Bem-aventurados os que têm Puro o
Coração
Cap. VIII, de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec
Simplicidade
e Pureza de Coração
Bem-aventurados
os que têm puro o coração, porquanto verão a Deus. (Mateus,
5;8)
Apresentaram-lhe então
algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos
afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso,
zangou-se e lhes disse: Deixai que venham a mim as criancinhas e não as
impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham.
Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma
criança, nele não entrará. E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes
as mãos. (Marcos, 10:13-16)
Pecado
por Pensamentos – Adultério
Aprendestes que foi dito aos
antigos: Não cometereis adultério. Eu, porém, vos digo que aquele que houver
olhado uma mulher com mau desejo para com ela, já em seu coração cometeu
adultério com ela. (Mateus, 5:27-28)
Verdadeira
Pureza – Mãos Não Lavadas
Então os escribas e os
fariseus, que tinham vindo de Jerusalém, aproximaram-se de Jesus e lhe
disseram: Por que violam os teus
discípulos a tradição dos antigos, uma vez que não lavam as mãos quando fazem
as refeições? Jesus lhes respondeu: Por que violais vós outros os mandamentos
de Deus, para seguir a vossa tradição? Porque Deus põs este mandamento: honrai
a vosso pai e a vossa mãe; e este outro: seja punido de morte aquele que disser
a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes; e vós outros, no entanto, dizeis:
aquele que haja dito a seu pai ou a sua mãe: Toda oferenda que faço a Deus vos
é proveitosa, satisfaz à lei, ainda que depois não honre, nem assista a seu pai
ou a sua mãe. Tornam, assim, inútil o mandamento de Deus, pela vossa tradição.
Hipócritas, bem profetizou de vós Isaías, quando disse: Este povo me honra com
os lábios, mas conserva longe de mim o coração; é em vão que me honram
ensinando máximas e ordenações humanas. Depois, tendo chamado o povo, disse:
Escutai e compreendei bem isto: Não é o que entra na boca que macula o homem; o
que sai da boca do homem é o que macula. O que sai da boca procede do coração e
é o que torna impuro o homem; porquanto do coração é que partem os maus
pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os latrocínios, os
falsos-testemunhos, as blasfêmias e as maledicências. Essas são as coisas que
tornam impuro o homem; o comer sem haver lavado as mãos não é o que o torna
impuro. (Mateus,15:1-20)
Enquanto ele falava, um
fariseu lhe pediu para que fosse jantar em sua companhia. Jesus foi e sentou-se
à mesa. O fariseu entrou então a dizer consigo mesmo: Por que não lavou as mãos
antes de jantar? Disse-lhe, porém, o Senhor: Vós outros, fariseus, pondes
grande cuidado em limpar o exterior do copo e do prato; entretanto, o interior
dos vossos corações está cheio de rapinas e de iniquidades. Insensatos que
sois! Aquele que fez o exterior não é o que faz também o interior? (Lucas,
11:37-40)
Conforme
o ensino de Jesus, todos temos um encontro marcado com Deus. A condição para
podermos adentrar o gabinete do Ser Supremo é sermos puros ou limpos. Até hoje,
aqui na Terra, ninguém viu, falou ou visitou Deus porque não existe ninguém
puro neste planeta do Sistema Solar. Os seres que se manifestaram para todos os
profetas, dentre eles Moisés e todas as pessoas que tiveram e têm contato com
seres espirituais aqui na Terra e no
Espaço, viram, falaram e receberam orientações de Espíritos encarregados de
transmitir as ordens de Deus. Para nós, que ainda somos muito pequenos em
espiritualidade, qualquer Espírito um pouquinho mais iluminado do que nós é um
anjo ou o próprio Criador.
Somente
um Espírito Puro, da Comunidade dos Espíritos Puros que aqui pisou e encarnou,
vê e fala com Deus. Chama-se Jesus.
Ele
resolveu vir pessoalmente trazer a Segunda Revelação para a Humanidade
terrestre. Hoje sabemos o porquê de as
pessoas não terem entendido a afirmativa do Cristo de que “os puros ou limpos um dia verão a Deus”.
Tanto é assim que muitos vivem a dizer que falaram com Deus, que Deus disse-lhes
isto ou aquilo, ou ainda pior, que foram enviados por Ele.
Como
as religiões também não entenderam as ideias de Jesus, passam para seus profitentes
a ideia de que basta cumprirem com
alguns rituais e contribuírem com tantos dinheiros para suas igrejas, que irão
direto para a “Mansão do Senhor” no Paraíso, ou devem aguardar dormindo o dia
do Juízo Final. Mas, quando estas mesmas
pessoas penetram o Mundo Espiritual, ficam perdidas, pois não encontram o
endereço da Casa de Deus. São cegos guiando cegos. E todos sabemos o resultado
disso. Por que?
Simplesmente
porque foram mal orientadas ou não se deram ao trabalho de raciocinar sobre o
sentido das palavras de Jesus. Falta-lhes a chave para a compreensão do que é o
Espírito.
A Terceira
Revelação, anunciada pelo próprio Cristo, foi feita para esclarecer todos os
seres que habitam este planeta, corpóreos e incorpóreos, dando continuidade aos
ensinos anteriores de Jesus. Com a Doutrina Espírita, tudo muda. Aprendemos a
sentir os textos. Com a ajuda dos Espíritos Superiores, incluindo Kardec,
tomamos conhecimento de que somos Espíritos em evolução. Aos poucos vamos
adquirindo a pureza necessária para compreendermos tudo o que nos cerca no
Universo, tudo o que nos diz respeito como seres criados para sempre. Desse
modo, trabalhando por milhares de anos em nosso burilamento, no Mundo Espiritual e
reencarnando na Terra e em outros
planetas, atingiremos uma tal condição de pureza que poderemos, aí sim, vermos
e falarmos com o Pai Celeste. Nesse dia, que ainda está um pouco longe, pois a
evolução exige tempo e experiências, estaremos realmente ao lado de Jesus e
poderemos ver o Pai de Amor Infinito.
Allan Kardec, primeiramente, ensina que “a
pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui toda a
ideia de egoísmo e de orgulho. Por isso é que Jesus toma a infância como
emblema dessa pureza, do mesmo modo que a tomou como o da humildade. Poderia
parecer menos justa essa comparação, considerando-se que o Espírito da criança
pode ser muito antigo e que traz, renascendo para a vida corporal, as
imperfeições de que se não tenha despojado em suas precedentes existências. Só
um Espírito que houvesse chegado à perfeição nos poderia oferecer o tipo da
verdadeira pureza. É exata a comparação, do ponto de vista da vida presente,
porquanto a criancinha, não havendo podido ainda manifestar nenhuma tendência
perversa, nos apresenta a imagem da inocência e da candura. Daí o não dizer
Jesus, de modo absoluto, que o reino dos céus é para elas, mas para os que se lhes assemelhem “.
Pois que o Espírito da criança já viveu,
por que não se mostra, desde o nascimento, tal qual é? Tudo é sábio nas obras
de Deus. A criança necessita de cuidados
especiais, que somente a ternura materna lhe pode dispensar, ternura que se
acresce da fraqueza e da ingenuidade da criança. Para uma mãe, seu filho é
sempre um anjo e assim era preciso que fosse, para lhe cativar a solicitude.
Ela não houvera podido ter-lhe o mesmo devotamento, se, em vez da graça ingênua,
deparasse nele, sob os traços infantis, um caráter viril e as ideias de um
adulto e, ainda menos, se lhe viesse a conhecer o passado.
O Espírito, pois, enverga temporariamente a
túnica da inocência e, assim, Jesus está com a verdade, quando, sem embargo da
anterioridade da alma, toma a criança por símbolo da pureza e da simplicidade.
Diz-nos, ainda, Allan Kardec que “a palavra
adultério não deve absolutamente ser
entendida aqui no sentido exclusivo da acepção que lhe é própria, porém, num
sentido mais geral. Muitas vezes Jesus a empregou por extensão, para designar o
mal, o pecado, tudo e qualquer pensamento mau, como, por exemplo, nesta passagem: “Porquanto se alguém se
envergonhar de mim e das minhas palavras, dentre esta raça adúltera e pecadora,
o Filho do homem também se envergonhará dele, quando vier acompanhado dos
santos anjos, na glória de seu Pai”.
(Marcos, 8:38) A verdadeira pureza não está somente nos
atos; está também no pensamento, porquanto aquele que tem puro o coração, nem
sequer pensa no mal. Foi o que Jesus quis dizer; ele condena o pecado, mesmo em
pensamento, porque é sinal de impureza. Esse princípio suscita naturalmente a
seguinte questão: Sofrem-se as consequências
de um pensamento mau, embora nenhum efeito produza?
Cumpre se faça aqui uma importante
distinção. À medida que avança na vida espiritual, a alma que enveredou pelo
mau caminho se esclarece e despoja pouco a pouco de suas imperfeições, conforme
a maior ou menor boa vontade que demonstre, em virtude do seu livre-arbítrio.
Todo pensamento mau resulta, pois, da
imperfeição da alma; mas, de acordo com o desejo que alimenta de depurar-se,
mesmo esse mau pensamento se lhe torna uma ocasião de adiantar-se, porque
ela o repele com energia. É um indicio
de esforço por apagar uma mancha. Não cederá, se se apresentar oportunidade de
satisfazer a um mau desejo. Depois que haja resistido, sentir-se-á mais forte e
contente com a sua vitória. Aquela que, ao contrário, não tomou boas
resoluções, procura ocasião de praticar o mau ato e, se não o leva a efeito,
não é por virtude da sua vontade, mas por falta de ensejo. É, pois, tão culpada
quanto o seria se o cometesse.
Em resumo, naquele que nem sequer concebe a
ideia do mal, já há progresso realizado; naquele a quem essa ideia acode, mas a
repele, há progresso em vias de realizar-se; naquele, finalmente, que pensa no
mal e nesse pensamento se compraz, o mal ainda existe na plenitude da sua
força. Num, o trabalho está feito; no outro, está por fazer-se. Deus, que é
justo, leva em conta todas essas gradações na responsabilidade dos atos e dos
pensamentos do homem”.
O Espírito Públio, ao comentar este capítulo, assim se expressa:
“Estrutura cruel porque baseada na insinceridade, as igrejas de todos os credos
estão cheias de bandidos fantasiados de adeptos fiéis, à espera da absolvição
ou da bênção para que sigam furtando o semelhante, roubando o povo,
comprometendo o progresso das comunidades no rumo da própria elevação. Longe de
ser o tribunal puro da consciência, os diversos altares do mundo da crença se
transformaram em balcões onde negociatas se realizam entre os representantes da
fé e os interessados em seu financiamento, pagando, a peso de ouro, a
absolvição da própria consciência, como se isso pudesse vir de fora para
dentro. Daí porque Jesus combate tanto as noções de um mundo mentiroso, perante
o qual as convenções e os interesses são capazes de modificar os princípios
milenares de Justiça e Honradez. E, dessa maneira, alertou para a ocorrência
daquilo que se convencionara chamar de “escândalo”, como sendo a conduta
incompatível com os princípios elevados e que, acomodada sob o tapete das
convenções e dos interesses, vez por outra aflora com seu fétido odor e suas características
purulentas, causando espanto, nojo, repulsa, pessimismo e descrença na maioria
ingênua das pessoas. Afirmara que o escândalo haveria de vir, na noção lúcida
daquele que afirma que, um dia, todas as ilusões deixarão cair o seu véu e a
verdade virá brotar ante os olhos atônitos daqueles que se imaginavam
inatingíveis. No entanto, solicita aos que o escutavam que não fossem eles os
que causassem os escândalos, já que todo aquele que se conduzisse dessa maneira
haveria de estar na rota do desastre, exposto a ele por si próprio. Daí seria
preferível privar-se daquilo que põe em risco ou serve de tropeço para a queda
dos outros do que manter-se na defesa de tais situações e terminar consumido
nas suas dores e frustrações. No entanto, advertia que os escândalos não se
verificavam segundo os critérios humanos, sempre recheados de preconceitos e
interesses, que hoje condenam aquilo que a conveniência e a cobiça permitem
amanhã como coisa natural e vice-versa. Jesus assevera que muitas coisas que os
homens perdoam, Deus condena, e que muitas coisas que os homens condenam, Deus
releva. Mais ainda, afirma que os puritanos, os moralistas de plantão seriam
preteridos, se não fossem sinceros, em face dos pecadores sinceramente
arrependidos que, tendo escutado o chamamento mesmo tardiamente, nele
acreditaram. A grande peça teatral que o
homem está encenando terá o seu fim e, diante de toda a plateia, serão cerradas
as cortinas para reconduzir cada ator à realidade de sua própria nudez moral,
motivo pelo qual Jesus advertia para que cada um fosse como uma criança, sem
malícia, sem fingimentos, sem ideias preconcebidas, única forma de se
protegerem dos efeitos negativos oriundos de uma conduta mentirosa e insincera
diante das leis do Universo.
O pecado não está apenas no gesto que prejudica alguém no exterior.
O pecado está no sentimento que o alimenta, tenha ele sido exteriorizado ou
não, tenha ou não produzido efeitos nocivos a alguém.
Aquele que fez o exterior também fez o interior e nos conhece
perfeita e profundamente. Daí a necessidade de estar puro o coração, como única
defesa do ser humano diante do peso de suas culpas e da inferioridade de suas
condutas.
A pureza de coração se constrói um pouco a cada dia. Disciplina de
alma, disciplina de vontade, disciplina de conduta representam o trilho firme
que mantém o trem na direção de seu destino seguro. Qualquer desvio significa
novo acidente, nova interrupção e maiores esforços para o recomeço. A pureza
que se aconselha no Evangelho é o caminho mais curto entre o coração e a
felicidade que se busca. Aos espertalhões que dela fazem mofa e a ridicularizam
vivendo à sombra da velha concepção de que o mundo é dos espertos, o tempo se
incumbirá de reconduzí-los à lucidez através dos cânceres de todos os tipos,
das dores de todos os matizes e das decepções de todas as naturezas”. (Relembrando a Verdade-Espírito Públio-André L. Ruiz, médium)