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quarta-feira, 13 de junho de 2012


O Cristo Consolador

Cap. VI, de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

O Jugo Leve
Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso de vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas,  pois meu jugo é suave e meu fardo é leve. (Mateus, 11: 28-30)

Consolador Prometido

Se me amais, guardai os meus mandamentos e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: - O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito. (João, 14: 15-17 e 26)

Explica-nos Allan Kardec que “Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha de vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido. O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: Ouçam os que têm ouvidos para ouvir. O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias; levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores.
Disse o Cristo:  Bem-aventurados os aflitos, pois serão consolados.
Mas, como há de alguém sentir-se ditoso por sofrer, se não sabe por que sofre? O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras.
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das coisas, fazendo que o homem saiba de onde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da lei de Deus e consola pela fé e pela esperança”.

Na sequência deste capítulo, Allan Kardec traz-nos as emocionantes manifestações do Espírito de Verdade, que é o próprio Cristo, como se vê claramente no primeiro parágrafo abaixo transcrito, em que ele se reporta à sua vinda no passado e o que fez há cerca de dois mil anos, bem como ao desprezo dos homens pela sua doutrina que visava aproximar a Humanidade de Deus, orientando-nos para o nosso crescimento, deixando para trás as ligações com a matéria e buscando a nossa espiritualização, para, enfim, usufruirmos do grande legado do Pai Maior, que é o estado de perfeição relativa a que estamos destinados.

Advento do Espírito de Verdade

Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável  verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: Vinde a mim, todos vós que sofreis.
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! Pois a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas!  Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade – O Espírito de Verdade. (Paris, 1860)

O Espírito Léon Tolstoi tem colaborado com a Doutrina Espírita com inúmeras obras, trazendo-nos comoventes e consoladores episódios em que, muitas vezes, o próprio Cristo, quando encarnado aqui na Terra, teve participação inesquecível. E o Espírito Tolstoi,  quando se refere ao Jugo Leve, apregoado por Jesus, diz-nos que “grandes são as aflições do homem sobre a Terra, fazendo-o questionar o porquê de tudo o que lhe ocorre... O Mestre, em transitando sobre o planeta, buscou alertar a criatura sobre a origem dos seus males, encontrando, contudo, a imensa barreira da imperfeição espiritual como impedimento maior ao entendimento da perfeição da Lei de Causa e Efeito.
Tão difícil entender que somos os senhores de nosso destino! Obrigatoriamente, plantamos e colhemos o fruto de nosso plantio... Imaturos, ainda acreditamos haver “alguém” a monitorar nossas ações e pensamentos mais íntimos! Mera ilusão. As leis divinas estão dentro de nós mesmos, ainda que delas não detenhamos plena consciência. Assim, ao errarmos, acionamos mecanismos de reequilíbrio, impulsionados pela culpa, sem que percebamos o que está ocorrendo, chegando ao ponto em que as doenças constituem a cura para males maiores, o caminho pelo qual repensamos nossas “verdades”, efetuando mudanças imprescindíveis à evolução do ser”. (Retratos de Nazaré, Espírito Léon Tolstoi e Médium Cirinéia Maffei)

O Espírito Públio dá-nos uma visão muito clara do Cristo Consolador ao dizer que “Jesus sabia das etapas que a ignorância precisa enfrentar para que consiga deixar as periféricas regiões escuras do ego e atingir com plenitude as áreas luminosas do Eu Superior. A revolucionária mensagem que foi lançada com seus exemplos de devotamento, tinha de passar por todos os degraus que representam as naturais etapas através das quais a cegueira acaba por ser substituída pela capacidade de ver.
Depois do cenário inicial, que envolveu o apoio de multidões de Espíritos abnegados e determinados na própria elevação, era natural que a mentalidade apequenada por milênios de superficialidade precisasse de um tempo mais longo para entender a profundidade dos ensinamentos que lhe haviam sido legados.
Estabelecido o padrão da ignorância típico do predomínio de uma maioria imatura, depois de criada a hierarquia, da qual os Espíritos efetivamente nobres sempre se afastam, eis que não lutam por poderes ou domínios transitórios, ficaram a direção e os postos principais do grande movimento entregues aos mais imperfeitos espíritos que, carreiristas e sedentos por domínios, se enfileiraram sempre nos diversos setores da vida humana buscando dirigir os outros, mesmo quando incapazes de dirigirem-se a si próprios.
Desse modo, confrontando a realidade de um Cristo límpido com a impureza  de suas concepções, os homens ignorantes e fracos para se submeterem às reformas que Jesus lançara como molde de crescimento, se viram na necessidade de reformar, adaptando-o ao tamanho das suas misérias. Trabalho difícil porque exigia grande grau de sutileza e artificialismo que conseguisse convencer que a verdade era mentira e que a mentira era verdade, os cérebros mais astutos estiveram envolvidos nesse empenho por séculos, inicialmente criando interpolações, reformas de palavras, até que passaram a impor os dogmas de fé, aviltando as consciências e adulterando a essência doutrinária.
Pela força religiosa de uma maioria comprometida com seus próprios desejos e defeitos, incapaz de ser, efetivamente, a representante daquela mensagem luminosa no mundo, concílios e documentos eclesiásticos lançaram a mensagem do Senhor no emaranhado confuso de conceitos conflitantes e impossíveis de se compatibilizarem com a verdade original. O trono de ouro e o poder militar estavam no lugar daquele que viera na manjedoura pobre e sem qualquer arma que não o próprio coração. Milícias e bombas, espadas e venenos substituíram a clareza e a confiança em Deus, tentando dizerem-se representantes do artífice da paz.
Entretanto, a propagação da mensagem evangélica seguia penetrando os diversos âmbitos do mundo, produzindo reações naturais em outras mentes mais preparadas e menos comprometidas com o mal ou com os defeitos ancestrais do apego e do egoísmo, fazendo luz sobre as contradições fundamentais, dando inicio à fase de perseguições produzidas por aqueles que haviam conseguido entronizar o mal em nome do bem.
A capacidade de estudar e conhecer, que até então era privilégio autorizado de poucos, passou a ser disseminada a um maior número, graças ao avanço da tecnologia, providência de origem superior a facilitar o aparecimento de livros, folhetos e formas de ensino melhoradas por uma modificação exigida pelo crescimento das necessidades de avanço dos indivíduos.
Pensavam os antigos clérigos que, com suas fogueiras conseguiriam deter o desejo de aprender, de evoluir e de progredir que possuem todos os seres humanos, como reflexo da divindade que habita em cada um.
O próximo período da evolução humana estava dando ao ser inteligente a abertura de vistas necessária para compreender os disparates de que havia sido objeto, quando a malta dos ignorantes amorais assumira o controle do pensamento e da vontade das pessoas.
Rompeu-se essa ligação de dependência escrava entre a verdade observada e a verdade revelada, preparando-se o campo para a negação de Deus, num primeiro momento, como reação a todas as absurdas práticas anteriores, perseguições e males espalhados por homens ignorantes e despreparados para a grande tarefa de representar Jesus na Terra.
Todavia, a luz da razão logo seria convocada a indagar sobre tudo, no natural esforço de entender-se a si mesma e, por piores que pudessem ser as negações sobre a existência da Inteligência Superior, a clareza de raciocínio, agora libertada do medo das torturas e da inquisição religiosa, podia aventurar-se nas cogitações, na natural curiosidade própria do homem amadurecido que, deixando sua fase infantil onde predominam os sonhos e os brinquedos, passa a querer conhecer o mundo ao seu redor e o mecanismo que o dirige.
Eis aí o momento exato e necessário ao qual se referira Jesus, quase dois mil anos antes. Tanto tempo antes, o Sábio Governante do Mundo se preocupava em afirmar aos que o escutavam e seguiam que ele iria solicitar ao Criador que enviasse um outro consolador para ensinar todas as coisas e fazer relembrar tudo aquilo que ele houvera dito, afirmando séculos antes, que o tempo iria fazer os homens se esquecerem da essência de sua mensagem.
Em plena época da maturidade do pensamento, quando as brumas da insensatez cederam ante os séculos de opressão e crimes, cansados dos equívocos  produzidos por uma dominação cega e ilógica, o impulso científico propiciou o ambiente pra que as coisas sérias do Universo fossem pensadas de maneira mais isenta e apta a tirar o ser humano da sombra de um ego mesquinho, abrindo espaço para a busca do verdadeiro Eu nobre e representativo do Criador em nosso âmago.
Chegara, então, o momento do Consolador Prometido por Jesus, aquele que viria para ensinar sobre a imortalidade, a sucessão das vidas e a destinação da Terra, a compreensão sobre os motivos da dor e do sofrimento, a necessidade do esforço do indivíduo para a evolução através do próprio suor, a revelação das leis morais que dirigem todos os seres, a importância da transformação moral que dá lugar àquela essência esquecida pelos desejos mesquinhos de domínio e imposição.
O Consolador Prometido vem levantar as vozes dos que já partiram para o até então chamado Reino dos Mortos, a fim de dar-lhes o direito de seguirem vivendo e ensinando aos que aqui estão no mundo das formas, como são as coisas no mundo das essências.
Sagrado testamento de Amor de Jesus por todos nós, o Consolador Prometido não é o instrumento de poder, nem de hierarquia, nem de domínio intelectual mas, ao contrário, o convite aos corajosos discípulos do Cristo que estejam dispostos a cumprir-lhe a vontade, na solidão do testemunho, no isolamento da incompreensão, sem receios ou exigências, a fim de que não sejam mais necessários séculos de erros e fogueiras ameaçadoras, ainda que, no meio do novo movimento que o Consolador desencadeia, tentem se misturar os antigos clérigos arrogantes e dissimulados, reencarnados, tentando barrar a marcha da verdade e loucos para instalarem um tribunalzinho aqui ou ali, acendendo fogueiras entre polêmicas e discussões.
Daí ter escolhido, o Espírito de Verdade, a advertência direta e clara aos Espíritas:
Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo”.
(Relembrando a Verdade-Espírito Públio e Médium André L. Ruiz)

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