Páginas

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


             PACIÊNCIA NÃO SE PERDE

É muito comum ouvirmos esta exclamação: perdi a paciência! Como sabem, porém, que perderam a paciência? Por que, quando precisaram daquela virtude para se manterem calmos e serenos não a encontraram consigo, e, por isso, exasperaram-se, praticaram desatinos, proferiram impropérios e blasfêmias?

Só pelo fato de não encontrarem em seu patrimônio moral aquela virtude, alegam logo que a perderam. Como poderiam, porém, perder o que não possuíam?

Será melhor que os homens se convençam de que eles não têm paciência, que ainda não alcançaram essa preciosa qualidade que, no dizer do Mestre insigne, é a que nos assegura a posse de nós mesmos: “Pela paciência possuireis as vossas almas”. E  não pode haver maior conquista que a conquista própria. Já alguém disse, com justeza, que o homem que se conquistou a si mesmo vale mais que aquele que conquistou um reino. Os reinos são usurpados mediante o esforço e o sangue alheio, enquanto a posse de si mesmo só pode advir do esforço pessoal, da porfia enérgica e perseverante da individualidade própria, agindo sobre si mesma.

Todos esses, pois, que vivem constantemente alegando que perderam a paciência, confessam involuntariamente que jamais a tiveram. Paciência não se perde como qualquer objeto de uso ou como uma soma de dinheiro. Os que ainda não lograram alcançá-la, revelam essa falha precisamente no momento em que se exasperam, em que perdem a compostura e cometem despautérios. Quando, depois, o ânimo serena, o homem diz: perdi a paciência. Não perdeu coisa alguma; não tenho paciência é o que lhe compete reconhecer e confessar.

As virtudes, esta ou aquela, fazem parte de uma certa riqueza cujo valor imperecível Jesus encarece sobremaneira em seu Evangelho, sob estas sugestivas palavras: Granjeai aquela riqueza que o ladrão não rouba, a traça não rói, o tempo não consome e a morte não arrebata. Tais bens são, por sua natureza, inacessíveis às contingências da temporalidade, e não podem, portanto, desaparecer em hipótese alguma. Constituem propriedade inalienável e legitimamente adquirida pelo Espírito, que jamais a perderá.

Não é fácil adquirirmos certas virtudes, entre as quais se acha a paciência. A aquisição da paciência depende da aquisição de outras virtudes que lhe são correlatas, que se acham entrelaçadas com ela numa trama perfeita. A paciência – podemos dizer – é a filha da humildade e irmã da fortaleza, do valor moral. O orgulho é seu grande inimigo. A fraqueza de Espírito é outro obstáculo à conquista daquele precioso tesouro. Todos os movimentos intempestivos, todo ato violento, toda atitude colérica são oriundos da suscetibilidade do nosso amor próprio exagerado. A seu turno, os desesperos, as aflições incontidas, os estados de alucinação, os impropérios e blasfêmias são consequências  de fraqueza de ânimo ou debilidade moral. A calma e a serenidade de ânimo, em todas as emergências e conjunturas difíceis da vida, só podem ser conservadas mediante a fortaleza e a humildade de Espírito. É essa condição inalterável de ânimo que se denomina “paciência”. Ela é incontestavelmente atestado eloquente de alto padrão moral.

Naturalmente, em épocas de calmaria, quando tudo corre ao sabor dos nossos desejos, parece que possuímos aquele preciosíssimo bem. Os homens, quando dormem, são todos bons e inocentes. É exatamente nas horas aflitivas, nos dias de amargura, quando suportamos o batismo de fogo, que verificamos, então, a inexistência da sublime virtude conosco.

No mundo, observou o Mestre, tereis tribulações, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo. Como ele venceu, cumpre a nós outros, como discípulos, imitá-lo, vencendo também. Cristo é o sublime modelo, é o grande paradigma. Não basta conhecer seus ensinamentos, é preciso praticá-los. Daqui a necessidade de fortificarmos nosso Espírito, retemperando-o nos embates cotidianos como o ferreiro que, na forja, tempera o aço até que o torna maleável e resistente.

A existência humana é urdida de vicissitudes e de imprevistos. Tais são as condições que haveremos de suportar como consequências do nosso passado. A cada dia a sua aflição – reza o Evangelho em sua empolgante sabedoria. Portanto, cumpre nos tornemos fortes para vencermos. Fomos dotados dos predicados para isso. Tudo que eu faço, asseverou o Mestre, vós também podeis fazer. Se nos é dado realizar os feitos maravilhosos do Cristo de Deus, por que permanecemos neste estado de miserabilidade moral? Simplesmente porque temos descurado a obra de nossa educação. A educação do Espírito é o problema universal.

A obra da salvação é obra de educação, nunca será demais afirmar esta tese.

A religião que o momento atual da Humanidade reclama é aquela que apela para a educação sob todos os aspectos: educação física, educação intelectual, educação cívica, educação mental, educação moral.

A fé que há de salvar o mundo é aquela que resulta desta sentença: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito. (Vinicius-Em Torno do Mestre)

 
Conheça o Espiritismo ouvindo todos os livros de Allan Kardec espalhados pela programação, além das melhores músicas Espíritas do Brasil, 24 horas no ar. www.radiomundoespirita.com

                 Kardec e os espíritas dissidentes

Na viagem que Allan Kardec fez pela França, em 1861, entre outras coisas que ouviu, foi a crítica de não lutar para trazer de volta pessoas que se afastavam dele, do Espiritismo.
Ele admite em público: "- Jamais dei um único passo nesse sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença". Uma lista implacável, especialmente para alguém que rejeitava o uso do adjetivo "imperdoável": os que se aproximavam dele o faziam por conveniência, atraídos pelos princípios da doutrina, e não por sua companhia; os que se afastavam dele também o faziam por conveniência, pela descoberta da falta de afinidades em determinadas questões.
"Por que então eu iria contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz".
"Para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes, e é isso que faço".
Orgulho? Desprezo pelo próximo? Kardec lançou as perguntas e deu a resposta: - "Não, honestamente não. Não desprezo ninguém. Lamento os que agem mal e isso é tudo".
"Coloco em primeira instância oferecer o consolo aos que sofrem, erguer a coragem aos decaídos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime! Não vale mais isto do que os lambris doirados?"
"Guardo milhares de cartas que, para mim, mais valem do que todas as honrarias da Terra e que olho como verdadeiros títulos de nobreza. Assim, pois, não vos espantei se deixo partir aqueles que viram as costas".