Reencarnação –
Transmigração Progressiva
Questões 189 a 196 de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec
Cap. XI, 33 A 49, de A Gênese, de Allan Kardec
Cap. IV, de O
Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
Sendo o Espírito
criado simples e ignorante, aos poucos vai percorrendo os caminhos de sua
evolução. Pouco a pouco desenvolve sua
inteligência. Ninguém pode tornar-se Espírito puro em apenas algumas encarnações. Necessitamos de milhares de
encarnações para atingirmos a perfeição. Somente após várias encarnações ou
depurações sucessivas, num tempo mais ou menos longo, e de acordo com seus
esforços, que os Espíritos atingem o objetivo a que estão destinados. Mas, a
perfeição da Terra, por exemplo, é relativa, não é a perfeição absoluta. Em cada
planeta atingimos a perfeição que o mesmo comporta. Como disseram os Espíritos
Superiores a Kardec, “o Espírito deve avançar em ciência e em moralidade”.
Explica Kardec que “a
marcha dos Espíritos é progressiva, jamais retrógrada. Eles se elevam gradualmente
na hierarquia e não descem da categoria que já alcançaram. Nas diferentes
existências corporais podem descer como homens, mas não como Espíritos. Assim,
a alma de um potentado da Terra pode, mais tarde, animar o mais modesto artesão
e vice-versa, porque as posições entre os homens, frequentemente, estão na
razão inversa da elevação dos sentimentos morais. Herodes era rei, Jesus,
carpinteiro”.
Diz-nos Kardec que “o
princípio da reencarnação é uma consequência necessária da lei de progresso.
Sem a reencarnação, como se explicaria a diferença que existe entre o presente
estado social e o dos tempos de barbárie? Se as almas são criadas ao mesmo
tempo que os corpos, as que nascem hoje são tão novas, tão primitivas, quanto
as que viviam há mil anos; acrescentemos que nenhuma conexão haveria entre
elas, nenhuma relação necessária; seriam de todo estranhas umas às outras. Por
que, então, as de hoje haviam de ser melhor dotadas por Deus, do que as que as
precederam? Por que têm aquelas melhor compreensão? Por que possuem instintos
mais apurados, costumes mais brandos? Por que têm a intuição de certas coisas,
sem as haverem aprendido? Duvidamos de que alguém saia desses dilemas, a menos
que admita que Deus cria almas de diversas qualidades, de acordo com os tempos
e lugares, proposição inconciliável com a ideia de uma justiça soberana.
Admiti, ao contrário, que as almas de agora já viveram, em tempos distantes;
que possivelmente foram bárbaras como os séculos em que estiveram no mundo, mas
que progrediram; que para cada nova existência trazem o que adquiriram nas
existências precedentes; que, por conseguinte, as dos tempos civilizados não
são almas criadas mais perfeitas, porém, que se aperfeiçoaram por si mesmas com
o tempo, e tereis a única explicação plausível da causa do progresso social.
Tudo na criação tem uma finalidade, sem o que Deus não seria nem prudente, nem
sábio. Ora, se a Terra se destinasse a ser uma única etapa do progresso para
cada indivíduo, que utilidade haveria, para os Espíritos das crianças que
morrem em tenra idade, vir passar aí
alguns anos, alguns meses, algumas horas, durante as quais nada podem
haurir dele? O mesmo ocorre se pondere com referência aos idiotas e aos
cretinos. Uma teoria somente é boa sob a condição de resolver todas as questões
a que diz respeito. A questão das mortes prematuras há sido uma pedra de
tropeço para todas as doutrinas, exceto para a Doutrina Espírita, que a
resolveu de maneira racional e completa. Para o progresso daqueles que cumprem
na Terra uma missão normal, há vantagem real em volverem ao mesmo meio para aí
continuarem o que deixaram inacabado, muitas vezes na mesma família ou em
contato com as mesmas pessoas, a fim de repararem o mal que tenham feito, ou de
sofrerem a pena de talião”.
No encontro de Jesus
com o senador Nicodemos, há dois mil anos, quando este o procurou certa noite
para dizer-lhe que ele, o Cristo, só poderia vir da parte de Deus para fazer
aquelas coisas extraordinárias, tendo recebido como resposta que “é necessário
nascer de novo para conhecer o Reino de Deus”, ao que Nicodemos teve
dificuldades de entender, obrigando Jesus a dizer-lhe que ele era mestre em
Israel e não sabia daquelas coisas, que são terrestres, imagina se ele falasse
das coisas do céu... Mais claro é impossível. Jesus explica-lhe que o corpo
nasce do corpo, mas o Espírito vem do
Espaço, ou seja, do Mundo Espiritual. O ensino de Jesus é muito claro, porém,
clérigos e teólogos conseguiram deturpá-lo ao longo dos séculos, atribuindo ao
batismo o poder mágico de transformar as pessoas, além de outras invencionices
que a razão não admite, como a bobagem de que todos nascem com pecado... É uma
longa estória, com tanta fantasia, que nem as crianças de hoje acreditam.
Há uma sabedoria muito sutil e
profunda no mecanismo da reencarnação
Ensina Hermínio de
Miranda que “o esquecimento é necessário ao progresso do Espírito, que só
evolui quando caminha por suas próprias forças, escolhendo livremente entre o
bem e o mal. De que lhe serviria uma existência
anterior, dos crimes que praticou, dos ódios que se abrigaram em seu
coração, dos inimigos que teve, das riquezas ou poderes que possuiu, ou das
misérias e angústias por que passou? Para que trazer, para uma existência que
começa de novo, as aflições e preocupações de uma que se foi e já mergulhou no
passado? Não é mais fácil nos reconciliarmos com uma criatura que não mais
desperta em nós lembrança do dano que nos causou? As vidas que se entrelaçam
estão cheias de exemplos dessa natureza. Numa existência, matamos um desafeto e
lhe roubamos a esposa e os bens, encharcando de ódio a nossa vida e a dele. Os
nossos caminhos se separam antes que pudéssemos refazer a amizade, mas ainda
não é tarde. É bem possível que ele nos
volte, numa vida subsequente, como filho de nossa própria carne, para que lhe
possamos restituir o bem da vida que lhe tiramos da outra vez e os bens
materiais que dele subtraímos impiedosamente. É um processo inteligente e
suave, pois que aquilo que lhe arrebatamos num instante, assumindo uma dívida
enorme, agora lhe pagamos aos pouquinhos, sem grandes sacrifícios, amparando-o,
educando-o à nossa custa, orientando-o para o bem. Quando, depois do desenlace
de mais uma existência, nos reencontramos no Além, em plena consciência do
passado, já estaremos reconciliados e mais amigos que nunca, pois nada é mais
forte para cimentar uma ligação fraterna que a lembrança de antiga e superada
inimizade. Se, porém, no decorrer da existência corpórea, identificássemos o
antigo desafeto de passadas eras, não teríamos a mesma serenidade para
concertar com ele um pacto de paz e harmonia, porque antigas feridas voltariam
a sangrar e os sepultados ódios subiriam à tona, toldando-nos o entendimento e
os bons propósitos. Além de tudo isso, há também razões de ordem prática e
menos transcendentais. Não podemos trazer para uma nova existência antigos
preconceitos, impertinências, intolerâncias, nem sequer o mesmo conservadorismo
estreito que impediria o nosso progresso e nos tornaria velhos rabugentos desde
a primeira infância. É que tudo evolui e progride, e, ao cabo de alguns
decênios, precisamos mesmo ceder lugar aos Espíritos que vão chegando, para
que, com a nossa caturrice muito natural da velhice, não comecemos a servir de
estorvo a novas ideias e novas conquistas. Os próprios costumes sociais e
políticos também mudam com os tempos, enquanto que nós, presos aos limitados
horizontes de uma existência carnal, não podemos alcançar muito longe nem
acompanhar a marcha das modificações históricas e sociais. Com todos os seus
erros, desvios e desvirtuamentos, temos que reconhecer que vive hoje no mundo
uma população materialmente mais sadia e mais ciosa da sua liberdade”.