Deturpações Doutrinárias no Espiritismo – Ramatis
Há cerca de 60 anos, surgiu no Paraná, um médium
até então desconhecido no meio Espírita daquele Estado, por não militar na
Federação ou em núcleos conhecidos. Começou com algumas mensagens, recebidas
sempre sozinho em sua residência, atribuídas a um Espírito de oriental, cujo
pseudônimo adotado foi Ramatis. A que mais aceitação obteve foi “Magia de
Redenção”, já, então, preocupado o autor com os problemas da Magia e com os
habitantes de outros astros. Seu livro “A Vida no Planeta Marte”, foi um
verdadeiro sucesso. Tornou-se a coqueluche de milhares espiritualistas. Queriam
os crentes saber se os marcianos tinham mãos como as nossas, olhos, nariz,
iguais aos nossos, escudos, etc. Entende-se o sucesso, conhecendo-se a
tendência à fantasia, comum em nosso povo. Já estavam surgindo filmes
americanos de ficção. Ainda, por cima, os livros de Ramatis foram escritos com
redação boa, agradável sequência, e, no meio dos absurdos, muitas noções exatas
e conceitos interessantes.
Os livros de Ramatis passaram a ser muito vendidos
e lotaram as livrarias e bibliotecas espíritas praticamente do Brasil inteiro.
Em muitos Centros Espíritas e Federações vendia-se mais Ramatis do que o total
dos livros da Codificação! Diziam: “Kardec está superado, pois temos, agora, as
novas revelações de Ramatis”.
Felizmente ainda existem pessoas equilibradas e que
sabem analisar as coisas. J. Herculano Pires, esse brilhante sociólogo e
jornalista, que brindou o mundo Espírita com numerosos livros de alto valor,
mantinha, no Diário de São Paulo, durante muitos anos, uma coluna com o
pseudônimo “Irmão Saulo”, lida por Espíritas e não-espíritas. Herculano
resolveu fazer uma oportuna campanha de esclarecimento, com relação aos livros
de Ramatis, publicando numerosos comentários naquele jornal. Reconhecendo o
valor intelectual de Ramatis, mas igualmente conhecendo o perigo das ideias
exóticas, Herculano classificou-o como Espírito “pseudo-sábio”. Realmente.
“Perigoso não é o expositor ou autor que só diz tolices, vazadas em linguagem
obscura, pobre, cheia de erros gramaticais e ideias pueris. Perigoso, sim, é o
que expõe certo número de noções exatas, que usa argumentação brilhante, mas
introduz, de permeio, ideias erradas e perigosas. Assim, tais ideias têm grande
probabilidade de aceitação. É o que acontece com Ramatis”.
Vejamos o que diz “O Livro dos Médiuns”, pergunta
296 – Pergunta sobre os outros mundos: “Qual o grau de confiança que podemos
ter nas descrições dos Espíritos sobre os outros mundos?
R. – Isso depende do grau de adiantamento real dos
Espíritos que dão essas descrições. Porque compreendeis que os Espíritos
vulgares são tão incapazes de vos informar a respeito, como um ignorante o
seria, entre vós, no tocante aos países da Terra. Formulais, muitas vezes,
sobre esses mundos, questões científicas que esses Espíritos não podem
resolver. Se são de boa fé, falam a respeito disso, segundo suas ideias
pessoais. Se são levianos, divertem-se a vos dar “descrições bizarras e
fantásticas”, tanto mais que esses Espíritos, tão imaginosos na erraticidade,
como na Terra, tiram da própria
imaginação o relato de muitas coisas que nada têm de real”. Retrato
perfeito de Ramatis, traçado 100 anos antes...
Em cada ano, vinha um livro de Ramatis. Em 1962, “O
Sublime Peregrino”, contando a vida de Jesus. A diretoria da Federação Espírita
do Estado de São Paulo, preocupada com o rumo que as coisas tomavam, solicitou
à Comissão de Doutrina que fizesse um estudo minucioso e desapaixonado sobre
esse livro. A Comissão, da qual fazíamos parte, elaborou o seguinte parecer,
que foi aprovado unanimeme:nte pelo Conselho Deliberativo da FEESP: “O livro em
apreço apresenta algumas facetas interessantes e vários capítulos perfeitamente
aceitáveis; todavia, contém erros doutrinários clamorosos à luz do Kardecismo,
como os contidos nos capítulos IV E V, que poderão semear a confusão nos meios
Espíritas. Admite a influência astral sobre as criaturas como força decisiva no
seu destino (páginas 36 e 54); e, pior de tudo, faz distinção entre Jesus e o
Cristo, dizendo que ‘o Cristo Planetário’ é uma entidade arcangélica, enquanto
Jesus de Nazaré foi o seu médium mais perfeito na Terra”. (Pág. 62)
“Ramatis usa, constantemente, imagens e expressões
católicas, como: arcanjo planetário, comando angélico, empreitada satânica,
angelitude, coletividades satânicas,
espíritos diabólicos, ‘salvador dos homens’, atender à vontade do
Senhor, ‘a fim de redimir a humanidade’, etc. Jesus ‘se glorificou pela sua
própria morte sacrificial da cruz’, ‘carregava nos ombros frágeis a cruz das
dores e do sofrimento de todos os homens’.”
“A todo instante, valoriza a influência dos astros,
coisa jamais aceita por Kardec. Introduz conceitos orientais na interpretação
da vida de Jesus.
Para que não haja confusões doutrinárias, considera
a Federação que a leitura do livro só deveria ser feita por pessoas bem
esclarecidas na Doutrina, com capacidade para extrair as noções boas da obra, escoimando-as das graves falhas
à luz da Codificação, a fim de que se evitem os perigosos desvios doutrinários,
uma vez que a obra não pode ser considerada de teor espírita, face à
Codificação Kardecista, por vir profundamente eivada de expressões
não-espíritas, essencialmente esotéricas e católicas”. (Ary Lex-Pureza
Doutrinária)