosseguiu: - O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Mostrando que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma precisa desvencilhar-se das penosas algemas do passado obscuro pela exemplificação sublime do amor, acentuou: - Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Conhecedor, porém, das fragilidades humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna dos cristãos contra o mal, terminou a sua oração, dizendo com infinita simplicidade: Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo o mal, porque teus são o reino, o poder e glória para sempre. Assim seja.

Levi, o mais intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, para que a prece do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples. A rogativa de Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do Cristianismo nascente.

Desde aquele dia memorável, a oração singela de Jesus se espalhou como um perfume dos céus pelo mundo inteiro. (Boa Nova, Espírito Humberto de Campos e médium Chico Xavier)