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sábado, 26 de março de 2011

Muitos os Chamados...






Muitos os Chamados, Poucos os Escolhidos

Cap. XVIII, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec



Muito se Pedirá Àquele que Muito Recebeu

O servidor que souber da vontade de seu amo e que, entretanto, não estiver pronto e não fizer o que dele queira o amo, será rudemente castigado. Mas, aquele que não tenha sabido da sua vontade e fizer coisas dignas de castigo, menos punido será. Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas  serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado. (Lucas, 12:47-48)


Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no Reino dos Céus

Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! Entrarão no reino dos céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos, nesse dia, me dirão: Senhor! Senhor! Não profetizamos em teu nome? Não expulsamos em teu nome o demônio? Não fizemos muitos milagres em teu nome? Eu então lhes direi em altas vozes: Afastai-vos de mim, vós que fazeis obras de iniquidade.(Mateus, 7:21-23)


A Porta Estreita
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta da perdição e espaçoso o caminho que a ela conduz, e muitos são os que por ela entram. Quão pequena é a porta da vida! Quão apertado o caminho que a ela conduz e quão poucos a encontram! (Mateus, 7:13-14)

Parábola do Festim de Bodas
O reino dos céus se assemelha a um rei que, querendo festejar as bodas de seu filho, despachou seus servos a chamar para as bodas os que tinham sido convidados; estes, porém, recusaram-se a ir. O rei despachou outros servos com ordem de dizer da sua parte aos convidados: preparei o meu jantar; mandei matar os meus bois e todos os meus cevados; tudo está pronto; vinde às bodas. Eles, porém, sem se incomodarem com isso, lá se foram, um para sua casa de campo, outro para o seu negócio. Os outros pegaram dos servos e os mataram, depois de lhes haverem feito muitos ultrajes. Sabendo disso, o rei tomou-se de cólera e, mandando contra eles os seus exércitos, exterminou os assassinos e lhes queimou a cidade. Então, disse a seus servos: O festim das bodas está inteiramente preparado; mas, os que para ele foram chamados não eram dignos dele. Ide, pois, às encruzilhadas e chamai para as bodas todos quantos encontrardes. Os servos então saíram pelas ruas e trouxeram todos os que iam encontrando, bons e maus; a sala das bodas se encheu de pessoas que se puseram à mesa. Entrou, em seguida, o rei para ver os que estavam à mesa e, dando com um homem que não vestia a túnica nupcial, disse-lhe: Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. Então, disse o rei à sua gente: atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores; aí haverá prantos e ranger de dentes, porquanto muitos há chamados, mas poucos escolhidos. (Mateus, 22:1-14)


Observa-se nestas passagens uma descrição terrível de Deus, tal como Moisés o apresentava ao povo naquele período de pouco desenvolvimento das ideias. Não se pode atribuir a Jesus tal apreciação, haja vista que Ele apresentou-nos Deus como o Pai de  Amor e Justiça, nunca como um ser vingativo, sanguinário, destruidor. Ao contrário, Jesus apresenta-nos um Pai que educa, que dá sempre novas oportunidades aos seus filhos, que foram criados para a perfeição, devendo passar por inúmeras experiências na matéria, até atingir a pureza estabelecida por este Ser que é a Inteligência Suprema do Universo. Nós, Espíritas, temos uma visão bem mais clara dos textos bíblicos, porque o Espiritismo é uma Doutrina que vem do Mundo Maior, dos Espíritos Superiores, isto é, de seres mais evoluídos do que nós, oferecendo-nos explicações bem mais racionais, bem mais condizentes com o nosso atual estágio evolutivo. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec, que teve como missão organizar as orientações destes Seres Elevados, faz os devidos esclarecimentos sobre a parábola, como vemos abaixo:

Explica-nos Allan Kardec que Jesus compara o Reino dos Céus, onde tudo é alegria e ventura, a um festim. Falando dos primeiros convidados, alude aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus ao conhecimento da sua Lei. Os enviados do rei são os profetas que os vinham exortar a seguir a trilha da verdadeira felicidade; suas palavras, porém, quase não eram escutadas; suas advertências eram desprezadas; muitos foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os convidados que se escusam, pretextando terem de ir cuidar de seus campos e de seus negócios, simbolizam as pessoas mundanas que, absorvidas pelas coisas terrenas, se conservam indiferentes às coisas celestes.
Era crença comum aos judeus de então que a nação deles tinha de alcançar supremacia sobre todas as outras. Deus, com efeito, não prometera a Abraão que a sua posteridade cobriria toda a Terra? Mas, como sempre, atendo-se à forma, sem atentarem ao fundo, eles acreditavam tratar-se de uma dominação efetiva e material.
Antes da vinda do Cristo, com exceção dos hebreus, todos os povos eram idólatras e politeístas. Se alguns homens superiores ao vulgo conceberam a ideia da unidade de Deus, essa ideia permaneceu no estado de sistema pessoal, em parte nenhuma foi aceita como verdade fundamental, a não ser por alguns iniciados que ocultavam seus conhecimentos sob um véu de mistério, impenetrável para as massas populares. Os hebreus foram os primeiros a praticar publicamente o monoteísmo; é a eles que Deus transmite a sua lei, primeiramente por via de Moisés, depois por intermédio de Jesus. Foi daquele pequenino foco que partiu a luz destinada a espargir-se pelo mundo inteiro, a triunfar do paganismo e a dar a Abraão uma posteridade espiritual “tão numerosa quanto as estrelas do firmamento”. Entretanto, abandonando de todo a idolatria, os judeus desprezaram a lei moral, para se aferrarem ao mais fácil: a prática do culto exterior. O mal chegara ao cúmulo; a nação, além de escravizada, era esfacelada pelas facções e dividida em seitas; a incredulidade atingira mesmo o santuário. Foi então que apareceu Jesus, enviado para os chamar à observância da Lei e para lhes rasgar os horizontes novos da vida futura. Dos primeiros a ser convidados para o grande banquete da fé universal, eles repeliram a palavra do Messias celeste e o imolaram. Perderam, assim, o fruto que teriam colhido da iniciativa que lhes coubera.
Fora, contudo, injusto acusar-se o povo inteiro de tal estado de coisas. A responsabilidade tocava principalmente aos fariseus e saduceus, que sacrificaram a nação por efeito do orgulho e do fanatismo de uns e pela incredulidade dos outros. São, pois, eles, sobretudo, que Jesus identifica nos convidados que recusam comparecer ao festim das bodas. Depois, acrescenta: “Vendo isso, o Senhor mandou convidar a todos os que fossem encontrados nas encruzilhadas, bons ou maus”. Queria dizer, desse modo, que a palavra ia ser pregada a todos os outros povos, pagãos e idólatras, e, estes, acolhendo-a, seriam admitidos ao festim, em lugar dos primeiros convidados.
Mas, não basta a ninguém ser convidado; não basta dizer-se cristão, nem sentar-se à mesa para tomar parte no banquete celestial. É preciso, antes de tudo e sob condição expressa, estar revestido da túnica nupcial, isto é, ter puro o coração e cumprir a lei segundo o Espírito. Ora, a Lei toda se contém nestas palavras: Fora da caridade não há salvação”. Entre todos, porém, que ouvem a palavra divina, quão poucos são os que a guardam e a aplicam proveitosamente! Quão poucos se tornam dignos de entrar no Reino dos Céus! Eis por que disse Jesus: Chamados haverá muitos;  poucos, no entanto, serão os escolhidos.

Por que poucas pessoas são receptivas ao convite de Deus?
Vinicius, no livro Na Escola do Mestre, diz-nos que esta parábola só pode ser entendida pelos adeptos do Espiritismo, porque as demais religiões rejeitam a ação do Plano Espiritual, encastelando-se dentro dos seus dogmas, impedindo que a luz das revelações penetre seus entendimentos e corações. O banquete é a comunhão entre o Céu e a Terra. Os fenômenos Espíritas constituem o convite. O Espiritismo chama a atenção dos intelectuais para a fenomenologia astral, dizendo que tais fenômenos devem ser estudados com cuidado a fim de prevenir distúrbios e perturbações espirituais. Mas, os homens da elite continuam rejeitando o convite... Mas o banquete continua, o salão está cheio... É preciso que todos venham a saber que o Mundo Espiritual influi sobre o material. Pelo amor ou pela dor, tal é a determinação do Criador, dando a cada um de acordo com as suas obras. O rei constata que um convidado está sem a túnica... É o que estamos vendo na esfera da mediunidade. Quanta gente sem escrúpulos serve-se dela para explorá-la, para fins inconfessáveis? Por isso, também, muitos os chamados e poucos os escolhidos.
O Espiritismo não criou os Espíritos, nem a mediunidade, nem a comunhão entre os dois planos da vida – o terreno e o astral, de vez que tudo isso sempre existiu. A Terceira Revelação observa, estuda e aponta os fatos que se relacionam com os problemas espirituais; proclama a imortalidade da alma, não como simples teoria, mas como verdade incontestável porque demonstrada. Sua finalidade primordial não é curar as enfermidades do corpo, mas sim as do Espírito.
Portanto, fazemos ponto dirigindo o seguinte apelo aos homens da elite:
Senhores médicos: Os Espíritos não pretendem usurpar-vos o campo da medicina terrena. Continuai medicando os vossos doentes, estudando a causa da enfermidade, procurando, como é de vosso dever, minorar as dores físicas da humanidade. No entanto, ousamos afirmar que, no desempenho do vosso sagrado mister, muito mais e melhor fareis quando evoluirdes da escola materialista para a espiritualista. Os Espíritos do Senhor jamais serão vossos concorrentes. Podeis, antes, contar com o seu auxílio e com a graça do Senhor desde que vos façais merecedores.
Senhores beletristas: Prossegui em vosso labor intelectual embelezando a palavra, acepilhando as frases, elevando sempre mais alto a magia do verbo. Os Espíritos de Luz não concorrerão convosco fazendo sombra à vossa glória e ao vosso mérito. Antes encontrareis nas regiões luminosas do Além a fonte perene das mais belas inspirações.
Senhores sacerdotes: Permanecei em vossos postos anunciando o reino dos céus; porém, ao fazê-lo, erguei os vossos olhos e elevai as vossas aspirações acima do reino da Terra. Lembrai-vos de que é preciso exemplificar, pois, a geração atual já pensa, medita  e julga, e não os deuses particularistas que cumulam de bênçãos estes e proscrevem e condenam aqueles. Anunciai o Pai Nosso, isto é, o Pai da humildade, sem restrições nem privilégios odiosos; o Pai que coloca todos os seus filhos em perfeita igualdade de direitos e de deveres. Os Espíritos não se imiscuirão em vossa seara senão para vos despertar a razão e a consciência no que respeita à imortalidade da alma e à consequente responsabilidade que a acompanhará onde quer que ela esteja.
Tempo é Riqueza

As horas da vida se adiantam e mais e mais o ponteiro do relógio demonstra a sua incapacidade de regredir aos tempos sossegados de um passado que parecia mais tranquilo. Cada hora é bênção de ação na trajetória do ser que, dentre as inúmeras virtudes que possui em seu interior, menospreza a capacidade de realizar que detém, reclamando por melhores condições de vida material. Tempo que falta para as realizações da renúncia, mas que é abundante no tempo que se desperdiça nas lamentações. Seu passar imperceptível surpreende os adormecidos que, na sucessão dos meses na folhinha e exclamam, aterrados: - Puxa vida! Já está chegando o fim do ano...! As bênçãos do tempo futuro seguem esperando para serem colhidas nos atos dos que as possam aproveitar para realizar o bem no caminho do mundo, como a terra fértil à espera da semente valiosa.


As bênçãos perdidas no tempo passado são a expressão triste da terra improdutiva, a cobrarem o tributo das ervas daninhas abundantes e desafiadoras na sua rusticidade e vigor, em um ambiente que lhes favorece o crescimento natural.

Olhar o campo que temos pela frente pelo prisma da fecundidade ou do abandono estimulará o coração atento a decidir qual será a melhor medida para a aplicação de suas horas, sempre na condição daquele que tem a possibilidade de fazer as coisas de maneira a espalhar, na seara do tempo, as sementes das boas obras ou daquele que deixa mofar no celeiro de suas boas ideias nunca colocadas a serviço  da realização concreta.

Conhecedores da realidade do Espírito, não nos cabe mais dilapidar um patrimônio que pertence a Deus, como o mau servo da parábola que, amedrontado, enterrou a moeda recebida por medo do Senhor rigoroso.

O momento presente pede ação no Bem, acima de todas as coisas. Mais do que as necessidades de sobrevivência cada vez mais avassaladoras e insensatas, a tirarem do equilíbrio os corações vulneráveis e frágeis de criaturas ansiosas e cheias de desejos, o tempo presente requisita daqueles que crêem nos supremos artigos espirituais, abnegação, renúncia e efetivo trabalho no devotamento â causa do Verdadeiro Amor.

Os preguiçosos encontrarão o salário da enfermidade moral ou física a cuidar de seu estado íntimo. Os agentes da ambição encontrarão o pagamento das frustrações e dos embates com outros ambiciosos mais violentos e agressivos.

Os cantadores do prazer se defrontarão com o esgotamento das próprias forças, nas confusões de seus sentimentos e nos dramas afetivos convertidos em tragédias pessoais.

Os competidores contumazes acabarão atirados às derrotas fragorosas que os reconduzirão ao bom senso.

Os trabalhadores do Bem encontrarão o trabalho e o campo por semear, nas formas de construírem o equilíbrio que os outros precisarão, no momento de sua derrocada inexorável.

Entender qual é o melhor trajeto é decisão da maturidade do Espírito. Aquilo que escolhemos demonstra a quantidade de luzes que albergamos em nossa alma. Aquilo que construímos dá notícia da quantidade das virtudes divinas que aceitamos realizar em nós. 
(Da Terra para o Céu-Públio-H.Campos-A.L.Ruiz)

Rocha ou Areia

Referindo-se, certa vez, ao aproveitamento de suas lições, Jesus comparou a pessoa que procurava praticá-las a um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha. Posteriormente, vieram as chuvas torrenciais e ventanias, e ela permaneceu de pé, pois, assentava suas bases sobre terreno firme. Quanto àquela que, conhecendo seus ensinamentos, não buscava aplicá-los em sua vida pessoal, comparou-o ao indivíduo insensato que constrói sobre a areia sua residência, que desaba quando sobrevém a tempestade. A comparação é de absoluta clareza, mostrando que conduta cristã é questão de vivência e não de aparência. O Mestre conhecia perfeitamente a natureza humana, sabendo, por isso, ser comum o fato de os crentes, embora conhecendo as diretrizes da religião para o nosso comportamento, imaginarem ser dispensável a sua aplicação, que poderia ser substituída por práticas exteriores, inexpressivas sob o ponto de vista moral. Tal expediente, utilizado há milênios, recebe, habitualmente, a aprovação das organizações religiosas e seus representantes, mas, é inútil ante as leis divinas, que nos exigem mudanças reais em termos de sentimento e discernimento no trato com nossos semelhantes. Religião de superfície, sem influência no dia-a-dia de seu portador, é construção erguida no terreno movediço da ilusão e do egoísmo, sendo, pois, incapaz de resistir aos momentos difíceis, que sempre chegam, não sendo raro nessas ocasiões vermos aquele que a adota desesperar-se e até renegar sua fé. Por outro lado, não se deve interpretar ventania e enxurrada apenas no sentido de dores e perdas, mas, igualmente, como pressões para o estabelecimento de compromissos negativos em troca de vantagens imediatas que, uma vez aceitos, acarretam o desabamento da “casa” moral, com graves prejuízos para o seu morador. Foi isso, aliás, e, infelizmente, o que ocorreu com o Cristianismo, ao tornar-se um movimento de massa, alcançando extraordinária expressão numérica, mas descaracterizando-se a ponto de associar-se intimamente com a política humana, adotando seus métodos infelizes. Todos quantos nos beneficiamos do conhecimento Espírita, temos redobrada responsabilidade nesse particular, dado o nosso acesso maior às lições da Boa Nova, cuja significação e beleza os conceitos Espíritas nos permitem apreciar ainda mais. Devemos lembrar, por fim, que os Orientadores Espirituais, embora a compreensão que demonstram quanto às nossas dificuldades e fraquezas, e o tom fraterno de que, invariavelmente se utilizam em suas mensagens, são absolutamente claros e incisivos a esse respeito, concitando-nos a evitar a areia, individual e coletiva, da hipocrisia e do artificialismo, buscando sempre a rocha do bem exemplificado pelo Mestre.(Danilo Villela-Enfoques Doutrinários)


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