Não Saiba a Vossa Mão Esquerda o que
Dê a Vossa Mão Direita
Cap. XIII de
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos
homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de
vosso Pai que está nos céus. Assim, quando derdes esmola, não trombeteeis como
fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens.
Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. Quando derdes
esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita, a fim de
que a esmola fique em segredo, e vosso Pai que vê o que se passa em segredo,
vos recompensará. (Mateus, 6:1-4)
Todos os
ensinos de Jesus objetivam abrir nossas mentes para a realidade espiritual. Somos
Espíritos vinculados a este planeta para a grande tarefa de evolução. Nascemos
na Terra periodicamente e temos inúmeras oportunidades para aprender e para
sermos auferidos, ou testados. Assim, é necessário que tenhamos consciência de
que, nós e tudo o que detemos, são empréstimos concedidos pelo Criador para uma
vida produtiva, bem como para uma vida solidária, amparando aqueles que, por
razões que desconhecemos, passam por experiências bem mais duras do que as
nossas, necessitam do próximo que está mais próximo. Neste capítulo do
Evangelho, Kardec mostra-nos que existe a caridade material e a caridade moral,
esclarecendo que ambas são importantes, diante das contingências, mas que
qualquer um, pobre ou rico, pode dar algo de seu, imaterial, como respeito,
carinho, atenção, sorriso, para alguém. No caso da Viúva Pobre, o Cristo dá um
exemplo de que, para Deus, o que vale mais é o que é dado com o coração e até
com sacrifício, e não as quantidades dadas sem sentimento, apenas para mostrar
aos outros que se é dadivoso, vivendo de aparências, como costumamos fazer, sem
realmente o sermos.
Ensina Allan Kardec
que “em fazer o bem sem ostentação há grande mérito, ainda mais meritório é
ocultar a mão que dá; constitui marca incontestável de grande superioridade
moral, porquanto, para encarar as coisas de mais alto do que faz o vulgo,
mister se torna abstrair da vida presente e identificar-se com a vida futura; numa palavra, colocar-se
acima da Humanidade, para renunciar à satisfação que advém do testemunho dos
homens e esperar a aprovação de Deus. Aquele que prefere ao de Deus o sufrágio
dos homens prova que mais fé deposita nestes do que na Divindade e que mais
valor dá à vida presente do que à futura. Se diz o contrário, procede como se
não cresse no que diz. A beneficência praticada sem ostentação tem duplo
mérito. Além de ser caridade material, é caridade moral, visto que resguarda a
suscetibilidade do beneficiado, faz-lhe aceitar o benefício, sem que seu
amor-próprio se ressinta e salvaguardando-lhe a dignidade de homem, porquanto aceitar um
serviço é coisa bem diversa de receber uma esmola. Ora, converter em esmola o
serviço, pela maneira de prestá-lo, é humilhar o que o recebe, e, em humilhar a
outrem, há sempre orgulho e maldade. A verdadeira caridade, ao contrário, é
delicada e engenhosa no dissimular o benefício, no evitar até as simples
aparências capazes de melindrar, dado que todo atrito moral aumenta o
sofrimento que se origina da
necessidade. Ela sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o
beneficiado à vontade em presença do benfeitor, ao passo que a caridade
orgulhosa o esmaga. A verdadeira generosidade adquire toda a sublimidade,
quando o benfeitor, invertendo os papéis, acha meios de figurar como
beneficiado diante daquele a quem presta serviço”.
O Espírito Públio,
diz: “- Se ficar rico, construirei uma creche. Como sempre jogo e nunca ganho,
a criança sem amparo é culpa de Deus que não me ajuda. Se conseguir o tal trabalho,
prometo que ajudarei os velhos asilados. Acho que Deus não gosta de velho, pois
não me ajuda a conseguir o emprego. Se Deus me ajudar na promoção, passando os
outros para trás, prometo que vou usar todo o meu primeiro salário para comprar
comida para os pobres. E enquanto os que se julgam bons ficam esperando ganhos
especiais para que se proponha exercitar a própria bondade, as crianças sem
amparo, os velhos sem ajuda e os estômagos vazios continuam multiplicados sobre
o mundo. Quantos se perdem nos meandros de seus interesses egoísticos, tentando
obter o patrocínio Divino para suas ambições, acenando com mentirosas
promessas, falsas proposições ou indigno anseio de concretizar o amparo aos que
sofrem somente depois que se sentirem amparados pelo Pai. Em verdade, o
problema do mundo não é a fome, o abandono do velho ou da criança. Tudo isso é
efeito de uma única causa. Tudo isso existe porque o egoísmo impera. Assim, na
visão da Verdade, o que é imprescindível e necessário combater não é nem a
falta de alimento, nem a carência de vagas para idosos, ou a ausência de
creches e escolas para crianças. O combate principal é aquele que se deve
travar contra o egoísmo, a chaga maior da Humanidade. Naturalmente que, para os
famintos, anciãos ou infantes, o pedaço de pão, a cama macia ou o braço que
acalente são importantes no remediar aquilo que é fruto direto e imediato do
egoísmo. No entanto, quando o egoísmo estiver erradicado do mundo, não teremos
filhos indiferentes que isolam os pais em asilos para se livrarem de suas
responsabilidades, nem crianças nas ruas por falta de escola ou abrigo que as
eduque, nem pessoas que não possuam o mínimo para sobreviver, quando outros
poucos guardam com tanta avareza aquilo que poderia acabar com a fome de
milhares de pessoas. Desejar ter primeiro para depois doar, ganhar para ajudar,
conquistar para servir, é exercitar o egoísmo com a desculpa de matá-lo depois.
Como seria possível ao egoísta lutar contra o egoísmo se ele não consegue
livrar-se dele até para fazer o pouco Bem que se propõe realizar? Por este
motivo, perante a Justiça do Universo, o problema maior não é o das creches,
dos restaurantes populares, dos abrigos para idosos, é o da ausência da
fraternidade produzida pelo egoísmo de cada pessoa”.
Para o Espírito
Públio“ a caridade real é aquela que envolve a entrega pessoal, seja através de
coisas, bens, recursos, sentimentos, atos, pensamentos, palavras. Em sua
fundação, portanto, não está o desapossamento material indispensável, mas o
desapossamento pessoal, através do qual o ser humano se desapega não apenas do
que pensa lhe pertencer materialmente, mas, sim, daquilo que efetivamente, lhe
pertence como atributo do Espírito. Através da prática da beneficência,
naturalmente que livre de todo o interesse pessoal, por menor que seja, o Homem
se reconhece divino por excelência e passa a se alimentar das fontes nutritivas
superiores, reajustando o campo íntimo e reequilibrando os desajustes
biomagnéticos e perispirituais, o que significa tornar-se antes, o primeiro
médico de si próprio, no afã de preocupar-se em curar os que sofrem mais do que
ele mesmo. (Relembrando a
Verdade-Espírito Públio e André L. Ruiz, médium)
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