A Morte Não Existe
“Onde está, ó morte, o
teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (Paulo, I Corintios, 15:55)
Vivemos a vida toda
iludidos com nosso corpo, com nossas coisas, sempre lutando para não perdê-las,
com medo de sermos roubados, com medo da morte. Há milhares de anos que vivemos
do mesmo modo, sendo mal orientados por
religiosos e até por desinteresse nosso mesmo, sempre querendo viver
eternamente na carne e, pior, sem nada saber do outro mundo onde iremos morar. Com certeza, ninguém irá morar no cemitério,
onde os micróbios desmancham os corpos de carne. Deus, que é Espírito, reservou
para seus filhos, Espíritos, algo bem melhor. Em geral, corremos da morte, achando que ela
representa o fim de tudo. Na verdade, o fenômeno que aniquila o corpo físico,
ao mesmo tempo libera o nosso Espírito que estava preso, como se estivesse numa
gaiola, permitindo-nos retomar a liberdade a que faz jus todo o filho de Deus.
A morte é chamada pelo Espiritismo de “desencarnação”, voltando a ter a liberdade
de seres espirituais.
Sim, como somos filhos
do Criador, não temos nada a temer, pois ele nos empresta tudo para vivermos
aqui na Terra por alguns anos, retornando ao Mundo dos Espíritos assim que
terminar o nosso prazo de experiências aqui no planeta. Como o Senhor da Vida
nos empresta o corpo e tudo que possuímos, temos que devolver algum dia,
deixando aqui mesmo tudo o que pertence a este mundo. É importantíssimo que
tenhamos esta visão sobre a vida temporária na Terra e a vida eterna, infinita,
no Mundo Espiritual. É crucial para nossa saúde que estudemos a Doutrina
Espírita, para que obtenhamos as respostas sobre tudo o que diz respeito à
reencarnação, sobre a vida no outro mundo e sobre o que Deus espera de nós aqui
na Terra, quando, por algum tempo vivemos por aqui. Allan Kardec, em O Livro
dos Espíritos, recebeu dos Espíritos Superiores a informação de que Jesus é o
modelo e guia da Humanidade. Assim, ao estudarmos o Espiritismo, aprendemos
claramente as lições de Jesus, que veio a este planeta para clarear o nosso
caminho, ensinando que “toda lei e os profetas estão contidos no amai a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Jesus deu a maior
demonstração de que a vida continua, sendo morto e retornando com o Corpo Espiritual, isto é, com o Perispírito, materializando-se três dias
depois de ter sido morto o seu corpo. Ele viveu materializado entre os seus
discípulos por cerca de quarenta dias, provando que a morte não existe. Agora,
nestes últimos séculos, mais desenvolvidos, podemos compreender o significado de que "há muitas moradas na Casa de meu Pai" e o diálogo com Nicodemos, quando Ele disse que “é necessário nascer de novo para
conhecer o reino de Deus”, ou seja, que a reencarnação é Lei Divina, onde todos os
Espíritos têm oportunidade de evoluir na matéria, sempre retornando à Pátria
Espiritual.
Falta Educação para a Morte
Temos assistido,
diariamente, a matérias na televisão sobre mortes de pessoas, tanto em
acidentes como por outros motivos, demonstrando um desconhecimento tão
elementar desta questão, que chamou-nos a atenção. As reportagens de uma TV
local sobre as mortes de pessoas no acidente da TAM que ocorreu há cinco anos,
deixou-nos perplexos. Foram alguns dias de cenas do incêndio que ocorreu no
prédio da própria empresa, quando o tal avião chocou-se contra ele, vindo a
“morrer” cerca de 199 pessoas. Com estas cenas ao fundo, com frases e
depoimentos deprimentes dos parentes, a TV, no horário do almoço, com certeza
contribuiu para disseminar uma grande amargura e medo entre os seus milhões de
telespectadores. E o caso da boate aquela, que todos os meses eles lembram a tragédia? Já não basta a ignorância da realidade do Espírito, abafada por quase dois mil anos pelas religiões comprometidas com o atraso? Hoje,(2013) tendo a Terceira Revelação completado 156 anos, constatamos que ainda é muito fraca a sua divulgação, ao depararmo-nos com tanto desconhecimento sobre a morte e sobre a continuação da vida no Plano Espiritual, que é o Mundo Originário.
Quem primeiro cuidou
da Psicologia da Morte e da Educação
para a morte, em nosso tempo, foi Allan Kardec. Ele realizou uma
pesquisa psicológica exemplar sobre o fenômeno da morte. Por anos seguidos
falou a respeito com os Espíritos dos mortos. Como explica o Prof. Herculano
Pires, “as religiões podiam ter prestado um grande serviço à Humanidade se
houvessem colocado o problema da morte em termos de naturalidade. Mas, nascidas
da magia e amamentadas pela mitologia, só fizeram complicar as coisas. Como
disse Victor Hugo “morrer não é morrer, mas apenas mudar-se". A mudança simples
de que falou Victor Hugo transformou-se, nas mãos de clérigos e teólogos, numa
passagem dantesca pela selva selvaggia
da Divina Comédia.
Muito antes de Augusto
Comte, os médicos haviam descoberto que os vivos dependiam sempre e cada vez
mais da assistência e do governo dos mortos. De toda essa embrulhada resultou o
pavor da morte entre os mortais. O pavor maior da morte provém da ideia de
solidão e escuridão. Mas os teólogos acharam que isso era pouco e oficializaram
as lendas remotas do Inferno, do Purgatório e do Limbo... De tal maneira se
aumentaram os motivos do pavor da morte, que ela chegou a significar desonra e
vergonha. Para os judeus, a morte se tornou a própria impureza. Os túmulos e os
cemitérios foram considerados impuros. Como podiam eles aceitar um Messias que
vinha da Galiléia dos Gentios, onde o Palácio de Herodes fora construído sobre
terra de cemitérios? Como aceitar esse Messias que morreu na cruz, vencido
pelos romanos impuros, que arrancara Lázaro da sepultura e o fizeram seu
companheiro nas lides sagradas do messianismo?
Certa ocasião, o Papa
Paulo VI declarou que “existe uma vida após a morte, mas não sabemos como ela
é”. Isso quer dizer que a própria Igreja nada sabe da morte, a não ser que
morremos. A ideia cristã da morte, sustentada e defendida pelas diversas
igrejas, é simplesmente aterradora. Os pecadores ao morrer se vêem diante de um
Tribunal Divino que os condena a suplícios eternos. Os criminosos broncos,
ignorantes e todo o grosso da espécie humana são atirados nas garras de
Satanás, um anjo decaído que só não encarna o mal porque não deve ter carne.
Mas com dinheiro e a adoração interesseira a Deus, essas almas podem ser
perdoadas, de maneira que só para os pobres não há salvação, mas para os ricos o
Céu se abre ao impacto dos tédeuns suntuosos, das missas cantadas e das gordas
contribuições para a Igreja. Nunca se viu soberano mais venal e tribunal mais
injusto. A depreciação da morte gerou o desabrido comércio dos traficantes do perdão
e da indulgência divina. O vil dinheiro das roubalheiras e injustiças terrenas
consegue furar a Justiça Divina, de maneira que o desprestígio dos mortos chega
a máximo da vergonha. A felicidade eterna depende do recheio dos cofres
deixados na Terra.
Diante de tudo isso, o
conceito da morte se azinhavra (mancha) nas mãos dos cambistas da simonia(tráfico de coisas sagradas), esvazia-se na
descrença total, transforma-se no conceito do nada, que Kant definiu como
conceito vazio. O morto apodrece enterrado, perdeu a riqueza da vida, virou pasto
de vermes e sua misteriosa salvação depende das condições financeiras da
família terrena. O morto é um fraco, um falido e um condenado, inteiramente
dependente dos vivos na Terra.
O povo não compreende
bem todo esse quadro de misérias em que os teólogos envolveram a morte, mas
sente o nojo e o medo da morte, introjetados em sua consciência pela farsa dos
poderes divinos que o ameaçam desde o berço ao túmulo e ao além-túmulo. Não é
de admirar que os pais e as mães, os parentes dos mortos se apavorem e se desesperem
diante do fato irremissível da morte.
Jesus ensinou e provou
que a morte se resolve na Páscoa da ressurreição, que ninguém morre, que todos
temos o corpo espiritual e vivemos no além-túmulo como vivos mais vivos que os
encarnados. Paulo de Tarso proclamou que o corpo espiritual é o corpo da
ressurreição, mas a permanente imagem do Cristo crucificado, das procissões
absurdas do Senhor Morto, heresia clamorosa, as cerimônias da Via-Sacra e as imagens aterradoras do Inferno Cristão, mais impiedoso e brutal do
que os Infernos do Paganismo, marcados a fogo na mente humana através de dois
milênios, esmagam e envilecem a alma supersticiosa dos homens.
Não é de admirar que
os teólogos atuais, divididos em várias correntes de sofistas cristãos moderníssimos,
estejam hoje proclamando, com uma alegria leviana de debilóides, a Morte de
Deus e o estabelecimento do Cristianismo Ateu. Para esses teólogos, o Cadáver
de Deus foi enterrado pelo Louco de Nietsche, criação fantástica e infeliz do
pobre filósofo que morreu louco.
O clero cristão, tanto
católico como protestante, tanto do Ocidente como do Oriente, perdeu a
capacidade de socorrer e consolar os que se desesperam com a morte de pessoas
amadas. Seus instrumentos de consolação perderam a eficiência antiga, que se
apoiava no obscurantismo das populações
permanentemente ameaçadas pela Ira de Deus.
A Igreja, Mãe da
Sabedoria Infusa, recebida do Céu como graça especial concedida aos eleitos,
confessa que nada sabe sobre a vida espiritual e só aconselha aos fiéis as
práticas antiquadas das rezas e cerimônias pagas, para que os mortos queridos
sejam beneficiados no outro Mundo ao tinir das moedas terrenas. O Messias
espantou a chicote os animais do Templo que deviam ser comprados para o
sacrifício redentor no altar simoníaco e derrubou as mesas dos cambistas, que
trocavam no Templo as moedas gregas e romanas pelas moedas sagradas dos
magnatas dispenseiros da misericórdia divina. O episódio esclarecedor foi
suplantado na mente popular pelo impacto esmagador das ameaças celestiais
contra os descrentes, esses rebeldes demoníacos. Em vão o Cristo ensinou que
as moedas impuras de César só valem na
Terra. Há dois mil anos essas moedas impuras vêm sendo aceitas por Deus para o
resgate das almas condenadas. Quem
pode, em sã consciência, acreditar hoje em dia numa Justiça Divina que funciona
com o mesmo combustível da Justiça Terrena? Os sacerdotes foram treinados a
falar com voz empostada, melíflua e fingida, para, à semelhança da voz das
antigas sereias, embalar o povo nas ilusões de um amor venal e sem piedade. Voz
doce e gestos compassivos não conseguem mais, em nossos dias, do que irritar as
pessoas de bom senso. O Cristo Consolador foi traído pelos agentes da
misericórdia divina que desceu ao banco
das pechinchas, no comércio impuro das consolações fáceis. Os homens
preferem jogar no lixo as suas almas, que Deus e o Diabo disputam não se sabe
porquê.
Todos morremos e todos
ressuscitamos. Por isso não somos mortais, mas imortais.
Mas, a mais difícil
tarefa da Educação para a Morte é precisamente a de quebrar esse
condicionamento milenar, integrando os homens numa visão mais realista da vida.
Os fatos são de todos os tempos e estão ao alcance de todas as criaturas
dotadas de bom senso. Hoje, graças à abertura científica produzida pelo avanço
acelerado das Ciências, não se pode admitir que pessoas razoavelmente cultas
continuem amarradas, como acontece na própria Parapsicologia, ao sincretismo
teológico do Tomismo de Tomás de Aquino. (Prof. Herculano Pires-Educação para a Morte)
"Para libertar-se do temor da morte é mister poder encará-la
sob o seu verdadeiro aspecto, isto é, ter penetrado pelo
pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma ideia
tão exata quanto possível" Allan Kardec
"Para libertar-se do temor da morte é mister poder encará-la
sob o seu verdadeiro aspecto, isto é, ter penetrado pelo
pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma ideia
tão exata quanto possível" Allan Kardec