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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Natal de Jesus

Natal de Jesus
Cristo nasceu? Onde? Quando?
Como já dissemos anteriormente, falando sobre o Mestre Incomparável, a Doutrina Espírita tem conhecimentos extraordinários sobre Jesus, isto é, para todos os que têm “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, trazendo-os a público desde que se instalou na Terra, em 1857, o Consolador, sob a coordenação do inolvidável Professor Allan Kardec.
São informações valiosas que os Espíritos mais elevados têm transmitido, através da mediunidade, como também muitos escritores encarnados, pela própria condição de alcance e inspiração, têm contribuído definitivamente para o nosso esclarecimento. Segundo João, se fossem escritos todos os fatos que envolveram Jesus aqui na Terra, não caberiam no mundo...
Aos poucos, porém, a Espiritualidade Superior vai desvendando para a Humanidade sofrida da Terra, como aquela água da Fonte da Vida que Ele ofereceu à mulher samaritana, são maravilhas que vão nos sensibilizando, fazendo com que nossa sede seja saciada para sempre, melhorando-nos e, assim, melhorando o mundo em que vivemos.
Leon Tolstói, atualmente no Mundo Maior, dedica-se a pesquisar inúmeras questões sobre os ensinos de Jesus, tendo enviado para a Humanidade terrestre, por via mediúnica, vários livros que esclarecem e revelam como o Cristo acompanha a vida de todos os habitantes deste planeta, desde a época que o ajudou a formar-se, há 4 bilhões e 500 milhões de anos. Diz-nos o Espírito Tolstói que, agora na Espiritualidade, é que ele compreendeu mais amplamente toda a questão, por exemplo, da passagem de Jesus pela Terra, não tendo o mesmo fundado nenhuma religião como foi apregoado durante séculos por pessoas que se dizem seus representantes aqui na Terra.
Para Vinicius, "Jesus não é, como se imagina, criador de determinada escola, nem fundador de certa religião. Ele é o revelador da Lei, o expoente máximo neste mundo, da Vontade divina. Sua missão não teve início em Belém e finalidade no Gólgota. Ele vem, desde que o mundo é mundo, inspirando a Humanidade, orientando e apascentando este rebanho, no desempenho do mandato que o Pai lhe confiara. Jesus é a luz do mundo. Assim como o Sol não ilumina só um hemisfério, mas distribui à Terra toda seus benefícios, assim o Pastor divino apascenta com igual carinho todas as ovelhas do seu redil.  Jesus nasceu em Betlém há cerca de vinte séculos. Mas esse nascimento, como tudo o mais que com ele se relaciona, reveste-se de perpetuidade.  O natal do Mestre é um fato que se repete todos os dias: foi de ontem, é de hoje, será de amanhã. Os que ainda não sentiram em seu íntimo a influência do Espírito do Cristo, ignoram, em verdade, que ele nasceu. Só sabemos das coisas de Jesus por experiência própria. Só após Ele haver nascido em nosso coração é que chegaremos a entendê-Lo, já em Seus ensinos, já no que respeita à Sua missão neste orbe”. (Em Torno do Mestre-Vinicius)
Cristo nasceu? Onde? Quando?
E Vinicius continua, como ele próprio diz, invocando o testemunho de certas personagens cristãs como astros de primeira grandeza.
“Perguntemos a Paulo – onde e quando Jesus nasceu? Ele nos dirá: Foi na estrada de Damasco, quando eu, então intolerante e fanatizado por uma causa inglória, me vi envolvido na sua divina luz. Dali por diante, 'já não sou eu mais quem vive, mas o Cristo é que vive em mim'.
Indaguemos de Madalena, onde e quando nasceu Jesus. Ela nos informará: Jesus nasceu em Betânia, certa vez em que sua voz, ungida de pureza e santidade, despertou em mim a sensação de uma vida nova, com a qual, até então, jamais sonhara.
Ouçamos o depoimento de Pedro, sobre a natividade do Senhor, e ele assim se pronunciará: Jesus nasceu no átrio do paço de Pilatos, no momento em que o galo, cantando pela terceira vez, acordou minha consciência para a verdadeira vida. Daí por diante, nunca mais vacilei diante dos potentados do século, quando me era dado defender a Justiça e proclamar a verdade, pois a força e o poder do Cristo constituíram elementos integrantes de meu próprio ser.
Chamemos à baila João Evangelista e peçamos nos diga o que sabe acerca do natal do Messias, e ele nos dirá: Jesus nasceu no dia em que meu entendimento, iluminado pela sua divina graça, me fez saber que Deus é amor.
Dirijamo-nos a Zaqueu, o publicano, e eis o seu testemunho: Jesus nasceu em Jericó, numa esplêndida manhã de sol, quando eu, ansioso por conhecê-lo, subi numa árvore, à beira do caminho por onde ele passava, contentando-me com o ver de longe. Eis que Ele, amorável e bom, acena-me, dizendo: Zaqueu, desce, importa que me hospede contigo. Naquele dia entrou a salvação no meu lar.
Interpelemos Tomé, o incrédulo: Quando e onde nasceu o Mestre? Ele, por certo, retrucará: Jesus nasceu em Jerusalém, naquele dia memorável e inesquecível em que me foi dado testificar que a morte não tinha poder sobre o Filho de Deus. Só então compreendi o sentido de suas palavras: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
Apelemos, finalmente, para Dimas, o bom ladrão: Onde e quando nasceu Jesus? Ele nos informará: Jesus nasceu no topo do Calvário, precisamente quando a cegueira e a maldade humanas supunham aniquilá-lo para sempre; dali ele me dirigiu um olhar repassado de piedade e de ternura, que me fez esquecer todas as misérias deste mundo e antegozar as delícias do Paraíso. Desde logo, senti-o em mim e eu nele.
Tal foi o testemunho do passado – tal é o testemunho do presente, dado por todos os corações que, deixando de ser quais hospedarias de Betlém, onde não havia lugar para o nascimento de Jesus, se transformaram, pela humildade, naquela manjedoura, que o amor engenhoso da mais pura e santa de todas as mães converteu no berço do Redentor do mundo”.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Jesus, O Mestre Incomparável


Jesus, o Mestre Incomparável
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Temos, no Espiritismo, uma visão muito mais completa e interessante sobre Jesus. Esta visão diferente e de imensa profundidade não seria por mera disputa entre religiões ou por exibicionismo nosso, mas pela riqueza de informações que nos chegam, pelos Espíritos encarregados da Codificação, orientando Allan Kardec, e, posteriormente, nestes últimos 154 anos (18 de abril de 1857-data da publicação de "O Livro dos Espíritos"), com manifestações psicográficas e trabalhos inspirados através de inúmeros colaboradores, habitantes dos dois mundos, o de cá e o de lá.
Inicialmente, na Questão 625 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores "qual o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e de modelo?".

E eles responderam: Jesus.
E Kardec comenta: "Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que pode aspirar a Humanidade da Terra. Deus nô-lo oferece como o mais perfeito modelo e a doutrina que Ele ensinou é a mais pura expressão de Sua lei, porque Ele estava animado pelo Espírito Divino e foi o ser mais puro que já apareceu na Terra".
Grande parte dos homens desconhece que Jesus é um Espírito Puro, que tem bilhões de anos à nossa frente e que já atingiu o ápice da evolução permitida a todos os seres. Para muitos, Ele é o cordeiro de Deus que derramou o seu sangue para redimir a humanidade, lembrando antigas cerimônias judaicas, em que bodes eram sacrificados para depurar os pecados da comunidade. Há os que o confundem com o próprio Deus, embora Ele tenha afirmado sempre que era filho de Deus, como nós o somos... Outros imaginam que basta dizerem-se cristãos para, sem obras, terem garantido o paraíso, sem o merecerem. Para outros, levianos, Ele foi um revolucionário que foi morto pelos romanos por tentar subverter a ordem estabelecida, e, mais recentemente, em livros e filmes, Ele teria sido amante de Maria de Magdala, tendo deixado uma descendência. Uma grande parte da Humanidade nunca ouviu falar de Jesus, como os muçulmanos, além de outros povos com outras crenças.
Em dois mil anos de Cristianismo, o que os homens conseguiram fazer com a Doutrina do Cristo?
Quantos massacres, quantas perseguições, quantas deturpações das ideias do Cristo ao longo deste período! Inúmeras guerras denominadas de Cruzadas, por séculos,  e a malfadada "santa Inquisição", deixaram quilométricos rastros de sangue por vários países, massacrando pessoas em Seu nome. Jesus, por ser um Espírito de alta envergadura, que atingiu o máximo da perfeição que todos poderemos atingir um dia, já sabia do que os homens seriam capazes e avisou os apóstolos, na última ceia, que, mais tarde, pediria ao Pai para enviar o Consolador, a fim de que explicasse melhor Suas ideias e trouxesse ao Mundo novos conhecimentos, pois, a Humanidade daquela época ainda necessitava de mais tempo para poder entender muitos dos conhecimentos que Ele somente repassava ao grupo reduzido de seguidores.
E foram precisos muitos séculos para que isto ocorresse. Então, a partir de 1857, com o advento da Doutrina Espírita ou Doutrina dos Espíritos Superiores, soou para a Humanidade terrestre os clarins da Nova Era. Foram quase dois mil anos de espera pelo amadurecimento da Humanidade terrestre, para que tivéssemos prontidão a fim de que pudéssemos absorver conhecimentos mais abrangentes sobre a nossa real essência.
Hoje, grande parte dos habitantes deste planeta, já têm condições de compreender que, embora os entraves que existam para as novas ideias, como ensina o Espiritismo, somos todos seres criados simples e ignorantes, que entramos no Mundo material para progredirmos, mas que retornamos ao Mundo Espiritual após cada experiência na matéria para reavaliações e preparação de novas experiências futuras no mundo das formas.
Com a contribuição do Mundo Espiritual, por exemplo, tomamos conhecimento através do Espírito Emmanuel, narrado no livro "A Caminho da Luz", de que Jesus pertence à Comunidade dos Espíritos Puros, não sendo, portanto, um filho único de Deus, como dizem há séculos religiosos que se dizem seus representantes. Diz-nos, ainda, Emmanuel, que este mesmo Espírito denominado de Jesus, há 4 bilhões e 500 milhões de anos atrás, foi o Sábio responsável pela montagem e construção do nosso planeta, bem como pela implantação de toda a vida primitiva, trazendo os germes do Espaço e acompanhando todo o processo, por milhões de anos, para o desenvolvimento de todos os seres vivos que aqui iniciaram a sua trajetória evolutiva. Vejam que Jesus nos conhece a todos, e nos acompanha, desde o nosso princípio, como protoplasmas, até a fase em que nos encontramos, já seres pensantes, reencarnando e assumindo responsabilidades.
Então, quando tomamos conhecimento de tudo isto, fica mais fácil percebermos porque Ele é o caminho da Verdade e da Vida, pois Ele já trilhou todos os caminhos que O levaram à esta condição, por ter sido criado muito antes de todos nós que aqui vivemos. Ele é um dos Espíritos, dentre milhões de seres, que já atingiu a perfeição a que todos nós, também filhos de Deus, estamos destinados. Por isso que Jesus é denominado e conhecido pela Comunidade Espiritual do Sistema Solar como, além de membro permanente, como o Governador da Terra.
Então, na segunda reunião da Comunidade dos Espíritos Puros, aqui nestas imediações siderais, foi decidido que Ele viria, pessoalmente, trazer à este planeta, a Segunda Revelação do Supremo Senhor, tendo em vista que já era o momento de mostrar à Humanidade terrestre que o Altíssimo tinha traçado algo bem melhor para todos os homens, além desta vida, ensinando que os verdadeiros tesouros estão dentro de nós, nas virtudes, e que nada nem ninguém poderia destruí-los ou tirá-los daqueles que os conquistassem. Ele trouxe-nos uma nova visão sobre Deus e a Sua Justiça, mostrando-nos, durante a sua estada aqui na Terra, que o sacrifício mais agradável ao Pai do Universo é tratarmos todos os seres como nossos irmãos, independente de qualquer situação ou que fizéssemos aos outros tudo o que gostaríamos que os outros nos fizessem, uma vez que estamos de passagem pelo planeta Terra, sendo que nada que aqui existe realmente nos pertence. Que recebemos os recursos, desde o nosso próprio corpo e todos os bens que passam por nossas mãos, como empréstimos por algum tempo, e que devemos administrá-los em nosso benefício e dos que nos cercam, sem nos escravizarmos a eles, devendo devolvê-los e prestar contas do seu emprego após o término de cada existência na matéria.
Desse modo, Jesus, o Espírito mais elevado que já pisou neste planeta, desde pequenino, não aprendeu nada com ninguém, nem com os essênios e muito menos com pessoas da Grécia ou da Índia, como dizem alguns erroneamente, sem noção da Sua grandeza.
Quando estudamos a Doutrina Espírita ficamos sabendo que ninguém retroage na sua caminhada evolutiva, e, principalmente, aqueles Espíritos que atingiram o último grau da evolução, como Jesus e outros tantos, que detêm todo o conhecimento possível do Universo, jamais, quando aqui estiveram encarnados, necessitaram aprender com os seres inferiores que aqui se arrastam.
Conta Humberto de Campos, também pela mediunidade de Chico, no livro Pontos e Contos, que o velho Simeão tomou Jesus bebê nos braços e perguntou-lhe:
- Celeste Menino, por que preferiste a palha humilde da manjedoura? Já que vens representar os interesses do Eterno Senhor da Terra, como não vestiste a púrpura imperial? Como não nasceste ao lado de Augusto, o divino, para defender o povo de Israel? Longe dos senhores romanos, como advogarás a causa dos humildes e dos justos? ... Mas, tu? Não te ligaste aos príncipes, nem aos juízes, nem aos sacerdotes... Não encontrarias outro lugar, além do estábulo singelo?
Jesus menino escutou-o, mostrando-lhe sublime sorriso... Depois de outras ponderações e de longo intervalo, Simeão, em lágrimas, indagou: - Dize-me, ó Divina Criança, onde representarás os interesses de nosso Supremo Pai?
O menino tenro ergueu, então, a pequenina destra e bateu, muitas vezes, naquele peito envelhecido que se inclinava já para o sepulcro...
Nesse instante, aproximou-se Maria e o recolheu nos braços maternos. Somente após a morte do corpo, Simeão veio a saber que o Menino Celeste não o deixara sem resposta.
O Infante Sublime, no gesto silencioso, quisera dizer que não vinha representar os interesses do Céu nas organizações respeitáveis, mas efêmeras da Terra. Vinha da Casa do Pai justamente para representá-Lo no coração dos homens.
Assim, através do Espiritismo, temos oportunidade de verdadeiramente conhecermos Jesus, um Espírito Puro, que conquistou a perfeição há bilhões de anos e, que, como Colaborador de Deus, veio a este Mundo para trazer uma mensagem de amor e de redenção. Ele não veio fundar nenhuma religião, como dizem por aí. A missão de Jesus não começou em Belém, nem terminou no Calvário. Ele veio para o que era Seu e os seus não O reconheceram, com diz João.
Como afirma Leon Tolstói em sua obra denominada "Leon Tolstói por ele mesmo", que nada há, nos textos evangélicos que comprove que o Cristo teria fundado uma igreja. É sabido que a palavra "igreja" aparece somente duas vezes nos textos evangélicos. A primeira, quando Pedro fala, certa vez. sob influência de Espíritos Elevados, que Jesus "é o Cristo, o filho do Deus vivo", então Jesus diz-lhe que edificaria a sua igreja sobre ele, Pedro, isto é, sobre a faculdade mediúnica Ele edificaria a sua doutrina. Essa ligação com o Alto fluiu até o século IV, quando a Igreja declarou que a mediunidade era obra do demônio ou pura ilusão.
A segunda, Jesus utilizou a palavra igreja, também, no sentido de assembléia, de reunião: "se teu irmão pecar contra ti, vai arguí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda a palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também à igreja, considera-o como gentio e publicano". Mais tarde, a Igreja Católica se valeu de interpretação equivocada para consolidar o seu reinado, fazendo a seguinte interpolação no texto evangélico: "Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado no céu". E aqueles que criaram a Igreja atreveram-se a tachar de hereges todos aqueles que não pensavam da mesma forma, finaliza Tolstói.
Durante os trezentos primeiros anos da propagação do Cristianismo, os apóstolos e seguidores de Jesus eram orientados pela Espiritualidade Superior nas suas atividades diárias. Do quarto século em diante, as trevas começaram a tomar conta da tal igreja que o Cristo não fundou, iniciando a sua decadência com o seu "casamento" com o Império Romano, ou seja, com o poder e as riquezas.
Em seguida, por decreto, foi proibido falar com os Espíritos, determinando-se que a única fonte de profecias deveria vir da igreja, sendo perseguidos e amaldiçoados todos os que entrassem em contato com os Espíritos.
Até o século V, a reencarnação era aceita com muita naturalidade pelos membros da igreja primitiva. Contam alguns autores que, por ter sido prostituta, a imperatriz Teodora, esposa do imperador Justiniano, era motivo de orgulho por parte de suas ex-colegas. Para acabar com os falatórios, Teodora mandou eliminar todas as prostitutas de Constantinopla. Cerca de quinhentas mulheres foram mortas. Como naquela época o povo acreditava na reencarnação, passou a chamá-la de assassina e a dizer que deveria ser assassinada, em vidas futuras, por quinhentas vezes, que era o seu carma por ter mandado assassinar as suas ex-colegas prostitutas. O certo era que Teodora passou a odiar a doutrina da reencarnação, passando a influenciar o imperador que, por decreto, em 543, condenou a doutrina de Orígenes sobre a preexistência da alma, desestruturando a reencarnação. Em 553 o imperador Justiniano convocou o V Concílio Ecumênico de Constantinopla, em que o papa Virgílio não compareceu. Em 554, o papa foi obrigado a ratificar a determinação do Concílio de que a alma era criada no momento do nascimento. Assim, atribui-se ao imperador Justiniano e à sua esposa, Teodora, a descrença dos católicos e demais religiões ditas cristãs, até os nossos dias, ao conhecimento da Lei da Reencarnação, muito embora eles todos tenham reencarnado inúmeras vezes nestes séculos de obscurantismo.
A partir de então, a igreja afastou-se totalmente da pureza evangélica, muito embora, o próprio Cristo tenha enviado inúmeros Espíritos iluminados, que reencarnaram com a missão de reconduzi-la ao caminho inicial de simplicidade, da humildade e do amor ao próximo, não tendo obtido êxito até o presente, apesar de todos os esforços da Espiritualidade Superior, sempre com a orientação do Mestre Jesus.
No final do século XIV, Jesus e seus colaboradores, em visita ao planeta e verificando que Seus ensinos continuavam deturpados, determinou que o Mundo fosse renovado com a descoberta de novas terras pela nação portuguesa, que encontrava-se em péssima situação econômica já naquela época, que renascessem, então, na região das Américas, criaturas renovadas, fixando ao norte o cérebro e, concentrando mais ao sul, o coração do Mundo. E, nesta região, uma mistura especial de raças, preparadas no Mundo Espiritual, com indígenas, africanos e europeus, formando um povo especial, aqui receberia o Seu Evangelho e trabalharia pela sua exemplificação no Mundo, haja vista as deturpações que Sua mensagem sofrera nos séculos anteriores, tanto na Palestina quanto no resto do planeta.
Recebeu o solo brasileiro, então, um povo especial, mais dócil e mais humano, embora ainda com muitas imperfeições, para desempenhar a missão elevada e renovadora da mensagem cristã. Ainda não somos a Pátria do Evangelho, como diz Emmanuel, pois, dependerá de nossos esforços em fazê-la de verdade o Coração do Mundo. Contudo, Jesus e seus mensageiros continuam nos amparando para que assimilemos o mais breve possível a Boa Nova, divulgando-a exemplificando-a em todas as direções, a fim de que a paz definitivamente reine no Mundo.
Por isso é de extrema urgência que, todos aqueles que já tenham compreendido e assimilado as ideias de Jesus, se somem a todos os demais que desenvolvem a tarefa de transmiti-la às demais pessoas de todas as comunidades terrestres, uma vez que o Evangelho ou Boa Nova do Mestre Incomparável é o único caminho que leva à paz e à felicidade, pois, é através dele que aprendemos a ser humildes de coração, a vermos todas as pessoas como nossas irmãs, a tornarmo-nos pequenos para crescermos verdadeiramente aos olhos de Deus.
Sabemos que demora um pouco para vencermos o nosso inimigo número um: nós mesmos. Sim, os nossos verdadeiros inimigos não estão na rua, no exterior, nas pessoas que se relacionam conosco, como imaginamos. Os nossos verdadeiros inimigos estão nas nossas imperfeições, na visão distorcida que temos do Universo que nos cerca, levando-nos a viver egoisticamente ao invés de compartilharmos as coisas boas que temos, e que na verdade nos são emprestadas pelo Supremo Proprietário de tudo, com todos os que estão à nossa volta. Este é o teste.
Esta é uma prova que não temos tido sucesso, uma vez que, apesar de termos inúmeras oportunidades, de termos recebido ao longo das existências advertências e orientações, ficamos absorvidos pelas coisas do Mundo, tornando-nos escravos dessas coisas que aqui ficam, deixando-nos com o amargo sabor da perda de mais uma grande oportunidade. Está aí o porquê de termos que, na maioria das vezes, vivermos de salário contado, de enfrentarmos o desemprego, de encontrarmos as panelas vazias, de termos inúmeras insatisfações, de quase nunca realizarmos os nossos sonhos, sem mencionar os que renascem com deficiências físicas e mentais, bem com quaisquer outras dificuldades que surgem ao longo de cada existência, todos passando por provações e, também, muitas vezes, por expiações por não termos, até agora, tido olhos de ver, ouvidos de ouvir, para as advertências e orientações contidas na mensagem do Senhor Jesus.
E, tudo isso, jamais pode ser chamado de castigo do Pai de Amor Infinito, pois, Ele é somente Amor. E, acima de tudo, justo. E um Pai de sua magnitude não pune seus filhos. Ele os reeduca, propiciando-lhes sempre novas situações de aprendizagem, a fim de que, no momento adequado de sua maturidade, reconheçam que Ele, o Criador, tudo fez e tudo faz, ao longo dos milênios para dar a melhor parte da herança aos Seus filhos. Basta que tenhamos olhos de ver.
Precisamos superar os inúmeros equívocos que inventamos ao longo dos séculos e assumir as nossas responsabilidades, compreendendo que Jesus é nosso irmão mais velho, que veio a este mundo para nos ensinar a viver como filhos de Deus. Da humilde manjedoura ao sacrifício na cruz, Jesus exemplificou suas lições, legando-nos um roteiro capaz de nos orientar a vida inteira.

domingo, 9 de outubro de 2011

 SUICÍDIO

Em “O Livro dos Espíritos”, questão 944, Allan Kardec pergunta aos Espíritos Superiores se o homem tem o direito de dispor da sua própria vida, tendo obtido a seguinte resposta:
- Não, só Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei.
E na questão 945, Kardec indaga: - Que pensar do suicídio que tem por causa o desgosto da vida?  Então, eles dizem: - Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes seria uma carga!
Em geral, conforme os Espíritos Superiores responderam a Allan Kardec, “as consequências do suicídio são muito diversas: não há penas fixadas e, em todos os casos, são sempre relativas às causas que provocaram. Mas, uma consequência à qual o suicida não pode fugir é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos: depende das circunstâncias. Alguns expiam a sua falta imediatamente, outros em uma nova existência, que será pior do que aquela cujo curso interromperam”.
E Kardec, em seguida à questão 957, comenta: - A observação mostra, com efeito, que as consequências do suicídio não são sempre as mesmas. Mas, há as que são comuns a todos os casos de morte violenta, e a consequência da interrupção brusca da vida. Há primeiro a persistência mais prolongada e mais tenaz do laço que une o Espírito ao corpo, por estar esse laço quase sempre na plenitude de sua força, no momento em que é quebrado, enquanto que na morte natural ele se enfraquece gradualmente e, no mais das vezes, se rompe antes que a vida esteja completamente extinta. As consequências desse estado de coisa são a prolongação da perturbação espírita, depois a ilusão que, durante um tempo mais ou menos longo, faz o Espírito crer que está ainda entre o número dos vivos. A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz em alguns suicidas uma espécie de repercussão do estado do corpo sobre o Espírito, que sente assim, malgrado ele, os efeitos da decomposição e experimenta uma sensação plena de angústias e de horror, e esse estado pode persistir tanto tempo quanto deveria durar a vida que interromperam. Esse efeito não é geral, mas, em nenhum caso, o suicida está isento das consequências de sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia sua falta de uma ou de outra maneira. É assim que certos Espíritos que foram infelizes sobre a Terra disseram ser suicidas na precedente existência e estar voluntariamente submetidos a novas provas para tentar suportá-las com mais resignação. Em alguns, é uma espécie de ligação à matéria da qual eles procuram em vão se desembaraçar, para alçar  aos mundos melhores, mas nos quais o acesso lhes é interditado; na maioria, é o desgosto de ter feito uma coisa inútil, visto que dela não experimentaram senão a decepção. A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário à lei natural. Todas nos dizem, em princípio, que não se tem o direito de abreviar voluntariamente a vida; mas por que não se tem esse direito? Por que não se é livre para por termo aos sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo daqueles que sucumbiram, que isso não é só uma falta como infração a uma lei moral, consideração de pouca importância para certos indivíduos, mas um ato estúpido, visto que com ele nada se ganha. Isso não é a teoria que nos ensina, mas os fatos que ele coloca sob nossos olhos.
Hermínio C. Miranda, em seu livro “Candeias na Noite Escura”, indaga se “vale a pena suicidar-se?”, explanando: - “Deixemos de lado as causas imediatas, como problemas financeiros, amorosos ou de consciência. Isso é apenas a gota dágua que fez transbordar o cálice, toque final que acabou por romper o precário equilíbrio emocional do ser, desatando seu impulso destrutivo numa ânsia de libertação. São secundárias essas causas, embora tenham sido o fato precipitador da tragédia. Secundárias e relativas, porque um motivo, que poderia ser extremamente fútil para um, assume proporções alarmantes para outrem. Além disso, vemos o mesmo indivíduo suportar, às vezes, golpes muito mais graves e sucumbir, depois, diante de questões que um pouco mais de tolerância teriam colocado em sua verdadeira perspectiva. Muito depende pois  do seu estado emocional no momento em que lhe surge o problema pela frente. Quando penso nisso, lembro-me sempre de uma advertência que encontrei no guichê de uma loja em N. York; dizia assim: “Que diferença fará isso daqui a 99 anos?”
Aquilo que agora nos parece uma calamidade insuportável, reduz-se às proporções de mero incidente daqui a poucas horas, alguns dias ou uns escassos meses. É fácil demonstrar a veracidade da afirmação: quais foram as mágoas que nos atingiram tão fundo no ano passado? Ou há três anos? Mesmo que nos lembremos de algumas delas – as que nos parecem mais graves -, já não nos ferem como então. Com o decorrer de um pouco mais de tempo, lembrar-nos-emos delas até mesmo com certo sorriso indulgente e pensaremos: “Veja só! Isso me deu tanto aborrecimento e, afinal, nem valeu a pena...”
De outras vezes, aquilo que nos atormentou, nem sequer teve existência real; foi produto de uma imaginação exaltada, momentaneamente obscurecida pelo cansaço, pelas paixões ou pelo simples desconhecimento dos fatos. Logo a seguir, o que nos parecia tão alarmante, verificamos ser simples suspeita com aparência de realidade.
Por isso, não é necessário pesquisar as causas imediatas, que desencadeiam a tragédia do suicídio; examinemos as origens profundas do fenômeno.
Por que se mata a criatura humana? Mata-se o pobre, o aleijado, o doente, como também se mata o rico, o belo, o saudável. Por quê? Na verdade, o suicídio é, basicamente, uma fuga. O suicida quer fugir de situações embaraçosas, de desgostos, de pessoas que detesta, de mágoas que não se sente com forças para suportar, deseja, afinal de contas, fugir de si mesmo. É aí que está a gênese do seu fatal desengano; não podemos, de maneira alguma, fugir de nós próprios. Para que isto ocorresse, seria necessário que tudo acabasse com a morte; seria preciso que, ao cortar o fio da existência, tudo o que somos se dissolvesse, num instante, em nada. E não é assim que acontece; absolutamente não. Vemos, então, que o fundamento da ilusão suicida está na total ignorância do homem diante de sua própria natureza espiritual.
Há de chegar o dia em que todos compreenderão que somos Espíritos encarnados e não simples conglomerados de células materiais; que o corpo físico é um mero instrumento de trabalho e aperfeiçoamento do Espírito; acessório e não principal, na estrutura da personalidade humana.
Nesse dia não haverá mais suicidas. Suicidar-se para quê? Se apenas o organismo físico se destrói, ao passo que o princípio espiritual sobrevive?
A consciência está no Espírito que parte.  Por conseguinte, quando deixamos o corpo material, levamos nossas lembranças, sentimentos, paixões, alegrias, tristezas, esperanças, temores, angústias e sofrimentos, tal como os experimentávamos aqui na carne. O corpo não é mais do que uma vestimenta perecível do Espírito imortal. E se sofríamos aqui, sofreremos muito mais do lado  de lá da vida, se praticarmos a violência do suicídio. Não só porque nossas mágoas terrenas persistem, mas porque descobrimos, surpresos, envergonhados e terrivelmente arrependidos, que continuamos vivos, com as mesmas ideias que tínhamos, e ainda sofrendo dores muito mais agudas, porque só então nos assalta, num tremendo impacto, a amarga compreensão da loucura que praticamos.
Temos inúmeros depoimentos de Espíritos que provocaram a destruição de seu corpo físico, na trágica ilusão de que dessa forma se libertariam para sempre de seus problemas. E vêm confessar, amargurados, que o portão da morte não se abre para a escuridão vazia do nada; que a vida continua, com o corpo físico ou sem ele.
E então aquele que destruiu voluntariamente seu envoltório material chega à dolorosa conclusão de que apenas conseguiu agravar enormemente seus problemas íntimos, sem libertar-se de nenhuma de suas dificuldades. E descobre, ainda mais, que terá de voltar  carne em outras condições, talvez ainda mais penosas e precárias, tantas vezes quantas forem necessárias, para corrigir, refazer e pacificar.
Assistimos, então, ao funcionamento inapelável da lei cármica de causa e efeito, ajudando o pobre ser derrotado e doente a tomar o amargo remédio da recuperação. E aquele que arrebentou seus próprios ouvidos com um tiro assassino, renasce com o mecanismo de audição destruído; não podendo ouvir, não aprende a falar. E daí atravessar uma existência inteira, isolado na solidão forçada, a fim de que seu Espírito compreenda, no silêncio, o verdadeiro sentido da vida e o valor inestimável dos dons que recebemos ao nascer. O que tomou venenos corrosivos, volta à carne com as vísceras deficientes, sujeitas a misteriosas e incuráveis mazelas.
Tudo isso porque não podemos ir adiante sem pagar o que devemos, e, sendo a justiça de Deus tão perfeita, não pagamos senão o que devemos, segundo diz a Lei.  Logo, o suicídio é o maior, o mais trágico e lamentável equívoco que o ser humano pode cometer. Para não suportar uma dor que deveria durar alguns instantes, buscamos, precipitadamente, outra que pode durar tanto quanto uma nova existência de aflições. 
Certamente Deus nos dá os recursos necessários à recuperação, mas o esforço da subida tem que ser nosso, para que dele decorra o mérito da ação.
Isso de dores, mágoas, sofrimentos e aflições é tudo condição transitória de seres em reajuste moral. No fundo de si mesmo, o Espírito esclarecido sabe, intuitivamente, a Razão da sua dor e se rejubila com ela, porque somente pagando o que deve poderá prosseguir para o Alto. E sabe mais: certo da perfeição da Lei, na qual não há injustiças, comprende que, se sofre, é porque deve; a Justiça Divina não cobra multas a quem não cometeu infrações; ela é infinitamente mais perfeita que a dos homens.
Dessa forma, interferindo violentamente no mecanismo das leis supremas, o suicídio agrava os problemas, em vez de resolvê-los.
A ordem é esperar com paciência, resignação e confiança, aguardando serenamente a libertação. Acima de toda mágoa, o Espírito pode pairar serenamente e até mesmo embalado por secreta alegria, pois tem a certeza de que está resgatando, com a única moeda válida – a do sofrimento -, compromissos que ainda o prendem a um passado faltoso.”

No livro “O Céu e o Inferno”, Kardec relata inúmeros casos de suicidas, trazendo seus depoimentos e demonstrando como se tornaram mais infelizes após o ato tresloucado.
Richard Simonetti, em seu livro “Suicídio – Tudo o que você precisa saber”, indaga o que os familiares e amigos podem fazer pelos suicidas, salientando que, em primeiro lugar, eles não perderam a filiação divina, nem estão irremediavelmente confinados em regiões infernais. Mensageiros do Bem os amparam, mesmo que não tenham consciência disso.  E eles aprendem uma lição amarga, mas necessária: inútil e comprometedor atentar  contra a própria existência, pois, somos seres imortais e, fatalmente, colheremos funestas consequências.
Como poderemos ajudá-los?
Os Espíritos que se suicidaram dizem que a prece em seu benefício é um refrigério para eles. Quando oramos por eles nossas vibrações lhes proporcionam um grande alívio, diminuindo-lhes as dores e remorsos.
Como o suicida permanece ligado psiquicamente aos familiares, de acordo com a natureza dos pensamentos, os encarnados podem aumentar ou diminuir o seu sofrimento. Por exemplo, se ele enforcou-se, e ficarmos lembrando  constantemente que o vimos ou sabemos como ele morreu, naquela agonia, etc, ele receberá, através dos nossos pensamentos, todas estas lembranças que o manterão em sofrimento.
Além da prece, podemos também ajudá-los atendendo outras pessoas em sofrimento aqui na Terra, em seu nome. Nosso gesto resultará em grande benefício para o suicida.
Os Centros Espíritas poderão colaborar bastante para a superação do sofrimento dos suicidas através dos trabalhos de vibrações, nas reuniões mediúnicas, onde eles poderão ser recebidos e atendidos, beneficiando-se das energias do ambiente, revitalizando-os, pois, os Espíritos dos suicidas vivem no Mundo Espiritual como se fossem sonâmbulos. Quando entram em contato com o médium, estas energias os revitalizam, despertando-os, semelhante a doentes enfraquecidos que passam por uma transfusão de sangue.
A Doutrina Espírita é bastante convincente para diminuir o suicídio, ao contrário das demais, haja vista que possui informações provenientes do Mundo Espiritual, como por exemplo, o testemunho dos próprios suicidas a começar pelo livro “O Céu e o Inferno”, de Allan Kardec. Como explica Simonetti, “a fantasia induz à descrença. De nada  vale dizer ao candidato ao suicídio que ele arderá em chamas eternas, sem remissão se, na sua concepção, trata-se de mera especulação teológica. E proclama, enfático, que ninguém voltou do Além para confirmar que a vida continua. O Espiritismo demonstra que é possível conversar com os mortos e receber deles informações precisas sobre o que acontece com o suicida. O suicida é quase sempre alguém que não tem noção do que o espera. Fala-se que o gesto extremo é um misto de covardia e heroísmo – o covarde que foge dos desafios da Vida; o herói que enfrenta os mistérios da morte. O conhecimento sobre o assunto inverte o processo, tornando-o o herói  que enfrenta os desafios da Vida por conhecer o que a morte reserva aos que se acovardam”.
Portanto, como salienta muito bem Simonetti, “a missão do Espiritismo é justamente a de nos fazer pensar a Vida, conscientizando-nos de que não estamos na Terra em viagem de férias. O objetivo  fundamental de nossa passagem pelo Mundo é a nossa evolução. Dores são resgates; problemas são estímulos; dificuldades são desafios; crises são testes que avaliam nosso aprendizado. No somatório, temos abençoadas oportunidades concedidas por Deus, em favor de nosso crescimento como Espíritos imortais”.

Coragem ou Covardia?
No livro “Perante a Eternidade”, psicografado por Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho, uma jovem chamada Sandra relata que havia muitas brigas entre seus pais, mas, que sua mãe não queria separar-se, tendo, então, implorado para morar com a tia. Seu namorado a abandonou dali a algum tempo, sem querer reatar o namoro, o que a levou a tomar uma dose letal de veneno para ratos. 
Ela escutou as conversas no hospital da equipe médica, dizendo que não se sentia morta, acompanhando tudo o que faziam, inclusive a limpeza, o esparadrapo que colocaram em sua boca e a troca de roupa. Viu que a colocaram num caixão. Viu e ouviu as pessoas fazendo comentários, o choro das amigas e do ex-namorado, o desespero da mãe, irmãos, tios e avó. Sem entender o que de fato ocorria, ela ficou desesperada. O caixão foi fechado e enterrado. Ela sentiu horror, sentiu frio, na escuridão, tinha dores fortíssimas no abdômen e começou a sentir os bichos andando e comendo o seu corpo...
Não sabia para quem pedir auxílio, pois fora criada sem religião. Desesperada, pediu ajuda a N. Senhora e ouviu uma voz dizendo para arrepender-se. Ela perguntou  o que havia feito e a voz disse que ela tinha matado o corpo. Ela respondeu que era mentira, pois estava viva e sofria. E a voz perguntou-lhe se não havia tomado veneno e se não recordava do hospital, do velório?  Depois de orar, foi retirada do túmulo e do corpo físico por um senhor que a carregou para um abrigo. Depois de vários dias dormindo e sendo tratada, ao sentir-se melhor, fugiu do abrigo e foi para a casa de seus familiares onde escutou seus comentários. Foi numa vizinha que a via e a escutava e a  levou num Centro Espírita onde foi encaminhada novamente para um hospital especializado em suicidas. Lá, no “Lar Senhora Esperança”, passou a estudar o Evangelho e Moral Cristã.
Sandra  indagou  a outros internos, como ao Sr. Mauro, que estava lá há 50 anos, se seu ato de se suicidar tinha sido de coragem ou de covardia? Ele respondeu que tinha sido covardia, pois havia se apropriado de dinheiro alheio e, temeu o escândalo, o falatório...
Ela também perguntou ao Sr. Jairo se ele havia sido corajoso ou covarde, e ele disse que tinha câncer. Mas o senhor não foi covarde diante da doença? Então ele lhe disse que “hoje sei disso e 10 cânceres não me fariam sofrer tanto quanto o suicídio. Se antes achava que era corajoso, hoje sinto-me covarde, egoísta.” 
E você, Marília, por que se matou? “Matei o corpo sem dar valor ao precioso veículo que o Pai me dera para meu crescimento espiritual. Fui tremendamente covarde e egoísta. Grávida, abandonada pelo pai do meu filho, temi as conseqüências de ser mãe solteira  e suicidei-me. Não pensei no sofrimento que daria aos meus pais, pensei somente em mim, na minha dor. Se o sofrimento que sente o suicida após a morte do corpo fosse mais divulgado e a ele fosse dado créditos, isso daria medo aos corajosos que não temem matar seu corpo. E, aos covardes que pensam fugir de seus problemas, coragem para continuar vivendo encarnado. Nós, os suicidas, matamos o corpo que não é nem nosso, mas sim emprestado pela Natureza.”
Depois de muito pensar, acho que não são covardes nem corajosos, porém tremendamente egoístas. São muitos os motivos que levam a cometer o suicídio, uns sérios, mas nenhum justificável. Sofrimentos encarnados são passageiros. Dores, angústia, desilusões amorosas, traição, perda de entes queridos ou de bens materiais, solidão, medo, são lições a serem superadas. Num grande egoísmo, por não terem os acontecimentos como desejam, sentem insatisfação e pensam em acabar com tudo, matando-se. Não pensam em ninguém, no sofrimento que podem causar a outras pessoas. Às vezes, deseja-se mesmo que outros sofram. Isso é egoísmo! Não é certo querer  que as outras pessoas façam a nossa vontade, como obrigar a alguém a amar-nos...Devemos aceitar as dificuldades e sofrer com resignação.
Penso como também pensam muitos internos do “Lar Senhora Esperança”: o que acontece é falta de religião, da religião que educa, faz entender a vida encarnada e desencarnada, principalmente os sofrimentos e o porquê deles. De sentir Deus no coração. Ter fé no que entende, raciocinar, compreender para ter confiança em Deus. Como disse Allan Kardec há tantos anos, não haverá suicídio consciente para os que estudam e compreendem as Leis Divinas.
Principalmente nós que desencarnamos jovens achamos que os problemas seriam melhor compreendidos e aceitos se tivéssemos seguido uma religião que nos fizesse entender a vida, que nos levasse a orar com fé e confiança, que nos levasse a crer na vida futura, na continuação da vida após a morte do corpo. Porque somos eternos, mata-se o corpo para continuar mais vivos que antes.
Do corpo temos o dever de cuidar com toda atenção e carinho.
Do Espírito, a necessidade de receber orientação, estudo para progredir sempre.
Da religião, o equilíbrio, o entendimento para viver no Bem, seja como encarnado ou desencarnado.
Felizes os que conseguem entender no que acreditam.
E o Espiritismo dá esta explicação com toda a Sabedoria. E que o Espiritismo continue cada vez mais a elucidar a todos, encarnados e desencarnados. Porque quem entende supera os problemas, o sofrimento é aceito, as dificuldades são recebidas como lições e, agindo assim, o suicídio não será nem tentação. Sandra

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amai os vossos inimigos

Amai os vossos inimigos
 Cap. XII do Evangelho Segundo o Espiritismo

É possível fazermos o bem a quem nos feriu, traiu e roubou?

Aprendestes o que foi dito: amareis o vosso próximo e odiareis o vosso inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e caluniam, a fim de serdes filhos de vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?
Não é nada fácil a gente amar os inimigos, e é difícil de engolir. Certas frases de Jesus não foram entendidas naquela época e, também, hoje, pois, muitas pessoas não as compreendem por lhes faltarem a chave que é a Doutrina dos Espíritos. E Jesus explicava aos apóstolos que eles não estavam prestando atenção ao espírito dos textos. Os judeus tinham aprendido que deveriam odiar os seus inimigos. As orientações que eles recebiam, em geral, não provinham de Deus, como consta na Bíblia, mas de Espíritos não muito evoluídos. Alguém pode acreditar que Deus, o Ser Supremo, daria ordens para que eles, os judeus, matassem todos os povos que fossem derrotados nas guerras, passando tudo o que tivesse sopro pelo fio da espada? Isto está escrito na Bíblia. A orientação de Jesus, no início deste texto, é bem diferente do que consta na Bíblia.
Acontece que não entendemos corretamente o significado da palavra Amar, quando se aplica ao inimigo. Jesus apenas nos convida a perdoar quem nos fez mal ou apela para que não busquemos vingança.
Parece difícil? A maioria das pessoas mantém o inimigo permanentemente em seus pensamentos. Não consegue pensar em nada além da pessoa odiada. Quem odeia mantém-se escravo do inimigo. Faz as refeições, dorme, acorda, trabalha e vive sempre em meio a esse sentimento de rancor, alimentando desejos de vingança. Deixamos o inimigo comandar a nossa vida. Tornamo-nos escravos do odiado.
Perdoar é mais fácil, deixa-nos mais leves, o corpo mais saudável. Por isso a sabedoria de Jesus, libertando-nos dos laços que nos prendem aos inimigos.
Jesus quer apenas que afastemos de nosso coração a mágoa, a infelicidade, o ódio e o desejo de vingança. Por isso Ele aconselhava: Orem pelos que vos ofendem. Pedi a Deus que vos dê forças para superar a ofensa vivida. Pedi também a Deus que vos ofereça chance de ser útil àquele que vos feriu.
Jesus demonstra que a Virtude começa quando somos capazes de sentir, na pessoa do semelhante, seja qual for a sua posição social, racial, cultural, moral ou religiosa, um filho de Deus acima de tudo, ao qual nos compete respeitar e considerar.
Explica Allan Kardec que, “se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho. Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste passo. Não pretendeu Jesus, assim falando,  que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém pode depositar confiança numa pessoa sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem entre as que comungam nas mesmas ideias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo. A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O  pensamento malévolo determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar que não se  deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos.  Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto que o contato de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao contato de um amigo. Amar os inimigos  é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é experimentar júbilo em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo que os possa prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar. Quem assim procede preenche as condições  do mandamento Amai os vossos inimigos”.

“Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai celestial vos perdoará os pecados”. (Mateus, 6:14)
“Se, portanto, quando fordes depor a vossa oferenda no altar, vos lembrardes de que o vosso irmão tem qualquer coisa contra vós, deixai a vossa dádiva junto ao altar e ide, antes, reconciliar-vos com o vosso irmão; depois, então, voltai a oferecê-la”.(Mateus, 5:23-24)
“Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido na prisão”. (Mateus, 5:25)

Allan Kardec, no Cap. X de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ensina que “na prática do perdão, como , em geral, na prática do Bem, não há somente um efeito moral: há também um efeito material. A morte, como sabemos, não nos livra dos nossos inimigos; os Espíritos vingativos perseguem, muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais guardam rancor; donde decorre a falsidade do provérbio que diz: ‘morto o animal, morto o veneno’, quando aplicado ao homem. O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os da subjugação e possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que sofre deu lugar pelo seu proceder. Deus o permite, para os punir do mal que a seu turno praticaram, ou, se tal não ocorreu, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, não perdoando.

Comentando a cerca do amor aos inimigos, o Espírito Léon Tolstói diz-nos que, "com a luz que o conceito de reencarnação joga sobre o problema, torna-se mais fácil entender a necessidade de amar aos nossos inimigos para podermos ter a paz e a felicidade que almejamos um dia. Na atualidade, em diferente etapa evolutiva, com a consciência desperta para a  necessidade da regeneração, ansiamos reparar nossos erros, nos reajustar perante a Lei Divina, ajudando nossas vítimas de ontem, algozes de hoje. Importante, contudo, entendermos o significado da palavra amor neste caso. Seria impossível ao ser humano, ainda imperfeito, dedicar a seu inimigo o mesmo amor que dedica aos familiares e aos amigos. Se dissesse que tem o mesmo amor, estaria sendo hipócrita. O que o Cristo pretendia, certamente, é que começássemos por evitar as contendas, passando a nos entender, o que já seria indicativo de progresso. Se conseguirmos não desejar o mal ao inimigo, compreender suas dificuldades, não ficar contente com suas desventuras, estender-lhe a mão em caso de necessidade, e tantas outras coisas, já estaremos mostrando amor ao desafeto. Deus, que é a suprema sabedoria e misericórdia, permite que, na vida espiritual, aqueles que foram prejudicados ou que prejudicaram, em épocas passadas, se reencontrem tentando um reajuste. Após grandes dificuldades, muito esforço e renúncia, conseguem entender a necessidade de se perdoar e resolvem selar um acordo de paz. Isso, porém, não basta. A reparação exige que retornem ao cenário do mundo para recomeçar sob novas bases, tentando acertar. É assim que inimigos renascem juntos numa mesma família para refazerem os laços de afeto danificados e promoverem o crescimento moral e espiritual. Como dificuldades de relacionamento poderão ocorrer, aprenderão pela convivência diária a se suportarem um ao outro e a exercitarem a tolerância, a compreensão, a paciência. Aos poucos, pelos laços familiares, os desafetos vão vencendo a animosidade entre eles, refazendo vínculos e estabelecendo sólidos elos de afeto e amizade. Ao retornarem à espiritualidade, após toda uma existência em comum, como mãe e filho, pai e filha, marido e mulher, irmãos e irmãs, novas imagens estarão sobrepostas às antigas; as da última encarnação serão muito mais vivas e fortes, enquanto as do passado irão diminuindo de intensidade, dessa maneira, criando novos vínculos de afeto duradouro. A inimizade transforma-se em amizade, a desconfiança em confiança, o ódio em amor". (Léon Tolstói Por Ele Mesmo-Médium Célia X. Camargo)



Ensina o Espírito Públio que “o mal é a opção do ignorante, seja ele algoz ou vítima. Daí, como consequência direta da lei do Amor, Jesus aludir com clareza à necessidade de que, em qualquer circunstância, o Amor nos inspire as salutares demonstrações de um estado de elevação que nos torna inatingíveis. Além do mais, o amor que só é exercitado na presença dos que nos são simpáticos, ainda não é capaz de dar a verdadeira demonstração de ser real e perene. Lembremo-nos que a vítima ocupa o honroso lugar daquele que está quitando débitos  e podendo mostrar o quanto possui de amor verdadeiro no próprio coração. Destituir-se desse posto glorioso para chafurdar na lama da maldade quer dizer igualar-se ao agente do Mal, demonstrando a fragilidade de suas próprias defesas e a imprestabilidade do escudo protetor, com a agravante de que o maldoso, em geral, não acredita nas mesmas coisas elevadas que nós dizemos acreditar. Ele, ao menos, não é hipócrita. Por isso, dependendo da nossa reação, o agressor acaba sendo até melhor do que aquele que recebe o mal e se inocula com ele, recusando-se a esquecê-lo”.(Relembrando a Verdade-Espírito Públio, Médium André L. Ruiz)

O Espírito André Luiz traz a explicação do mentor Silas que “a ação do mal pode ser rápida, mas ninguém sabe quanto tempo exigirá o serviço da reação, indispensável ao restabelecimento da harmonia soberana da Vida, quebrada por nossas atitudes contrárias ao Bem...”(Ação e Reação-Espírito André Luiz, Médium Chico Xavier)

Enquanto é Dia...
Na obra “Falou a Vida”, de Cneius e Valerium, psicografia de Marilu M. Carvalho, o primeiro Espírito conta-nos uma interessante história:  “ Desmanchavam-se as colorações variadas do crepúsculo em céu de outono. Cansada do turbulento trabalho matinal que se prolongara por toda a tarde, extremosa dona-de-casa deu por terminada a jornada diária e nada havia restado a fazer. Assim sendo, procurou a paz do jardim para divagar um pouco o pensamento e descansar...
Enquanto cismarento olhar descia pela paisagem em busca da longínqua linha em que céu e terra se unem sob a forma de horizonte, chamou-lhe a atenção  o vulto adelgaçado de dois meninos que desciam correndo a calçada para tomar um veículo situado ali perto.
Na pressa que iam, o primeiro, tomando a dianteira, recebeu violento empurrão do segundo ao chegarem à porta do veículo, indo estatelar-se logo atrás, no chão. Revidou por sua vez aos socos, murros e pontapés, e, assim, devido à algazarra que se seguiu a tamanha confusão que formaram na disputa, nenhum dos dois tomou o ônibus que, cansado de esperar pelo embarque dos dois indisciplinados passageiros, encetou o rumo da viagem sem eles.
A senhora assestou o binóculo de seu olhar sobre os dois concorrentes ao ônibus que já se afastara, a ver como reagiriam ao incidente. Dizia o segundo:
- Você andou muito rápido! Não quis me esperar. É um mau companheiro... Bem feito que perdeu o lugar...  Reagia o primeiro:
- Você foi covarde! Apostamos corrida para ver quem chegava na frente, mas quando eu estava ganhando, você não soube perder e me atirou ao chão... Bem merece ser castigado.
- Isso é que não – gritava o outro menino.
- Fizemos um trato de voltar juntos da escola, e só porque você ia depressa queria chegar primeiro.
- Mas você me bateu! Você me bateu! – gritava o outro, surdo a quaisquer apontamentos.
A verdade é que ali ficaram até a noite feita, e já não iriam chegar cedo em casa porque haviam se desentendido a caminho.
Assim acontece conosco na via pública da vida também, onde vamos seguindo, lado a lado, rumo à construção do Futuro Melhorado.
Toda vez que nos desentendemos na marcha comum, e a agressão ameaça bailar em nossos gestos de irmãos, o caminho fica anuviado de incertezas, e nem sempre acertamos novamente o comboio da dignidade edificante que nos conferiria o prêmio do regresso ao Lar de Cima.
Portamo-nos como crianças em desavenças, sempre que, às dificuldades de relacionamento nos caminhos de volta ao Bem Supremo, apelamos para a força descaridosa na agressão fraterna, seja esta moldada em atos físicos para maltratar, ou simplesmente em palavras insidiosas que nos levem a cólera por estopim aceso aos canaviais íntimos do vizinho. Alastrada a fogueira do ódio, quanto tempo e mão- de-obra não se fazem necessários a que a calma, única portadora de equilíbrio para que possamos discernir onde está nosso real interesse na marcha, nos ajude a chegar onde queríamos?
Meu filho, de todos os métodos para chegar onde queres, depõe como ineficaz e fora de uso, estes: o revide, o ódio, a força bruta, a raiva que desconsidera, pois a planta do Senhor para trazer a verdade a tuas terras não pode ser cuidada sem o carinho da consideração.
Amaina teus rompantes, poda teus impulsos menos sadios, porque são estes que, assassinos, te levam a pensar em agressão que prejudique a qualquer um, amigo ou contrário.
Sabe, e isso com Jesus, que a maneira de plantar o bem para si próprio é cuidar do bem alheio com a mesma paciência, a mesma consideração e amor com que fazemos a coisa para nós mesmos.
Só assim se cultiva o progresso.
E foi o que a senhora pensou, enxugando as mãos molhadas no avental de serviço, enquanto se recolhia: - Que bobagem, essas crianças! Se um tivesse ajudado o outro a subir na viatura com calma, os dois já estariam bem longe, pertinho de casa... Essas crianças!...


Coração Envenenado
No livro “O Céu ao Nosso Alcance”, Richard Simonetti conta o seguinte fato:
- Aquele homem o cumprimentou...
- Eu vi.
- Não responde?
- Para mim ele não existe. Quero que se dane!
- Meu Deus! Que raiva é essa? Alguma desavença grave?
- Muitas. É meu ex-chefe. Aborreceu-me por muito tempo. Exigente demais, com mania de perfeição, sempre a cobrar maior empenho dos subordinados. Tivemos atritos homéricos...
- Não parece má pessoa...
- Quem vê cara não vê coração. Além do mais me perseguia. Quando surgiu a oportunidade de uma promoção preferiu indicar um colega menos qualificado. Foi tremendamente injusto comigo!
- Isso é meio complicado, porquanto a visão de quem nos avalia pode ser diferente da nossa.
- Sim, principalmente quando objetiva favorecer o protegido.
- Não é mais seu subordinado?
- Felizmente, não. Quero distância desse pilantra! Até tremo quando o vejo. Mau caráter!
- Cuidado. Raiva é ácido no coração. Não é melhor esquecer?
- Prefiro morrer envenenado a ensaiar qualquer gesto de boa vontade em favor dessa cobra peçonhenta que tanto me aborreceu! Jamais esquecerei que fui prejudicado em minha carreira por culpa dele.
- Pelo que sei, você é um homem religioso, presta reverência a Deus...
- Claro. Mas isso não tem nada a ver com o assunto de que falamos.
- Está equivocado. Afinal, seu ex-chefe, antes de mais nada, também é filho de Deus...
- E daí?
- Você é homem inteligente. Não terá dificuldade em responder a uma pergunta elementar: É possível reverenciar um pai detestando seu filho?
Folhas ao Vento
Já no livro “Atravessando a Rua”,  Simonetti conta-nos outra história: “A situação da família era terrível... Seis filhos, o mais velho, 12 anos; o menor, nos braços de sua mãe, apenas alguns meses. Pais e filhos cansados, famintos, sem casa, sem dinheiro, sem esperança... Pouca bagagem, em malas surradas, muita amargura no coração.
- Que é isso, minha gente? Vieram da guerra? – pergunta, penalizado, o atendente do albergue onde foram procurar pousada.
- Pois é, seu moço – responde o chefe da família – viemos de Minas. Eu tinha emprego, casa para morar, filharada na escola. Até que não estava mal... Mas, um dia o patrão ficou bravo, gritou comigo e eu mandei ele pro inferno. Quase bati, porque homem nenhum fala assim comigo, não!
Que tristeza!
Toda uma família em penúria, porque o “machão” não levou desaforo para casa...
Muitos casamentos são desfeitos, muita gente vai parar na prisão, pelo mesmo motivo. Um momento de cólera, uma reação de ódio, uma agressão, e temos a existência complicada.
Não há nenhum mérito em responder ao mal com o mal, à ofensa com a violência, à má palavra com o palavrão. Qualquer animal faz isso. Se dermos um pontapé num cachorro, ele nos responderá com uma dentada. O cavalo aprontará um coice...
Só os homens de verdade estão dispostos a compreender, mantendo a calma. Enquanto não treinarmos esse tipo de coragem, jamais seremos donos de nós mesmos.
Estaremos sempre influenciados pelo comportamento das pessoas próximas, como folhas ao vento”.