Páginas

segunda-feira, 12 de novembro de 2012


Bem-aventurados os que têm Puro o Coração

Cap. VIII, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

Simplicidade e Pureza de Coração

Bem-aventurados os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus. (Mateus, 5;8)

Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham. Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará. E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (Marcos, 10:13-16)

Pecado por Pensamentos – Adultério

Aprendestes que foi dito aos antigos: Não cometereis adultério. Eu, porém, vos digo que aquele que houver olhado uma mulher com mau desejo para com ela, já em seu coração cometeu adultério com ela. (Mateus, 5:27-28)

Verdadeira Pureza – Mãos Não Lavadas

Então os escribas e os fariseus, que tinham vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe disseram: Por que  violam os teus discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando fazem as refeições? Jesus lhes respondeu: Por que violais vós outros os mandamentos de Deus, para seguir a vossa tradição? Porque Deus põs este mandamento: honrai a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: seja punido de morte aquele que disser a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós outros, no entanto, dizeis: aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: Toda oferenda que faço a Deus vos é proveitosa, satisfaz à lei, ainda que depois não honre, nem assista a seu pai ou a sua mãe. Tornam, assim, inútil o mandamento de Deus, pela vossa tradição. Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando disse: Este povo me honra com os lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em vão que me honram ensinando máximas e ordenações humanas. Depois, tendo chamado o povo, disse: Escutai e compreendei bem isto: Não é o que entra na boca que macula o homem; o que sai da boca do homem é o que macula. O que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; porquanto do coração é que partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. Essas são as coisas que tornam impuro o homem; o comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna impuro. (Mateus,15:1-20)

Enquanto ele falava, um fariseu lhe pediu para que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se à mesa. O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo: Por que não lavou as mãos antes de jantar? Disse-lhe, porém, o Senhor: Vós outros, fariseus, pondes grande cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniquidades. Insensatos que sois! Aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior? (Lucas, 11:37-40)

Conforme o ensino de Jesus, todos temos um encontro marcado com Deus. A condição para podermos adentrar o gabinete do Ser Supremo é sermos puros ou limpos. Até hoje, aqui na Terra, ninguém viu, falou ou visitou Deus porque não existe ninguém puro neste planeta do Sistema Solar. Os seres que se manifestaram para todos os profetas, dentre eles Moisés e todas as pessoas que tiveram e têm contato com seres espirituais aqui na Terra  e no Espaço, viram, falaram e receberam orientações de Espíritos encarregados de transmitir as ordens de Deus. Para nós, que ainda somos muito pequenos em espiritualidade, qualquer Espírito um pouquinho mais iluminado do que nós é um anjo ou o próprio Criador.

Somente um Espírito Puro, da Comunidade dos Espíritos Puros que aqui pisou e encarnou, vê e fala com Deus. Chama-se Jesus.

Ele resolveu vir pessoalmente trazer a Segunda Revelação para a Humanidade terrestre.  Hoje sabemos o porquê de as pessoas não terem entendido a afirmativa do Cristo  de que “os puros ou limpos um dia verão a Deus”. Tanto é assim que muitos vivem a dizer que falaram com Deus, que Deus disse-lhes isto ou aquilo, ou ainda pior, que foram enviados por Ele.

Como as religiões também não entenderam as ideias de Jesus, passam para seus profitentes  a ideia de que basta cumprirem com alguns rituais e contribuírem com tantos dinheiros para suas igrejas, que irão direto para a “Mansão do Senhor” no Paraíso, ou devem aguardar dormindo o dia do Juízo Final.  Mas, quando estas mesmas pessoas penetram o Mundo Espiritual, ficam perdidas, pois não encontram o endereço da Casa de Deus. São cegos guiando cegos. E todos sabemos o resultado disso. Por que?

Simplesmente porque foram mal orientadas ou não se deram ao trabalho de raciocinar sobre o sentido das palavras de Jesus. Falta-lhes a chave para a compreensão do que é o Espírito.

A Terceira Revelação, anunciada pelo próprio Cristo, foi feita para esclarecer todos os seres que habitam este planeta, corpóreos e incorpóreos, dando continuidade aos ensinos anteriores de Jesus. Com a Doutrina Espírita, tudo muda. Aprendemos a sentir os textos. Com a ajuda dos Espíritos Superiores, incluindo Kardec, tomamos conhecimento de que somos Espíritos em evolução. Aos poucos vamos adquirindo a pureza necessária para compreendermos tudo o que nos cerca no Universo, tudo o que nos diz respeito como seres criados para sempre. Desse modo, trabalhando por milhares de anos em nosso  burilamento, no Mundo Espiritual e reencarnando na Terra  e em outros planetas, atingiremos uma tal condição de pureza que poderemos, aí sim, vermos e falarmos com o Pai Celeste. Nesse dia, que ainda está um pouco longe, pois a evolução exige tempo e experiências, estaremos realmente ao lado de Jesus e poderemos ver o Pai de Amor Infinito.

Allan Kardec, primeiramente, ensina que “a pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda a ideia de egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade. Poderia parecer menos justa essa comparação, considerando-se que o Espírito da criança pode ser muito antigo e que traz, renascendo para a vida corporal, as imperfeições de que se não tenha despojado em suas precedentes existências. Só um Espírito que houvesse chegado à perfeição nos poderia oferecer o tipo da verdadeira pureza. É exata a comparação, do ponto de vista da vida presente, porquanto a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura. Daí o não dizer Jesus, de modo absoluto, que o reino dos céus é para elas, mas para os que se lhes assemelhem “.

Pois que o Espírito da criança já viveu, por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? Tudo é sábio nas obras de Deus. A criança  necessita de cuidados especiais, que somente a ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se acresce da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é sempre um anjo e assim era preciso que fosse, para lhe cativar a solicitude. Ela não houvera podido ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça ingênua, deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as ideias de um adulto e, ainda menos, se lhe viesse a conhecer o passado.

O Espírito, pois, enverga temporariamente a túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade, quando, sem embargo da anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da pureza e da simplicidade.

Diz-nos, ainda, Allan Kardec que “a palavra adultério não deve absolutamente ser entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o mal, o pecado, tudo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo,  nesta passagem: “Porquanto se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora, o Filho do homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos santos anjos, na glória de seu Pai”. (Marcos, 8:38) A verdadeira pureza não está somente nos atos; está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração, nem sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer; ele condena o pecado, mesmo em pensamento, porque é sinal de impureza. Esse princípio suscita naturalmente a seguinte questão: Sofrem-se as consequências  de um pensamento mau, embora nenhum efeito produza?

Cumpre se faça aqui uma importante distinção. À medida que avança na vida espiritual, a alma que enveredou pelo mau caminho se esclarece e despoja pouco a pouco de suas imperfeições, conforme a maior ou menor boa vontade que demonstre, em virtude do seu livre-arbítrio. Todo pensamento  mau resulta, pois, da imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se, mesmo esse mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque ela  o repele com energia. É um indicio de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar oportunidade de satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e contente com a sua vitória. Aquela que, ao contrário, não tomou boas resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito, não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada quanto o seria se o cometesse.

Em resumo, naquele que nem sequer concebe a ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia acode, mas a repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no mal e nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua força. Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é justo, leva em conta todas essas gradações na responsabilidade dos atos e dos pensamentos do homem”.

O Espírito Públio, ao comentar este capítulo, assim se expressa: “Estrutura cruel porque baseada na insinceridade, as igrejas de todos os credos estão cheias de bandidos fantasiados de adeptos fiéis, à espera da absolvição ou da bênção para que sigam furtando o semelhante, roubando o povo, comprometendo o progresso das comunidades no rumo da própria elevação. Longe de ser o tribunal puro da consciência, os diversos altares do mundo da crença se transformaram em balcões onde negociatas se realizam entre os representantes da fé e os interessados em seu financiamento, pagando, a peso de ouro, a absolvição da própria consciência, como se isso pudesse vir de fora para dentro. Daí porque Jesus combate tanto as noções de um mundo mentiroso, perante o qual as convenções e os interesses são capazes de modificar os princípios milenares de Justiça e Honradez. E, dessa maneira, alertou para a ocorrência daquilo que se convencionara chamar de “escândalo”, como sendo a conduta incompatível com os princípios elevados e que, acomodada sob o tapete das convenções e dos interesses, vez por outra aflora com seu fétido odor e suas características purulentas, causando espanto, nojo, repulsa, pessimismo e descrença na maioria ingênua das pessoas. Afirmara que o escândalo haveria de vir, na noção lúcida daquele que afirma que, um dia, todas as ilusões deixarão cair o seu véu e a verdade virá brotar ante os olhos atônitos daqueles que se imaginavam inatingíveis. No entanto, solicita aos que o escutavam que não fossem eles os que causassem os escândalos, já que todo aquele que se conduzisse dessa maneira haveria de estar na rota do desastre, exposto a ele por si próprio. Daí seria preferível privar-se daquilo que põe em risco ou serve de tropeço para a queda dos outros do que manter-se na defesa de tais situações e terminar consumido nas suas dores e frustrações. No entanto, advertia que os escândalos não se verificavam segundo os critérios humanos, sempre recheados de preconceitos e interesses, que hoje condenam aquilo que a conveniência e a cobiça permitem amanhã como coisa natural e vice-versa. Jesus assevera que muitas coisas que os homens perdoam, Deus condena, e que muitas coisas que os homens condenam, Deus releva. Mais ainda, afirma que os puritanos, os moralistas de plantão seriam preteridos, se não fossem sinceros, em face dos pecadores sinceramente arrependidos que, tendo escutado o chamamento mesmo tardiamente, nele acreditaram.  A grande peça teatral que o homem está encenando terá o seu fim e, diante de toda a plateia, serão cerradas as cortinas para reconduzir cada ator à realidade de sua própria nudez moral, motivo pelo qual Jesus advertia para que cada um fosse como uma criança, sem malícia, sem fingimentos, sem ideias preconcebidas, única forma de se protegerem dos efeitos negativos oriundos de uma conduta mentirosa e insincera diante das leis do Universo.

O pecado não está apenas no gesto que prejudica alguém no exterior. O pecado está no sentimento que o alimenta, tenha ele sido exteriorizado ou não, tenha ou não produzido efeitos nocivos a alguém. 

Aquele que fez o exterior também fez o interior e nos conhece perfeita e profundamente. Daí a necessidade de estar puro o coração, como única defesa do ser humano diante do peso de suas culpas e da inferioridade de suas condutas.

A pureza de coração se constrói um pouco a cada dia. Disciplina de alma, disciplina de vontade, disciplina de conduta representam o trilho firme que mantém o trem na direção de seu destino seguro. Qualquer desvio significa novo acidente, nova interrupção e maiores esforços para o recomeço. A pureza que se aconselha no Evangelho é o caminho mais curto entre o coração e a felicidade que se busca. Aos espertalhões que dela fazem mofa e a ridicularizam vivendo à sombra da velha concepção de que o mundo é dos espertos, o tempo se incumbirá de reconduzí-los à lucidez através dos cânceres de todos os tipos, das dores de todos os matizes e das decepções de todas as naturezas”. (Relembrando a Verdade-Espírito Públio-André L. Ruiz, médium)