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segunda-feira, 26 de maio de 2014

                              Fora da Caridade Não Há Salvação
                                     Cap. XV, de O Evangelho Segundo o Espiritismo
                           Questões 886 a 889, de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

                                      O de que precisa o Espírito para ser salvo
Ora, quando o filho do homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, sentar-se-á no trono de sua glória; reunidas diante dele todas as nações, separará uns dos outros, como o pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará as ovelhas à sua direita e os bodes à sua esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino que vos foi preparado desde o princípio do mundo; porquanto, tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber; careci de teto e me hospedastes; estive nu e me vestistes; achei-me doente e me visitastes; estive preso e me fostes ver.
Em verdade vos digo: todas as vezes que faltastes com a assistência a um destes mais pequenos, deixastes de tê-la para comigo mesmo.

                                           O Mandamento Maior
Mas os fariseus, tendo sabido que ele tapara a boca aos saduceus, se reuniram e, um deles, que era doutor da lei, foi propor-lhe esta questão para o tentar: - Mestre qual o grande mandamento da lei? Jesus lhe respondeu: - Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito. Esse o maior e o primeiro mandamento. E aqui está o segundo, que é semelhante ao primeiro: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. (Mateus, 22:34-40)
                                         Parábola do Bom Samaritano
Então, levantando-se, disse-lhe um doutor da lei, para o tentar: Mestre, que preciso fazer para possuir a vida eterna? - Respondeu-lhe Jesus: - Que é o que está escrito na lei? Ele respondeu: - Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, com todas as forças e de todo o teu espírito, e a teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe Jesus: - Respondeste muito bem; faze isso e viverás. Mas o homem, querendo parecer que era um justo, disse a Jesus: - Quem é o meu próximo? E Jesus lhe diz: - Um homem que descia de Jerusalém para Jericó, caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos e se foram, deixando-o semimorto. Aconteceu em seguida que um sacerdote, descendo pelo mesmo caminho, o viu e passou adiante. Um levita, que também veio àquele lugar, tendo-o observado, passou igualmente adiante. Mas, um samaritano que viajava, chegando ao lugar onde jazia aquele homem e tendo-o visto, foi tocado de compaixão. Aproximou-se dele, deitou-lhe óleo e vinho nas feridas e as pensou; depois, pondo-o no seu cavalo, levou-o a uma hospedaria e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários e os deu ao hospedeiro, dizendo: Trata muito bem deste homem e tudo o que despenderes a mais, eu te pagarei quando regressar. Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões? O doutor respondeu: - Aquele que usou de misericórdia para com ele. - Então, vai, diz Jesus, e faze o mesmo. (Lucas, 10:25-37)
Allan Kardec explica que "toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade. Caridade e humildade, tal a senda única da salvação. Egoísmo e orgulho, tal a da perdição. Não podendo amar a Deus sem praticar a caridade para com o próximo, todos os deveres do homem se resumem nesta máxima: Fora da Caridade não há Salvação".
Na questão 886, de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: - Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus? E a resposta foi: - Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Ensina o Espírito Públio que "na figura do samaritano repudiado pelos seus irmãos de raça, Jesus encontrou o padrão objetivo límpido para ensinar que não basta ser juiz, nem sacerdote, nem qualquer coisa que represente alguma posição de respeito se, no momento da necessidade e da dor alheia, os indivíduos bem postos fingem que não vêem ou conhecem aquele caído ao longo do caminho. Aqueles que assim se conduzem, naturalmente, não conseguirão sequer salvar-se a si próprios, quanto mais encontrar a salvação perante Deus. A caridade que negaram aos que os rodeavam, caridade essa que vai mais longe do que a simples entrega de moedas ou bens, mas que precisa chegar à doação pessoal em tudo o que se faça, agora lhes fará falta perante a aduana da salvação espiritual, indicando ao funcionário da alfândega divina que o recém-chegado não possui os documentos que o habilitem a receber aquilo que pleiteia pelos cinco minutos de arrependimento e devotamento tardio, à beira do abismo da morte inadiável. Tal é a importância do gesto de arrebatamento caridoso, que Jesus o coloca acima das convenções clericais, das conveniências sociais, erigindo o odiado Samaritano que, sem obrigações sacerdotais, religiosas ou familiares, atendeu o irmão vitimado pelos ladrões, considerando-o digno de elogios, acima dos mentirosos e fingidos Levita e Sacerdote que, por dever de ofício, teriam que ter socorrido o homem caído no caminho mas nada fizeram." (Espírito Públio-Relembrando a Verdade-André L. Ruiz)
                                                  A Voz do Evangelho
Esparramado na poltrona, João Lício pensava. Sem dúvida, fora feliz nos negócios. Enriquecera. Seu nome nos bancos indicava créditos de milhões. Que aceitava o Espiritismo, aceitava. Nenhuma Doutrina mais consoladora. Mas daí a espalhar o que havia ajuntado, isso é que não. Meditava, assim, por haver recebido na véspera a solicitação de duzentos mil reais, da parte de amigos, para salvar grande obra periclitante. Para o montante do que possuía, a importância referida expressava migalha; entretanto, segundo refletia, já havia feito o possível. Dera grandes somas. Custeara a compra de vasto material. Cumprira com os preceitos da cooperação e da caridade. Sentia-se exonerado de quaisquer compromissos. Ainda assim, ouvira dizer que o Evangelho respondia a consultas e resolveu experimentar. Levantou-se. Procurou o Novo Testamento e, após recolhê-lo, tornou a sentar-se. Abriu indiscriminadamente. E caiu-lhe aos olhos a sentença de Jesus, no versículo dezenove do capítulo seis, das anotações do apóstolo Mateus:
"Não ajunteis tesouros na Terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem e onde os ladrões minam e roubam..."
Como se houvesse recebido um choque, ponderou que o trecho não apresentava significação para ele, porque sempre dera e dera muito a todas as instituições de caridade. Abriria outra vez. O Livro Divino, decerto, lhe reservava alguma consolação. Repetiu o movimento anterior e as páginas lhe mostraram o versículo dez do capítulo 17 dos apontamentos de Lucas, em que Jesus assim se expressa:
"Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer."
Surpreendeu-se mais ainda. O Evangelho como que o chamava a brios. Nervoso, inquieto, consultou pela terceira vez. E o livro aberto exibiu o versículo 20 do capítulo 12, igualmente das anotações de Lucas, em que a voz do Senhor solta esta frase:
"Louco, esta noite pedirão tua alma... E o que tens ajuntado para quem será?"
João Lício fechou o volume com mãos trêmulas. Espantado, tangido no íntimo, encerrou a consulta. E, tomando o chapéu, saiu, procurando os amigos, de modo a ver como poderia ajudar. (Espírito Hilário Silva-A Vida Escreve-C.Xavier-W.Vieira)