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segunda-feira, 11 de agosto de 2014

    Dar gratuitamente o que gratuitamente recebestes
        Cap. XXVI, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
        Cap. XXVIII e XXXI, de O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec

Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. Daí gratuitamente o que gratuitamente haveis recebido. (Mateus, 10:8)
Precatai-vos dos escribas que se exibem a passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins – que, a pretexto de extensas preces, devoram as casas das viúvas. Essas pessoas receberão condenação mais rigorosa. (Lucas, 20:45)
Nesta passagem, Jesus fez alusão a muitas coisas, como em geral Suas ideias sempre são muito abrangentes. Materialmente falando, os Centros Espíritas recebem muitas doações para distribuir aos necessitados. Tudo tem que ser encaminhado às pessoas carentes. As contribuições pecuniárias que alguns associados entregam ao Centro tem que ser aplicadas na manutenção do mesmo. Infelizmente, conhecemos e temos notícias de responsáveis por algumas casas que se aproveitam da função que ocupam na diretoria para utilizarem estes donativos para si mesmos ou para alguns amigos ou familiares.
Todavia, o que mais importa para Jesus é que utilizemos os dons concedidos pelo Criador para tratarmos da saúde dos doentes de todo o gênero. Na  verdade, Deus nos dá  gratuitamente tudo. O corpo físico, o ar, o sol, a chuva e inclusive esses dons para melhorarmos as condições vitais das pessoas. Ocorre que milhares de pessoas procuram a cura de seus males ou a solução de seus problemas através de médiuns que prometem resolver seus males. O grande problema é que grande parte deles exige pagamento. Quando assim procedem, com certeza, não estão bem assistidos. Devido ao interesse pecuniário, atraem Espíritos inferiores para junto de si, sendo que, muitas vezes, são Espíritos interessados em prejudicar os próprios consulentes. Também existem médiuns que não cobram pelo atendimento, mas, por não terem conhecimentos sobre a espiritualidade, tornam-se vítimas de mistificações. Então, os Espíritos que se aproximam destes médiuns, são entidades em estágio evolutivo atrasado,  utilizando-se, para tanto, de métodos descabidos, interferindo no livre-arbítrio dos envolvidos. E, deste modo, a situação daqueles que buscavam uma solução para seus males, se agrava. 
Já os médiuns Espíritas têm todo um procedimento diferente. Por estudarem a Doutrina, sabem como atuar, orientando as pessoas para agirem com equilíbrio, sem extrapolações. O médium Espírita aprende que possui uma missão, previamente preparada antes de reencarnar e que tem dons recebidos de Deus para transmitir aos necessitados de amparo.
Em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, os Espíritos lhe explicam que o médium “nada pode sem o concurso simpático dos Espíritos; quando não obtém mais nada, não é sempre a faculdade que lhe falta, frequentemente, são os Espíritos que não querem mais ou não podem mais se servirem dele”. Dizem os Espiritos a Kardec que “o uso que ele faz da sua faculdade, é o que mais influi sobre os bons Espíritos. Podemos abandoná-lo quando dela se serve para coisas frívolas, ou com objetivos ambiciosos... Esse dom de Deus não é dado ao médium para que se divirta, e ainda menos para servir à sua ambição, mas para seu próprio melhoramento, e para fazer conhecer a verdade aos homens.
“Os médiuns interesseiros não são unicamente aqueles que poderiam exigir uma retribuição fixa; o interesse não se traduz sempre pela  esperança de um sonho material, mas também pela intenção ambiciosa de toda natureza sobre as quais se pode apoiar esperanças pessoais; aí está ainda um flanco que sabem muito bem agarrar os Espíritos zombeteiros e o qual aproveitam com uma habilidade, uma astúcia verdadeiramente notável, embalando com enganosas ilusões aqueles que assim se colocam sob sua dependência. Em resumo, a mediunidade é uma faculdade dada para o bem e os bons Espíritos se afastam de quem quer que pretenda fazer deles estribo para alcançar o que quer que seja, que não responda aos objetivos da Providência”. (O Livro dos Médiuns, Cap. XVIII)
                                 Mediunidade Gratuita
Os médiuns atuais – pois que também os apóstolos tinham mediunidade – igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem  e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não lhes pertencem, a eles médiuns, visto que não são fruto de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: não tenho fé, porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão por que a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo. Quem conhece as condições em que os bons Espíritos se comunicam, a repulsão que sentem por tudo o que é de interesse egoístico, e sabe quão pouca coisa se faz mister pra que eles se afastem, jamais poderá admitir que os Espíritos Superiores estejam à disposição do primeiro que apareça e os convoque a tanto por sessão. O simples bom-senso repele semelhante ideia. Não seria também uma profanação evocarmos, por dinheiro, os seres que respeitamos, ou que nos são caros? É fora de dúvida que se podem assim obter manifestações; mas, quem lhes poderia garantir a sinceridade? Os Espíritos levianos, mentirosos, brincalhões e toda a caterva dos Espíritos inferiores, nada escrupulosos, sempre acorrem, prontos para responder ao que se lhes pergunte, sem se preocuparem com a verdade. Quem, pois, deseje comunicações sérias deve, antes de tudo, pedi-las seriamente e, em seguida, inteirar-se da natureza das simpatias do médium com os seres do mundo espiritual. Ora, a primeira condição pra se granjear a benevolência dos bons Espíritos é a humildade, o devotamento, a abnegação, o mais absoluto desinteresse moral e material. 
A par da questão moral, apresenta-se uma consideração efetiva não menos importante, que entende com a natureza mesma da faculdade. A mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar. Constituiria, portanto, para o explorador, uma fonte absolutamente  incerta de receitas, de natureza a poder  faltar-lhe no momento exato em que mais necessária lhe fosse. Coisa diversa é o talento adquirido pelo estudo, pelo trabalho e, que, por essa razão mesma, representa uma propriedade da qual naturalmente lícito é, ao seu possuidor, tirar partido. A mediunidade, porém, não é uma arte, nem um talento, pelo que não pode tornar-se uma profissão. Ela não existe sem o concurso dos Espíritos; faltando estes, já não há mediunidade. Pode subsistir a aptidão, mas o seu exercício se anula. Daí vem não haver no mundo um único médium capaz de garantir a obtenção de qualquer fenômeno espírita em dado instante. Explorar alguém a mediunidade é, conseguintemente dispor de uma coisa da qual não é realmente dono. Afirmar o contrário é enganar a quem paga. Há mais: não é de si próprio que o explorador dispõe; é do concurso dos Espíritos, das almas dos mortos, que põe a preço de moeda. Essa ideia causa instintiva repugnância. Foi esse  tráfico, degenerado em abuso, explorado pelo charlatanismo, pela ignorância, pela credulidade e pela superstição que motivou a proibição de Moisés. O moderno Espiritismo, compreendendo o lado sério da questão, pelo descrédito a que lançou essa exploração, elevou  a mediunidade à categoria de missão.
A mediunidade é coisa santa, que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requeira essa condição de modo ainda mais absoluto é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto  de seus estudos, feitos, muita vez, à custa de sacrifícios penosos. O magnetizador dá o seu próprio fluído, por vezes até a sua saúde. Podem por-lhes preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam.
Procure, pois, aquele que carece do que viver, recursos em qualquer parte, menos na mediunidade; não lhe consagre, se assim for preciso, senão o tempo de que materialmente possa dispor. Os Espíritos lhe levarão em conta o devotamento e os sacrifícios, ao passo que se afastam dos que esperam fazer deles uma escada por onde subam. (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVI)

                                                   No Hospital dos Médiuns
Uma das maiores surpresas com que me deparei no Além foi o convite que o irmão Odilon Fernandes me formulou para conhecer o Hospital dos Médiuns... – Hospital dos Médiuns?! – redargui, basbaque. – Sim, Ramiro, o hospital em que muitos de nossos irmãos que se complicaram no exercício da mediunidade se recolhem para tratamento... E lá fomos nós. No prédio imenso, edificado próximo a um bosque, dezenas de companheiros eram albergados pela Misericórdia Divina. Extremamente difícil descrever o que presenciei no ambiente, que, em quase tudo, se compara aos nossos sanatórios.
Impossível definir a emoção que me possuiu quando, num dos aposentos, deparei-me com a figura de conhecido médium... Vivera no Rio de Janeiro e as suas atividades se tornaram conhecidas em quase todo o Brasil. Paciente do referido hospital, ali internado havia mais de um lustro, entramos a conversar. Como é que você veio parar aqui?! – perguntei, desejando externar-lhe solidariedade. 
– Ah! Ramiro, vim parar aqui por ter extrapolado... 
– Mas você serviu à mediunidade como poucos serviram!...
 – Mas usei-a também em benefício próprio...
 – Na minha modesta opinião, você fez muito pela Doutrina... Você foi longe...
Fixando-me o olhar melancólico, o companheiro complementou-me as palavras, imprimindo-lhes sentido contrário à intenção com que as proferira:
- Fui, fui longe demais e, se muito fiz pela Doutrina, esqueci-me de fazer melhor!... 
Fui além de minhas possibilidades e fiquei aquém de minhas necessidades... 
(Lindos Casos de Além-Túmulo-Espírito Ramiro Gama-Carlos Bccelli)