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terça-feira, 21 de agosto de 2012


                   Bem-aventurados os Pobres de Espírito

                       Cap. VII, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

       Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus.

Então, a mãe dos filhos de Zebedeu(Salomé) se aproximou dele com seus dois filhos e o adorou, dando a entender que lhe queria pedir alguma coisa. Disse-lhe ele: - Que queres? Manda, disse ela, que estes meus dois filhos(Tiago e João) tenham assento no teu reino, um à tua direita e o outro à tua esquerda. Mas, Jesus lhe respondeu: Não sabes o que pedes; podeis vós ambos beber o cálice que eu vou beber? Eles responderam: Podemos. Jesus lhes replicou: É certo que bebereis o cálice que eu beber; mas, pelo que respeita a vos sentardes à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim vo-lo conceder; isso será  para aqueles a quem meu Pai o tem preparado. Ouvindo isso, os dez outros apóstolos se encheram de indignação contra os dois irmãos. Jesus, chamando-os para perto de si, lhes disse: Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes as tratam com império. Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; e aquele que quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso  escravo; do mesmo modo que o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos.
Por essa ocasião, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: Quem é o maior no reino dos  céus? Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: - Digo-vos, em verdade que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe.
Disse, Jesus, estas palavras: - Graças te dou, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos.  (Mateus, 5:3; 18: 1-5; 20: 20-28; 11:25)

Segundo Allan Kardec, “por pobres de espírito Jesus não entende os baldos de inteligência, mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino dos céus e não para os orgulhosos. Os homens de saber e de espírito, no entender  do mundo, formam geralmente tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando sobre si mesmos os seus olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa tendência de se acreditarem superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar até mesmo a Divindade. Ou, se condescendem em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação providencial sobre as coisas deste mundo, persuadidos de que eles são suficientes para bem governá-lo. Tomando a inteligência que possuem para medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem crer na possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as sentenças que proferem. Se se recusam a admitir o mundo invisível e uma potência extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance, é que o orgulho se lhes revolta à ideia de uma coisa acima da qual não possam colocar-se e que os faria descer do pedestal onde se contemplam. Daí  o só terem olhos de mofa para tudo o que não pertence ao mundo visível e tangível. Eles se atribuem espírito e saber em tão grande cópia, que não podem crer em coisas, segundo pensam, boas apenas para gente simples, tendo por pobres de espírito os que as tomam a sério. Entretanto, digam o que disserem, forçoso lhes será entrar, como os outros, nesse mundo invisível de que escarnecem. É lá que os olhos se lhes abrirão e eles reconhecerão o erro em que caíram. Deus, porém, que é justo, não pode receber da mesma forma aquele que lhe desconheceu a majestade e outro que humildemente se lhe submeteu às leis, nem os aquinhoar em partes iguais”.

O grão de mostarda, o trigo, o carvalho, o pólen das flores, todos são importantes na Terra. O grão de areia se anula ante outro para construir a praia imensa que recebe as ondas do mar carinhosamente. Tudo é importante diante de meu Pai...
Entre os homens, o maior é sempre aquele que se esquece de si mesmo, tornando-se o melhor servidor, aquele que não se cansa de ajudar...
Aquele que, dentre vós, desejar ser o maior, o mais importante, o mais amado, torne-se o melhor servidor, o mais atento amigo, sempre vigilante para ajudar e desculpar, porque esse, sim, fará falta, será notado quando ausente, se tornará alicerce para a construção do edifício do Bem.(Até o Fim dos Tempos-Espírito Amélia Rodrigues, médium Divaldo Franco)
Por que Jesus se vale de uma criança como modelo para alcançar o Reino de Deus? Primeiramente está a ideia de humildade, de pequenez. Não será com arrogância e com violência que se ganhará o Reino de Deus, mas com doçura  e desejo de servir. O conquistador do Reino de Deus é aquele que serve antes de ser servido. É aquele que, como Jesus, é capaz de lavar os pés empoeirados do homem comum. É preciso ser puro de coração como uma criança para alcançar o Reino de Deus. A criança, enquanto não está contaminada com a maneira hipócrita de viver da maioria dos adultos, fala sempre com muita sinceridade, porque ainda não aprendeu a mentir.

Conta-se que dois espertalhões, desejando ganhar dinheiro às custas de um rei, foram até o palácio e propuseram ao monarca o seguinte:  Faremos para o senhor uma roupa mágica, tecida com fios divinos, tirados do tear dos deuses. Essa roupa, entretanto, só poderá ser vista por pessoas honestas, que não corrompem nem são corrompidas, pessoas verdadeiras e leais à Vossa Majestade. Assim, o senhor saberá quem lhe é fiel e quem não é. O rei gostou da ideia e deu prazo de 5 dias para que a roupa fantástica fosse feita. No segundo dia, o rei que estava curioso sobre a roupa, mandou um de seus ministros inspecionar a oficina. O ministro, que não era honesto, contou ao rei que a roupa estava ficando muito bonita. A farsa continuou até que a roupa, pronta, foi levada ao rei que, também não a vendo, acreditou que ele próprio não era tão honesto quanto imaginara. Então, o rei decidiu fazer um grande teste: sairia pelas ruas com a sua roupa nova, conhecendo, assim, o caráter de seus súditos. A comitiva, com banda, deixou o castelo e marchou por toda a cidade e todos que a viam diziam para o rei ouvir: “Que bela roupa!” “Nunca vossa majestade esteve tão bem vestido!” Ao passar por uma praça, entretanto, uma criança gritou muito admirada:  “O rei está nu”.

A criança é sincera, franca e honesta até que aprende com  os adultos a ser mentirosa, desonesta, insincera. E Jesus quer de nós essa pureza da criança, esta franqueza natural, sem hipocrisia.

Há, entretanto, uma vaidade que se veste com a capa da humildade para enganar as pessoas menos perspicazes. Conta-se que na cidade de Atenas o filósofo Glauco adorava passar por humilde, usando sempre um velho manto. Certo dia, encontrou-se com Sócrates que, ao vê-lo, comentou: “Oh! Glauco, vejo a tua vaidade me espreitando pelos buracos de teu manto”. Existem pessoas que, como Glauco, vestem-se mal, tentando demonstrar humildade. Os humildes raramente se dão conta do seu modo de ser. 

Albert Einstein foi convidado pela rainha Juliana para um almoço e ele não compareceu. Bem depois do horário, um homem insistia em falar com a rainha. Ela perguntou-lhe o que havia ocorrido e por que chegara atrasado. Ele disse que o motivo era que viera de ônibus. Então ela disse que mandara uma comitiva, inclusive com banda. - E o senhor não viu? – Vi. Mas era para mim? (Evangelho e Qualidade de Vida-José Carlos Leal)
Existe muita confusão entre humildade e pobreza. Por não entender esta frase de Jesus, em tempos passados, muitos cristãos se desfizeram de seus bens materiais, chegando ao absurdo da miserabilidade, isto é, se tornaram mendigos, imaginando que iriam direto para o Céu. Sendo o dinheiro neutro, podendo ser usado para o Bem e para o Mal, não significa que quem não o tem seja melhor do que o tem em quantidade.

A humildade não tem nada a ver com o dinheiro ou situação econômica. No momento em que entendermos que tudo pertence a Deus, então, estaremos em condições de perceber e ingressar no Reino de Deus. E Jesus já nos ensinou que o Reino está dentro de nós, quando estabelecermos plena sintonia com a fonte da Vida.
A simplicidade, então, é fundamental para o ingresso no Reino. Somente o homem humilde tem liberdade total.
A pessoa humilde naturalmente tem aspirações. Contudo, ela não se apega.
Aquele que ultrapassa os limites, querendo sempre mais, torna-se escravo. As aspirações que deveriam ser parte de nossas vidas, tornam-se a finalidade dela. Quando tem sucesso nos negócios, chega ao ponto de não ser mais nem dono de si, tal o envolvimento com a administração de tanta coisa. Outros tornam-se doentes porque não casaram, ou porque não têm filhos, ou não se curam de certos males, ou não tem sucesso na vida. (A Voz do Monte-Richard Simonetti)

Diz-nos o Espírito Públio que o homem já demonstrou que tem força e coragem para trucidar o semelhante, para diminuí-lo em busca do próprio sucesso, para desprezar-lhe as lágrimas, a fome, o desencanto e o desespero como se fossem ruídos de alguma turbulência ao longe, no horizonte. Precisará demonstrar agora, que possui coragem para reverenciar os chamados perdedores da vida. Para elevar-lhes a condição humana ao patamar da dignidade mínima garantida a todas as criaturas sobre a Terra e que compete aos que se consideram maiores ajudar, proteger e promover.
Aprender a ser pequeno é a tarefa que se impõe aos que desejam ser grandes sempre e que já perceberam que todas as suas glórias não foram capazes de trazer a paz ou a felicidade.
Pequenez que não significa miséria material, conduta exterior de humilhação, pobreza moral ou qualquer manifestação externa de debilidade, mas uma consciência que toda grandeza transitória no mundo decorre diretamente da permissão de Deus para que se estabeleça no caminho de alguém por algum tempo.
Sobretudo um comportamento interior de respeito a todos os que a vida não pode enaltecer com o sucesso. Uma mão estendida aos que estão caídos pelos fracassos a que foram expostos pelas contingências da jornada evolutiva ou por suas próprias deficiências.
O gesto que ergue para educar o caído, que ampara o fraco com o respeito fraterno que não humilha, que oferece ajuda sem impor o peso da vergonha sobre o que já se entregou à derrota.
Sentir a misteriosa inspiração para ser pequeno diante dos que o mundo despreza por não terem sido os que ganharam as disputas na qual todos estão engalfinhados cegamente é começar a se aproximar da verdadeira ventura da alma.
Devolver alegria e esperança à multidão dos falidos da emoção, aos esfarrapados morais, aos vitimados pelas tragédias sociais será tarefa que permitirá que cada uma dessas pequenas e mirradas plantinhas se voltem, novamente, para o Sol e, crescendo o quanto possam, com a sua ajuda, ofereçam algumas pequenas sementes na hora da colheita.
Entender o que significa servir é a única vitória consistente para a alma arrogante e ambiciosa, que perceberá que nenhuma ambição pessoal lhe permitirá a ventura sentida pelo menor gesto de altruísmo sincero em favor dos derrotados.
Não é pelo parâmetro mundano que as leis do Universo regem seus filhos.
Não é pelas glórias luminosas de alguns instantes fugazes que as criaturas são avaliadas no céu das grandezas celestes.
E, se  é verdade que o homem pode produzir luzes fulgurantes com pólvora e tecnologia, observamos que um vaga-lume produz, sozinho, mais luz em si e por si mesmo do que ele, o poderoso ser humano.
Aprender a servir, eis a maneira de produzir luz e felicidade próprias, como Jesus ensinou. (Jesus no Teu Caminho-Espírito Públio, médium André L. Ruiz)

segunda-feira, 6 de agosto de 2012


Honrai a Vosso Pai e a Vossa Mãe

Cap. XIV, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

Por que muitos filhos abandonam seus pais?

Por que temos que dar atenção aos nossos pais?

Sabeis os mandamentos: não cometereis adultério; não matareis; não roubareis; não prestareis falso testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso pai e a vossa mãe. (Marcos, 10:19; Lucas, 18:20; Mateus, 19:18-19)

Honrai a vosso pai e a vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos dará. (Decálogo: Êxodo, 20:12)

Explica-nos o Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que não pode amar ao próximo aquele que não ama a seu pai e a sua mãe. Mas, o termo honrai significa um dever a mais para com eles, ou seja, a piedade filial. Quis o Senhor mostrar, por esta forma, que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de cumprir-se  para com eles, de modo ainda mais rigoroso, tudo o que a caridade determina ao próximo em geral.

“Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora procurando falar-lhe. Alguém lhe disse: Eis a tua mãe e os teus irmãos que estão aí fora e procuram falar-te. Jesus respondeu àquele que o avisou: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E apontando para os discípulos com a mão, disse: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, irmã e mãe.

(Mateus, 12: 46-50)

 “Os laços de sangue não criam forçosamente os liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é o pai quem cria o Espírito de seu filho, ele mais não faz do que lhe fornecer o invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.

Não são os da consanguinidade os verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Foi o que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito...”

A Tradição dos Anciãos

Nos textos de Marcos e Mateus encontramos o seguinte: “Então chegaram a Jesus uns fariseus e escribas vindos de Jerusalém e lhe perguntaram: Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos, pois não lavam as mãos quando comem?” Ele, porém, respondendo, disse-lhes: “E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Pois Deus ordenou: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá. Mas vós dizeis: Qualquer que disser a seu pai e a sua mãe: O que poderias aproveitar de mim é oferta ao Senhor; esse de modo algum terá de honrar a seu pai. E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus. Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios; o seu  coração, porém, está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei: Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, isso o que o contamina”.

Com a Doutrina Espírita, a nossa visão se alarga diante desta questão. Muitos filhos destinam peças no fundo para seus pais, isolando-os. Outros não visitam seus pais velhinhos, dando desculpas de falta de tempo. Pessoas idosas são jogadas em clínicas, casas de repouso, asilos...

O Espírito Públio comenta que “isto não os impediu de irem a festas, clubes, jogos e torneios, absolutamente inúteis para as coisas do coração. Por que não visitam os pais envelhecidos mais vezes?  Se as coisas pudessem ser vividas no seu momento devido, os funerais e os velórios não estariam cheios de consciências culpadas, acusando-se de não terem feito tudo o que poderiam e deveriam ter feito.  Por que eu não fui mais vezes vê-los? O momento é agora! Depois que tudo passa, nem fotografias, nem relíquias, nem objetos pessoais são capazes de os trazerem de volta”. (Jesus no Teu Caminho-Espírito Públio, médium André L. Ruiz)

E o Espírito Públio enfatiza, em outra obra que, “abaixo do Criador, as honras da vida devem ser atribuídas sem economias, sem mescla de mágoas, sem considerações fúteis àqueles que aceitaram contribuir com o Pai para a edificação do nosso corpo físico. Dessa maneira, aos filhos deverão estar atribuídas as obrigações que são, por se referirem aos que lhes concederam as oportunidades da existência carnal, mais do que deveres, mais do que reverências formais ou discursos de virtude. Aos genitores, mesmo àqueles que se demonstraram menos dignos depois, importa que nunca se lhes subtraia a imensa quota de méritos que lhes pertencem por terem nos recebido na vida e, à sua maneira, nos amado como podiam. Enquanto você está lendo este texto, milhares de pais estão deixando clínicas ou lugares suspeitos nos quais acabaram de renunciar ao convite de serem co-autores da vida, sócios de Deus na Terra. Quantos Gandhis, Franciscos de Assis, Chicos Xavieres, Alberts Sabins, Beethovens, Renoires, Rembrandts, Ghoets, Castros Alves, Zerbinis, Schwaitzers, Paulos de Tarsos, Luteros, Leonardos da Vincis, Pasteures, não haverão perdido a oportunidade de renascer, vendo seus futuros corpos reduzidos a uma pequenina massa disforme e sangrenta? E se seus pais tivessem escolhido isso para você? Honrai-os, mais do que amai-os. Se estão velhos e confusos, lembre-se de que foram eles que limparam suas fraldas pouco perfumadas. Se estão inválidos, lembre-se de quanto suaram para que você comesse e crescesse para ser o que é hoje. Se não produzem mais nada de recursos, transformando-se em pesos sobre suas costas, recorde-se de quantos anos você precisou da ajuda deles para atingir a maturidade da compreensão a fim de caminhar sozinho. Se voltaram a ser crianças caprichosas ou estão enfermos da razão, lembre-se do quanto suportaram as crises que você enfrentou na infância vulnerável, nas enfermidades difíceis que o atacaram, nas noites sem dormir, nos sonhos pessoais que eles deixaram de realizar para que você pudesse ser o que esperava.

Certamente, abaixo de Deus, os pais físicos ou aqueles que ocuparam seus lugares pela tutela amorosa que ofereceram a todos nós, são os nossos maiores credores silenciosos.

E como Deus, aprenderam a virtude de aceitar o nosso descaso, a nossa fuga, a nossa falta de respeito, de piedade, de atenção, resignação esta que demonstra o grau de Divindade do Amor paternal e maternal que já incorporaram a si próprios, oferecendo tudo o que de melhor possuem, apagando-se para que os que amam venham a brilhar em seu lugar. Em geral, são os únicos seres da Terra que, verdadeiramente, renunciam ao brilho próprio para brilharem através do sucesso dos filhos vitoriosos. E por isso, você só será capaz de avaliar o sacrifício que fizeram por você, quando, por sua vez, você se tornar pai ou mãe e perceber que seus filhos não conseguem vislumbrar o que significa o esforço de criá-los, no sacrifício que exigem e no trabalho que lhe dão.

Nessa hora, no entanto, costuma ser muito tarde para pedir desculpas aos seus pais, que já podem encontrar-se no Mundo dos Espíritos, vivos para a Verdade, tentando ajudá-los nos apuros que você passa na criação da prole que Deus lhe concedeu”. (Relembrando a Verdade-Espírito Públio, médium André L. Ruiz)

Muitos filhos ingratos justificam com o “eu não pedi para nascer”. Enganam-se. No Mundo Espiritual, quando é planejada a reencarnação, existe um trabalho intenso,  coordenado por nossos mentores, onde, muitas vezes, imploramos aos futuros pais, com o fito de harmonizarmo-nos com eles, evitando a rejeição, e por imperiosa necessidade de reajuste, a oportunidade de entrarmos na vida física, a fim de que a lei divina seja restaurada, pois, em vivências anteriores não soubemos nos comportar como filhos de Deus.

No livro “Os Mensageiros”, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, o autor espiritual mostra-nos o grande trabalho que tiveram amigos e mentores para aproximarem Segismundo de seu futuro pai biológico, Adelino, haja vista que, no passado, ele o havia assassinado para ficar com sua mulher, Raquel.  Agora, a lei exigia que eles se perdoassem e reparassem os danos causados no passado, pois, ninguém despreza o que foi estabelecido pelo Criador e que foi ensinado por Jesus, ao exortar que “devemos fazer aos outros tudo o que quisermos que eles nos façam”, e, agora, nestes últimos tempos, muito bem esclarecido pelo Espiritismo.

A Fama de Rico

O Coronel Manoel Rabelo, influente fazendeiro no Brasil  Central, fora acometido de paralisia nas pernas. Vivia no leito, rodeado pelos filhos atentos. Muito carinho. Contínua assistência. No decurso da doença veio a conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos horizontes à vida mental. Pouco a pouco desprendia-se da ideia de posse. Para que morrer com fama de rico? Queria agora a paz, a bênção da paz. Viúvo, dono de expressiva fortuna e prevendo a desencarnação próxima, chamou os quatro filhos adultos e repartiu entre os seus bens. Terras, sítios, casas, animais, avaliados em seis milhões de reais, foram divididos escrupulosamente. Com isso, porém, veio a reviravolta. Donos de riqueza própria, os filhos se fizeram distantes e indiferentes. Muito embora as rogativas paternas, as visitas eram raras e as atenções inexistentes.

Rabelo, muito triste e quase completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não havia cometido precipitação ou imprudência. Os filhos não eram Espíritas e mostravam irresponsabilidade completa. Nessa conjuntura, apareceu-lhe antigo e inesperado  devedor. O Coronel Antonio Matias, seu amigo da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultoso, que havia tomado sob palavra, e pagou-lhe dois milhões de reais em cédulas de contado. Na presença de dois dos filhos, Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama. Sobreveio o imprevisto. Os quatro filhos voltaram às antigas manifestações de ternura. Revezavam-se junto dele. Papas de aveia, caldos de galinha, frutas e vitaminas. Mantinham cobertores quentes e fiscalizavam a passagem do vento pelas janelas. Raramente Rabelo ficava algumas horas sozinho. E, assim, viveu ainda dois anos, desencarnando em grande serenidade.

Exposto o cadáver à visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e, abrindo aflitivamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado pela vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

O papel assim dizia:  “Meus filhos, Deus abençoe vocês todos. O dinheiro que me restava distribui entre vários amigos para obras Espíritas de caridade. Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo quarto de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

E os quatro, extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:

“Honrai a vosso pai e a vossa mãe – Piedade Filial” (Almas em Desfile-Hilário Silva- Waldo Vieira)

O Valor do que falta

Todos os dias a pobre mãe, apesar dos parcos recursos que detinha, oferecia, com o mais extremado carinho, a alimentação ao filho. Nessas ocasiões, sentava-se à mesa e conversava com ele, relacionando os acontecimentos do dia e lhe perguntando como tinha sido o seu...  A tudo isso, o jovem correspondia com enfado, em monossílabos, insatisfeito. No entanto, a mãe continuava com os seus comentários em torno das dificuldades enfrentadas, mas realçando a esperança que tinha no Deus de misericórdia que, com certeza, lhe traria dias melhores. O filho não suportava mais, terminava o alimento sem uma palavra sequer de conforto, dirigindo-se logo para o seu quarto ou ligando a televisão para ouvir o noticiário e não mais dar atenção à genitora, fazendo-a notar o seu completo desinteresse pelos assuntos do dia. A infeliz velhinha, percebendo o cansaço  do rapaz, punha-se a afagar-lhe a espessa cabeleira e, em pensamento, orava por sua felicidade, para logo após recolher-se ao sono físico.

Aconteceu que aquela nobre senhora adoecera rapidamente, desencarnando em poucas horas, sem tempo de despedir-se do filho, que estava entregue aos afazeres cotidianos. Ao chegar em casa, o jovem surpreendeu-se... Sua mãezinha havia partido para o mundo invisível...  Sem crença alguma, apesar dos princípios da fé materna, no velório e no enterro portou-se quase indiferente. Ouviu os comentários dos religiosos, mas não se deixou comover. Achava a vida assim mesmo, ingrata, cujo final era a morte.

Chegando em sua residência, sentou-se à mesa e já não viu mais aquele prato quente de comida, olhou a cadeira à sua frente e não mais avistou nem percebeu a mãe, nem lhe ouviu a voz meiga comentando as ocorrências, nem obteve mais de seus lábios as perguntas em torno do seu dia, de sua rotina. E sem que notasse sentiu que grossas lágrimas desciam de seus olhos... Chorou, chorou muito, pensando no tempo que perdeu em não retribuir à sua mãe o mesmo carinho e dedicação de que era objeto...

Apesar disso, dessas reflexões amargas, ao seu lado lá estava, como dantes, silenciosa, sem ser vista, sua mãe afagando-lhe os cabelos e orando por sua paz...

Em muitas situações somos ingratos, ignorando as oferendas do Pai Celeste às nossas existências. E somente quando perdemos esses recursos é que sabemos perfeitamente o valor do que falta...  (Valérium, in “Contos do Invisível”, de Nilton Sousa)

Filha Rebelde

Dona Matilde sempre dizia para sua filha Emilinha que era preciso atender ao problema espiritual, buscando a luz do Cristo porque a vida na Terra oferecia inúmeras surpresas, ocasionando a queda das almas desprevenidas. Emilinha, gargalhava e dizia:

- Ora, mãe, não necessito de sermões. Seus conselhos são muito antiquados, suas observações são descabidas e eu sou dona da minha vontade, faço o que entendo.

- Sim, filha, mas o cuidado materno obriga-me a esclarecê-la. Quem é mãe sofre muito por desvelar-se junto dos filhos...

- Não precisará desfiar o rosário de lágrimas. Para quê?

Era assim a situação entre D. Matilde e a filha mais velha, tratando-a com dureza, inclusive na presença de visitas, humilhando-a a todo instante, o que fez com que D. Matilde se retraísse, ficando calada.

Quando D. Matilde comentava sobre ensinamentos evangélicos, Emilinha debochava e dizia que não acreditava em reencarnação, dizendo que não passamos de experiência biológica da Natureza e que o resto é ilusão, puro fanatismo religioso.

E Emilinha fez no mundo o que lhe pareceu melhor,  contraindo pesados débitos, surda às advertências maternas.

O tempo, a dor e a morte são os cobradores da realidade. Emilinha, porém, foi morar no Umbral. Sua mãe visitava-a frequentemente, mas ela não notava a sua presença por trazer a mente absorvida por negras visões e vozes angustiadas. Anos se passaram, quando D. Matilde deliberou voltar à esfera carnal. Solicitou ao Alto amparo para tal e, pela primeira vez, após a separação, Emilinha pode ver a mãe. D. Matilde falou-lhe do projeto de retornarem ambas à Terra e Emilinha considerou:

- Mamãe, me aceitaria de novo ao seu lado?

- Como não, minha filha? Se o Senhor permitir, reconstituiremos nosso velho lar...

- Prometo compreendê-la... disse a filha em pranto.

Nesse instante, fez-se visível o diretor daquela região de sofrimento retificador. Emilinha rojou-se aos pés, rogando:

- Emissário de Jesus, que me conheceis os padecimentos, ajudai-me para que eu possa voltar à Terra em companhia de minha mãe. Pelo amor de Deus, permiti a minha volta! A sábia entidade contemplou-a fraternalmente e falou:

- No momento, minha irmã, não lhe será possível retirar-se daqui. Ainda precisará desgastar por alguns anos os envoltórios inferiores que criou em torno de si mesma. Seus atuais veículos de manifestação não lhe permitem por enquanto, a vida em zona menos pesada que esta. Mais tarde poderás voltar a viver ao lado de Matilde, ouvindo-lhe os conselhos cristãos.

Emilinha, que não cabia em si de contente, elevou as mãos ao Céu e exclamou: - Graças a Deus!

O diretor espiritual, contudo, retomou a palavra e terminou:

- Não poderá, todavia, voltar à situação de parentesco que já passou. Não tens títulos de serviço prestado que a autorizem, agora, a regressar como filha de Matilde, mas retornarás ao mundo como criada humilde da sua residência, para que na verdadeira condição de obediência, aprenda a valorizar o tesouro que Deus lhe concedeu.(Pontos e Contos-Humberto Campos e C. Xavier)

Bem-aventurados os Aflitos

Cap. V, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados. Bem-aventurados os famintos e os sequiosos de justiça, pois que serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, pois que é deles o reino dos céus. (Mateus, 5:4, 6-10)

Bem-aventurados vós, que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis saciados. Ditosos sois, vós que agora chorais, porque rireis.(Lucas, 6:20-21)

Ensina Allan Kardec que “somente na vida futura podem efetivar-se as  compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra. Sem a certeza do futuro, estas máximas seriam um contra-senso; mais ainda: seriam um engodo. Mesmo com esta certeza, dificilmente se compreende a conveniência de sofrer para ser feliz. Mas, então pergunta-se: por que sofrem uns mais do que outros? Por que nascem uns na miséria e outros na opulência, sem coisa alguma haverem feito que justifique essas posições? Por que uns nada conseguem ao passo que a outros tudo parece sorrir? Todavia, o que ainda menos se compreende é que os bens e os males sejam tão desigualmente repartidos entre o vício e a virtude; e que os homens virtuosos sofram, ao lado dos maus que prosperam. A fé no futuro pode consolar e infundir paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus. Entretanto, desde que admita a existência de Deus, ninguém o pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é soberanamente bom e justo, não pode agir com capricho, nem com parcialidade. Logo, as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois, que Deus é justo, justa há de ser essa causa. Isso é o que cada um deve bem compenetrar-se. Por meio dos ensinos de Jesus, Deus pôs os homens na direção dessa causa, e hoje, julgando-os suficientemente maduros para compreendê-la, lhes revela completamente a aludida causa, por meio do Espiritismo, isto é, pela palavra dos Espíritos.

Kardec ensina que os problemas da vida originam-se de duas fontes: uns têm causa nesta vida e outros fora desta vida.

Causas Atuais das Aflições

Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos! Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma! Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade! Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!”

Ensina o Prof. Raul Teixeira que, “no campo das aflições da criatura humana, podemos identificar causas que são criadas agora. Muita gente chora, se lamenta. Há muitos que se desesperam diante dos problemas, dos tormentos, das dificuldades que estão lhes assoberbando a vida na atualidade, nesses dias. Quase nunca essas mesmas pessoas se apercebem de que esses sofrimentos, essas aflições, esses problemas pelos quais estão passando foram criados agora, nesta mesma vida, nos tempos da nossa trajetória terrestre. Uma das causas mais pungentes de aflições é o temperamento. Meu Deus! Quantas são as pessoas que têm temperamentos fortíssimos. São ditas pessoas de pavios curtos. Há outras que nem pavios têm, explodem por qualquer coisa. Então, são pessoas mal vistas, não são queridas, onde chegam os outros saem. E isso é motivo de tormento, de aflição. Mas, por causa delas mesmas. Existem outras que afirmam não levar desaforos para casa e, por qualquer coisa, estouram. Outras afirmam que são muito boas, mas que ninguém pode pisar-lhes os pés, outras dizem... outras dizem tantas coisas para justificar o injustificável.

Eu dou um boi para não entrar na briga; dou uma boiada para não sair da briga. São pessoas temperamentais, estranhas criaturas. Vão gerando em torno de si medo em algumas, raiva em outras, indiferença em várias. Ao mesmo tempo, geram reações similares de outros que também tenham pavios curtos, não tenham pavios ou que também são muito boas enquanto não tenham os pés pisados. Afinal de contas, vivemos na Terra em busca da felicidade, em busca da nossa integração com Deus e com Suas Leis. Não importa se não se é religioso, se não se frequenta instituição religiosa, se não se participa de circuitos religiosos, Deus é o Pai do Universo. Não nos importa como Ele seja chamado. Ele é o Pai do Universo, é o Grande Criador. E o nosso compromisso, nesta vida, é nos ajustar às Suas Leis. Então há muitos sofrimentos, muitas aflições geradas por causa do nosso temperamento. Pessoas explosivas, pessoas que se fecham, ao invés de conversar, de discutir, de dizer o que é que lhes está incomodando. Elas se fecham e agem com raiva, com mágoa, com ódio, sem dizer uma palavra. Quando se lhes perguntam: Há algum problema? - elas dizem: Não, está tudo bem. Mas neste está tudo bem, vai a marca da sua indisposição interior.

Também há problemas, aflições nesta atualidade, que são pendentes dos vícios que adquirimos. Quantos vícios! Uma criatura que aprendeu a fumar desde novinha, dali há poucos anos estará com asma, com bronquite, com enfisema pulmonar e quem sabe com câncer. Estará transpirando mau odor, o tabaco na circulação sanguínea.

Quantas são as enfermidades, amputações, degenerescências orgânicas por causa do tabagismo. Não é Lei de Deus ter que fumar, não foi uma imposição da Divindade ter que fumar, mas há liberdade, o livre arbítrio. Nesta mesma vida, o indivíduo começou a usar essa droga, o tabaco e foi adoecendo o corpo, foi mutilando o corpo.

Então, é natural que nós identifiquemos nesses indivíduos todos, aqueles que estão provocando aflições para suas vidas, nesta atualidade, nesta mesma existência.

Há aqueles que usam alcoólicos e vão na mesma direção. Bebem porque bebem. Afirmam mil coisas: bebem por alegria, bebem por tristeza, bebem porque está quente, bebem porque o tempo está frio.

Bebem porque bebem e vão gerando desgastes orgânicos, problemas neurológicos, dificuldades sociais que começam na família, atormentada com uma pessoa alcoólatra ou alcoólica, como se diz atualmente.  Começamos a verificar que há muitas aflições cujas causas estão na nossa vida presente, fazem parte da nossa atualidade e cabe a nós ter precaução e evitar gradativamente.

Existem situações que, verdadeiramente, são dispensáveis. Há coisas que não se precisa viver aqui, agora, não precisa sofrer nesta existência.

Recordo-me de um episódio que acompanhei de perto, porque se tratava de uma pessoa de minhas relações, que demorou muito a se casar. Era uma jovem, professora e demorou a se casar porque queria encontrar o par ideal. Casou-se com um homem mais maduro que ela mas de um temperamento muito explosivo, daqueles intolerantes. Casaram-se, viveram felizes alguns meses. Ela engravidou, nasceu-lhe o bebê e quando o bebê contava três meses de idade, era fim de ano e o casal resolveu ir a um comércio para comprar um refrigerador de maior tamanho, para atender à família que estava começando a crescer. Saíram, fizeram as compras e voltaram para casa. Ele dirigindo o carro e ela, ao lado, com a criança nos braços. Numa determinada rua da cidade, um taxista fechou-lhe o carro, por inadvertência desses profissionais que trabalham de qualquer jeito. Fechou-lhe o carro e ele, naquela aflição, naquela agonia, imaginou que o taxista tivesse feito de propósito. Acelerou seu veículo, foi atrás do taxista, cercou-o e abriu a porta do carro. Era para discutir, era para brigar, mas o taxista imaginou que ele fosse ser agredido, tomou da arma no porta-luvas do táxi e descarregou sobre o pai de família. Matou na hora e a esposa teve que criar o filho a sós, sofrer a dificuldade da viuvez e de todos os comprometimentos decorrentes disso. O outro homem, na prisão. E a vida seguiu seu curso.

Não haveria nenhuma necessidade dessa criança ser criada órfã, dessa mulher ficar viúva, desse taxista ser preso, se não fosse o temperamento e uma atitude infeliz de uma pessoa tensa, de temperamento tenso.

São as causas atuais das aflições. Quantas são as pessoas que vão limpar a janela do prédio, do edifício, sem qualquer instrumento de segurança?

Dependuram-se nas janelas e caem. Não foi Deus que fez, não estava na hora. São suicídios indiretos.

Quantas são as criaturas que bebem alcoólicos e apanham o carro para dirigir. Elas podem se matar, podem matar os outros, podem provocar tragédias inomináveis na sociedade. Aflições geradas, agora, pela inadvertência, pela incúria, pela má vontade, pelo temperamento rebelde de alguém que entendeu que o álcool em si não teria o mesmo efeito que tem sobre todas as demais pessoas. Então começamos a perceber que há muitas aflições que geramos agora.

Aqueles pais que não educam bem aos seus filhos e, desde cedo, vão lhes ensinando a devolver violência com violência, a brigar nas ruas, a não levar desaforos para casa, a tirar proveito de tudo, a passar por cima de todo mundo para conquistar seus objetivos em nome da esperteza, logo mais, esses pais estarão sofrendo tanto, porque a polícia virá à sua porta dizer que eles mataram índios, incendiaram índios pensando que eram mendigos, bateram em empregadas domésticas, supondo que fossem meretrizes, como se mendigos e meretrizes devessem apanhar da classe média ou de quem quer que seja. A educação que receberam. E tanto é verdade que são esses mesmos pais, que já deflagraram esse processo horrível de deseducação ou de má educação, que vão em busca de profissionais corruptos para defender seus filhinhos dos crimes que eles próprios ensinaram.

É tão estranha a criatura humana quando se distancia das Leis de Deus, quando não presta atenção no mundo que é, por si mesmo, de provas e de expiações, que nos cabe amaciar, vivendo melhor. Como é que me aproveitarei de qualquer que seja a situação de minha vida para piorar a minha condição?

É preciso ter muito cuidado para que não geremos nestes dias de nossa vida aflições que teremos que sofrer nestes dias de nossa vida.(Prof. Raul Teixeira)

Causas Anteriores das Aflições

E Kardec continua: “Mas, se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença, sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc. Os que nascem nessas condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para mudar por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois, seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma família, outros são favorecidos de todos os modos?

Todavia, em virtude do axioma segundo o qual todo o efeito tem uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, o efeito precedendo sempre a causa, se esta não se encontra  na vida atual, há de ser anterior a essa vida, isto é, há de estar numa existência precedente.”

E o Prof. Raul Teixeira prossegue: “Há muitas coisas na existência que nos causam dúvidas curiosas.

Há muita coisa que se não sabe de onde é que vem, porque acontece, como é que ocorre.

Basta olharmos as nossas crianças. Desde novinhas, demonstram coisas curiosas para nós, nos dizem coisas que nunca lhes ensinamos, apresentam situações que nunca esperamos.

Crianças que nascem microcéfalas, com o crânio reduzido; macrocéfalas, com o crânio ampliado; crianças que nascem sem cérebro, anencéfalas; crianças que nascem surdas, mudas, que ficam paralíticas, sem nenhuma razão exterior palpável.

As mães fizeram pré-natais notáveis, sérios, com bons médicos e os filhos nascem com lesões irreversíveis.

Encontramos situações para as quais não vemos explicações imediatas na vida que temos.

Por que é que nascem crianças em Nova York, em São Paulo, em Tóquio, que não lhes falta nada e nascem outras em Serra Leoa, na Libéria, nos confins do Nordeste brasileiro às quais falta tudo?

Qual é a visão que temos dessas questões, se considerarmos as Leis de Deus? Por que é que Deus faz isto?

Por que nascem crianças com todas as possibilidades de se desenvolver e nascem outras para as quais falta tudo? As dificuldades homéricas para que se desenvolvam...

Como é que nascem crianças ricas, poderosas e outras miseráveis, famélicas? Como explicar essas coisas?

Essas crianças não fizeram nada para merecer isso.

A voz popular diz que são verdadeiros anjinhos e uma mãe retém, nos seus braços, um anjinho marcado por doenças incuráveis ou por doenças gravíssimas tendo ela feito tudo o que era preciso fazer durante a gestação, tendo ela todo o amor do mundo para dar ao seu neném. O que é que acontece?

Ficamos pensando nesses problemas para os quais não achamos explicações agora, nesta atualidade do mundo, mas nem por isso menos aturdentes.

São situações grotescas mesmo. Como é que uma criança é violada? É violentada e morta? Como se justifica isto?

Somente na fereza do adulto que fez? Como é que podemos justificar isso, se consideramos as Leis de Deus Leis de perfeição?

Isso faz com que muita gente estabeleça não crer mais em Deus porque seria impossível admitirmos esse Deus justo, amoroso, bom, paternal, Pai de toda a Humanidade, admitindo a unicidade das vidas. Chegamos na Terra uma vez só, vivemos na Terra uma vez só. Se for assim, a vida não merece ser vivida.

Essa miséria toda que se espalha no mundo, ao lado dessa riqueza toda que o mundo guarda. Deus, de fato, não poderia existir.

O que acontece é que, às vezes, nos falta esse olhar para compreendermos que não estamos na Terra por primeira vez, nem pela última vez.

Adotar a visão milenar reencarnacionista, não aquela que, por exemplo, têm os nossos irmãos indianos de que um familiar pode nascer num rato, num bicho qualquer, como havia na Grécia a ideia da metempsicose; seres humanos que podiam nascer em corpos de plantas ou de bichos. Não, não é por aí.

Admitimos, sim, que as almas voltam para habitar novos corpos, para viver de novo na Terra, mas em corpos humanos e, nesses corpos humanos é que elas terão que dar conta do que desarranjaram no seu passado, quando viveram em outros corpos humanos.



Diante dessas situações, temos que admitir que não existe uma única existência na Terra, não existe uma única vida na Terra.

Lembramos do texto do Evangelista João, no seu capítulo terceiro, onde há uma conversa entre Jesus e o Rabi Nicodemos quando Ele diz que: Aquele que não nascer de novo, não verá o Reino dos Céus.

Nicodemos pergunta ao Mestre Jesus: Como pode um homem, sendo velho, voltar ao ventre de sua mãe para tornar a nascer?

Nicodemos tinha entendido, não tinha admitido que pudesse acontecer isso. Como é que um homem velho...?

E Jesus Cristo redargue:

Aquele que não nascer da água e do Espírito, não verá o Reino dos Céus.

Naturalmente que, ao longo das idades, já no século XX, os cientistas demonstraram que um corpo físico é um corpo de água. Demonstraram que a vida orgânica nasceu no seio das águas, ainda nos tempos remotos da Terra.

E nascer do Espírito é essa renovação que o corpo físico nos permite viver.

Estamos num corpo físico para aprender a iluminar o Espírito, para trabalhar essa questão da alma.

Então aqueles equívocos, aqueles erros que perpetramos em outras vidas, em outras existências, não se apagaram.

Mas não foi outra pessoa que viveu esse passado?

Sim, foi outra pessoa, mas o mesmo indivíduo.

A pessoa, a personalidade é a máscara; Persona, do latim, quer dizer máscara, cara.

Em cada existência, mudamos de face, mudamos de cara, mudamos de persona, mudamos a personalidade, mas é o mesmo indivíduo mudando de caras, mudando de máscaras. Quando trocamos de roupa, não deixamos de ser quem somos.

Então, os erros que cometemos no passado voltam conosco. Estamos de roupa nova, mas a alma é a mesma e temos que dar conta disto.

Os acertos que tenhamos feito no passado também retornam conosco.

É por isso que já merecemos uma sociedade com progressos, já temos luz elétrica, já temos vacinas, já temos remédios, já temos uma moradia boa.

Isso tudo corresponde ao bem que já espalhamos na Terra, ao bem que já fizemos na Terra, às realidades luminosas que inauguramos na Terra.

No entanto, os erros cometidos, os enganos perpetrados, Cristo disse: Só saireis daí depois de pagardes o último quadrante, a última moeda.

É importantíssimo perceber que a Terra é, ao mesmo tempo, uma escola, também um hospital, também uma cadeia, dependendo daquilo que estejamos fazendo aqui.

Quem precisa continuar aprendizados que não foram concluídos no seu passado e está na Terra, a Terra se lhe mostra uma escola.

Quem não foi punido pela justiça no passado, foi esperto e escapou da lei, para esses, quando retornam, a Terra é a mão da justiça, é um presídio, é um cárcere.

Para aqueles que criaram patologias nas vivências desorganizadas do seu passado, os que se encheram de drogas, de excessos e infelicitaram a vida e saíram do corpo mais cedo, voltam à Terra e, para esses, a Terra é um hospital.

De qualquer forma, seja uma escola, um hospital, uma oficina de trabalhos, seja um presídio, a Terra é o nosso campo abençoado de oportunidades.

Tudo quanto não temos explicações na atualidade, essas explicações estão no nosso passado, nas coisas que fizemos, positivas ou negativas.

Todos estamos na Terra nascidos de novo, como lembrou Jesus.

Quem não nascer de novo, não progride, não avança, não melhora, não tem tempo para isto.

Seria terrível em uma única existência definirmos tudo. Quem vive cem anos na Terra não aprende tudo. Imaginemos quem nasce e morre, quem morre jovem não aprendeu tudo, nem no mundo do intelecto, nem no campo da moral, da ética.

É por isso que precisamos voltar à essa escola, voltar a esse cárcere, voltar a esse hospital, voltar a esse campo de aprendizados, que é a Terra.

Todas as questões para as quais não encontremos respostas hoje, essas respostas estão no ontem nosso, pessoal ou no ontem da Humanidade.” (Prof. Raul Teixeira)

 O Sofrimento Alheio

Belarmino Cintra, sentado no quinto banco do bonde, estava magoado, desesperado. Por 11 anos aguardara a promoção no trabalho correto na repartição onde estava há 20 anos, mas outro colega, que ele julgava sem condições, ocupara a vaga. Então, escrevera uma carta ao chefe ameaçando-o de inquérito escandaloso, e o chefe chamara-o a gabinete para entendimento pessoal. Não suportaria qualquer advertência. Estava revoltado e armara-se caso o chefe lhe desconsiderasse.

O bonde para por alguns minutos e, no banco da frente, uma senhora míope levanta um livro espírita que Belarmino lê a seguinte frase: - Tenha  paciência. Fitando o sofrimento alheio, aprendemos a encontrar a felicidade que é nossa. Belarmino sentiu uma ducha fria. Nisso sobe um homem pesado e senta-se no banco próximo e comenta:

- Vida penosa! Não aguento mais!

- É, meu amigo, disse outro homem que estava ao lado, cada qual neste mundo tem sua quota de aflição...

- Vida boa é de médico, disse o gordo ao passarem  em frente a um consultório médico com uma fila enorme. Os clientes lhe trazem a sopa à boca.

- O senhor está enganado. Eu sou médico. Estamos presos ao sofrimento humano. Cada enfermo é um problema... E desabafa: - Vida boa deve ser do caixeiro viajante...

- Caixeiro viajante? Não diga isso. Sou viajante comercial há 15 anos e só encontro humilhações  por toda parte, longe da família...

Belarmino prestava atenção na conversa, quando uma senhora subiu no bonde com uma criança doente, com uma faixa sanguinolenta nos olhos.

E Belarmino perguntou-lhe: - O que foi?

- Meu filhinho perdeu os olhos com a explosão de uma bomba.

Ele procura consolá-la.

Pouco depois, ele desce do bonde, transformado, e entra no gabinete da chefia. O diretor  recebe-o, evidentemente irritado. Mas, Belarmino fala humilde:

- Doutor, antes de tudo, quero pedir-lhe desculpas por minha carta violenta e ofensiva... Eu não tinha razão!

O chefe sorriu, como quem se livrara de um desastre iminente, e falou alegre:

- Oh! Graças a Deus, você entendeu por fim... As injunções políticas são pedras no caminho... Somos companheiros, Belarmino. Não perca a esperança. A promoção virá breve... Mas Belarmino sorri também, e roga:

- Doutor,  peço-lhe! Não se preocupe comigo. Eu estava perturbado.

E despediu-se tranquilo, para voltar ao trabalho.

Mas, no dia seguinte, o chefe procurou-o, com excelentes informes, e Belarmino contou-lhe a história viva da frase que lera de escantilhão. (Almas em Desfile-Espírito Hilário Silva, FCX e WV)