A Fé Transporta
Montanhas
Cap. XIX, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan
Kardec
Quando ele veio ao encontro do povo, um homem se lhe
aproximou e, lançando-se de joelhos a seus pés, disse: Senhor, tem piedade do
meu filho, que é lunático e sofre muito, pois, cai muitas vezes no fogo e
muitas vezes na água. Apresentei-o aos teus discípulos, mas eles não o puderam
curar. Jesus respondeu, dizendo: Ó raça incrédula e depravada, até quando
estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui esse menino. E, tendo
Jesus ameaçado o demônio, este saiu do menino, que no mesmo instante ficou são.
Os discípulos vieram então ter com Jesus em particular e lhe perguntaram: Por
que não pudemos nós outros expulsar esse demônio? Respondeu-lhes Jesus: Por
causa da vossa incredulidade. Pois, em verdade vos digo, se tivésseis a fé do
tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para
ali e ela se transportaria, e nada vos seria impossível. (Mateus, 17: 14-20)
Allan Kardec explica,
nesta passagem, que, “no sentido próprio, é certo que a confiança nas suas
próprias forças torna o homem capaz de executar coisas materiais, que não
consegue fazer quem duvida de si. Aqui, porém, unicamente no sentido moral se
devem entender essas palavras. As montanhas que a fé desloca são as dificuldades, as resistências, a má vontade, em suma, com que se depara da parte dos homens, ainda quando se
trate das melhores coisas. Os preconceitos da rotina,
o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo e as paixões
orgulhosas são outras tantas montanhas
que barram o caminho a quem trabalha pelo progresso da Humanidade. A fé robusta dá a perseverança, a
energia e os recursos que fazem vençam os obstáculos, assim nas pequenas
coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de
que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não procura os
meios de vencer, porque não acredita que possa vencer.
Do ponto de vista religioso, a fé consiste na crença em
dogmas especiais, que constituem as diferentes religiões. Todas elas têm seus
artigos de fé. Sob esse aspecto, pode a fé ser raciocinada ou cega. Nada examinando, a fé cega aceita, sem verificação, assim o
verdadeiro como o falso, e a cada passo se choca com a evidência e a
razão. Levada ao excesso, produz o
fanatismo. Em assentando no erro, cedo ou tarde desmorona; somente a fé que se
baseia na verdade garante o futuro, porque nada tem a temer do progresso das
luzes, dado que o que é verdadeiro na obscuridade, também o é à luz meridiana.
Cada religião pretende ter a posse
exclusiva da verdade; preconizar alguém a fé cega sobre um ponto de crença é
confessar-se impotente para demonstrar que está com a razão.
A resistência do incrédulo,
devemos convir, muitas vezes provém menos dele do que da maneira por que lhe
apresentam as coisas. A fé necessita de
uma base, base que é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer. E, para crer, não basta ver; é preciso,
sobretudo, compreender.
A fé cega já não é deste século, tanto assim que o dogma da fé cega, precisamente, é que produz hoje o maior
número dos incrédulos, porque ela pretende
impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do
homem: o raciocínio e o
livre-arbítrio. É
principalmente contra essa fé que se
levanta o incrédulo, e dela é que se pode, com verdade, dizer que não se
prescreve. Não admitindo provas, ela deixa no espírito alguma coisa de vago,
que dá nascimento à dúvida. A fé
raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A
criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque
compreendeu. Eis porque não se dobra.
Fé inabalável
só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade".
Nos dias de hoje, como
ensina o Espírito Públio, a ligação com
Deus passou a ser um processo negocial em que se busca um sócio para suportar o
prejuízo, mas do qual se esquece no momento de contabilizar os lucros do
negócio. São passageiros do luxuoso transatlântico dos prazeres fáceis, mas que
não aprenderam a nadar na hora do naufrágio. E todos os navios afundam um dia,
levando para o fundo a eufórica e descabeçada “maioria das pessoas”. Quando as
dúvidas atingem o patamar da fé que liga o ser ao Criador, fragilizando essa
ligação e tornando-a tênue ou claudicante, o Homem perde a base de sustentação
de seu caminho. Sem tempo para sentir a fonte de todos os recursos e a origem
de toda a sua força, as pessoas que assim se permitem ficar, cortam o fio de
ligação com a usina de abastecimento acreditando poderem se manter apenas com
os parcos recursos de sua bateria pessoal. Em vão, nas horas difíceis, os
homens entrarão nas construções de pedra conhecidas como igrejas. Lá não
encontrarão Deus nem as respostas que buscam. Iludidas por si mesmas, participarão
de rituais cerimoniosos como se, na hora do desespero do afundamento de sua
nau, falando algumas palavras mágicas, pudessem aprender a nadar de um minuto
para outro.
Sem terem de onde retirar os elementos que possam
equilibrá-los, os seres que se afastam da realidade divina temporariamente
bloqueiam o fluxo de forças que existem entre a sua realidade – mero efeito – e
a própria causa que o engendrou. Desejando viver sem ligar-se à árvore, o fruto
é condenado a deixar de crescer, mirrar, murchar e perecer, antes mesmo de
atingir o estágio necessário a converter-se em fruto pleno. Os homens que, se
afastando da sua ligação com a árvore da qual são fruto, perdem a seiva que os
abastece e, ainda que tenham alguma durabilidade, deixam de receber os influxos
superiores de energias puras que os abastecem, condenam-se a estagnarem-se, mirrarem
e degenerarem já que não conseguem abastecer-se de si mesmos.
A força da fé não se
conseguirá por obra e graça de manifestações improvisadas de desesperos, de
arrependimentos, de consciências culpadas, por tragédias, por medo da morte, do
lixo dado como falsa caridade, dos textos bíblicos decorados que não entraram no
coração.
É na fé, portanto, na fé compreendida como esse ponto de
apoio que dá ao fruto as qualidades potenciais da árvore de que deriva que
encontraremos o poder da Divindade residindo no interior de todos nós.
Do mesmo modo que as frutas são doces e as flores são
coloridas e perfumadas porque as plantas que as produziram as transformaram e
abasteceram de seiva, cor e perfume, as criaturas são igualmente alimentadas
pela força soberana do Universo, pela Causa primária de todas as coisas, recebendo
a sua força e as suas características de maneira mais intensa à medida que
reforcem a sua ligação com essa fonte.
Jesus deu o maior exemplo dentre todos sobre a ligação com o
Pai. Não há ação que realize sem antes ligar-se à Fonte das Bênçãos. Meu Pai é
maior do que eu – afirmava o Mestre. Sua fé não era uma religião formalista.
Era, no dizer exato da palavra, apenas e tão somente uma RELIGAÇÃO com a essência
poderosa do Universo.
Aos que desejarem obter os benefícios que a força da fé
confere, basta escutar o que Jesus ensina em Lucas, 6, 46 a 48:
“Por que me chamais:
Senhor! Senhor!... E não fazeis o que digo? Todo aquele que vem a mim e ouve as
minhas palavras e as pratica, vou mostrar-vos a quem se assemelha: É semelhante
a um homem que, ao edificar uma casa cavou fundo e colocou o fundamento sobre a
rocha. Quando veio uma inundação, a enxurrada embateu contra a casa e não a
conseguiu abalar, porque estava edificada sobre a rocha. Porém, aquele que ouve
e não pratica, é semelhante a um homem que edificou a casa na superfície, sem
fundamento. Embateu-se a enxurrada contra ela, que sem demora cai, e foi grande
o estrago dessa casa”. (Jesus no Teu Caminho/Relembrando a Verdade-Espírito Públio e André L. Ruiz)
A
Hemorroíssa
Encontramos nos
Evangelhos a história de certa mulher, que no Evangelho de Nicodemos, ou Atos de Pilatos, é
denominada de Verônica ou Berenice, aquela que limpou o suor de sangue no rosto
de Jesus, quando carregava a cruz. Pois, antes disso, como relatam os
evangelistas, esta mulher permanecia há doze anos menstruada, tendo empobrecido
com os tratamentos médicos a que se entregara, sem, contudo, curar-se.
Abandonara sua cidade
natal, Cesaréia de Felipe, na Decápolis, desiludida, marcada pelo estigma
humilhante. Todos a consideravam impura e consequentemente malsinada.
Consultara, inutilmente, os sacerdotes, os médicos da região e até do exterior.
Fora exorcizada, submetendo-se a rituais sofridos e intermináveis. Acreditavam,
e ela mesma acreditava, que seu mal era um castigo de Deus. Não tendo mais
esperanças, depois de perder tudo o que possuía, viajou para Cafarnaum, na
Palestina, na expectativa de encontrar algum médico ou remédio para o seu mal. Verônica,
então, quando ouviu falar de Jesus, acreditou que ele poderia ajudá-la, já que
ele curava cegos, leprosos, aleijados e muitas outras doenças. E Jesus seguia
em direção da casa de Jairo, o chefe da sinagoga, cuja filha agonizava. Jairo
buscara Jesus seguido de uma grande multidão de curiosos. E ela estava no meio
da multidão, sem coragem para falar com Jesus, anêmica, constrangida, com medo.
Só que não poderia perder a maior oportunidade de sua vida. Tendo em vista as
dificuldades da época, em que a mulher era considerada um ser inferior, ela
tinha muito receio de aproximar-se de Jesus. Assim, imaginou que, tocando em
suas vestes, seria suficiente para obter a tão sonhada cura daquele mal que a
importunava há tantos anos. E Jesus disse: - Quem me tocou? E Pedro, respondeu:
-
Mestre, a multidão nos comprime. Há muita gente ao nosso redor. Como vamos
saber quem o tocou? Então, a mulher atemorizada e trêmula, cônscia do
que nela se havia operado, pois cessara o fluxo sanguíneo e as dores
hemorroidais, veio e prostrou-se diante dele, e declarou-lhe toda a verdade: Fui
eu, Senhor, que era desgraçada! Sabia que, em tocando Tuas vestes, poderia
recuperar minha saúde. Disse-lhe
Jesus: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz, e sê curada desse teu mal.
Depois de algum tempo,
Verônica despediu-se dos parentes, que antes a
detestavam, e passou a seguir Jesus por todos os lugares. Quando limpou
o rosto de Jesus na via crucis, ouviu sua voz em seu interior: - Vai em paz! Lembrar-me-ei de ti... Quando
iniciou a subida da colina da Caveira, Jesus tomba novamente e diz: -
Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por
vossos filhos. Dias virão amargos e terríveis, em que clamareis: bem-aventuradas
as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!
Clamareis aos montes: caí sobre nós, cobri-nos! Porque, se ao madeiro verde
fazem isto que se fará ao seco?
E Verônica desceu do monte e saiu a servi-Lo. (Marcos, 5: 25-34. Lucas, 23: 27-31)
(Primícias do
Reino-Amélia Rodrigues e Divaldo Franco)
O
Centurião Romano
Cláudio e Cornélio,
filhos de um homem muito rico, viviam em Roma há muitos séculos atrás. Cláudio
era poeta e escritor e sonhava com a fama. Seu irmão Cornélio era diferente.
Era sensível e preocupava-se com as pessoas e queria tornar-se médico. Por
causa de um desentendimento entre os dois irmãos, pois Cláudio havia maltratado
um escravo, o pai dos jovens, que tinha preferência por Cláudio, obrigou
Cornélio a sair de casa para seguir carreira na Legião de César, o que o levou
para regiões distantes. Devido ao seu caráter, Cornélio foi promovido ao posto
de Centurião e destacado para servir em Cafarnaum, na Palestina. Certo dia um
de seus soldados adoeceu e como não obtivesse melhora da estranha enfermidade
que o prostrara, pois, ficara paralítico, além de ter muitas dores, o Centurião
lembrou-se de Jesus e foi procurá-lo. Cornélio disse, então, a Jesus que tinha
um soldado gravemente enfermo e que fora desenganado pelos médicos, mas que
ele, Jesus, poderia curá-lo. Então, Jesus lhe disse que iria mais tarde à sua
casa, tendo o Centurião lhe dito que não era digno que Jesus entrasse em sua
casa, mas que apenas uma palavra dele, de Jesus, curaria o seu servo. Jesus admirou-se
e respondeu-lhe que nunca havia encontrado em Israel tamanha fé e disse-lhe
para voltar para casa que seu servo já estava curado. E, efetivamente, isto
aconteceu. (Histórias da
Vida Eterna-Djalma Santos)
A
Medicação pela Fé
A moça abatida, num
acesso de tosse, chegara ao Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Minas Gerais, com
uma receita médica. Estava tuberculosa. Duas hemoptises já haviam surgido como
horrível prenúncio. O doutor indicara
remédios, entretanto...
- Chico, - disse a doente - o médico
aconselhou-me a usar esta receita por trinta dias... Mas, não tenho dinheiro.
Você poderia arranjar-me uns cobres? O
médium respondeu com boa vontade: - Minha filha, hoje não tenho... E meu
pagamento no serviço ainda está longe...
- Que devo fazer? Estou
desarvorada...
Chico pensou, pensou e
disse-lhe:
- Você peça a nossa
Mãe Santíssima socorro e o socorro não lhe faltará. A que horas você deve tomar
a medicação?
- De manhã e à noite,
respondeu a moça.
- Então, disse o
Chico, corte a receita em sessenta pedacinhos. Deixe um copo de água pura na
mesa e no momento de usar o remédio, rogue a proteção de Maria Santíssima. Tome
um pedacinho da receita com a água abençoada em memória dela e repita isso duas
vezes ao dia, no horário determinado. Sem dúvida, pela fé, você terá usado a
receita.
A enferma agradeceu e
saiu.
Passado um mês, a moça
surgiu no Centro Espírita, corada e refeita.
- Oh! É você? Disse o
Chico.
- Sim, Chico, sou eu.
Pedi socorro à nossa Mãe Santíssima. Engoli os pedacinhos do papel da receita e
estou perfeitamente boa.
- Então, minha filha,
vamos render graças a Deus. E passaram os dois à oração.
(Lindos Casos de Chico
Xavier-Ramiro Gama)
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