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quarta-feira, 11 de julho de 2012


Perdão: Bem-aventurados os que são Misericordiosos
                                       Cap. X, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
                                                  Questão 661, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec
Bem-aventurados os que são misericordiosos porque obterão misericórdia.
Se perdoardes aos homens as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai Celestial vos perdoará os pecados; mas, se não perdoardes aos homens quando vos tenham ofendido, vosso Pai Celestial também não vos perdoará os pecados.
Se contra vós pecou vosso irmão, ide fazer-lhe sentir a falta em particular, a sós com ele; se vos atender, tereis ganho o vosso irmão. Então, aproximando-se dele, disse-lhe Pedro:  - Senhor, quantas vezes perdoarei a meu irmão quando houver pecado contra mim?  Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes. (Mateus, 5:7; 6:14-15; 18:15, 21 e 22)
Reconciliai-vos o mais depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido na prisão. Digo-vos, em verdade, que daí não saireis enquanto não houverdes pago o último ceitil. (Mateus, 5:7; 6:14-15; 18:15, 21 e 22; 5:25 e 26)
É importantíssimo que prestemos atenção às palavras de Jesus, pois, elas mostram-nos o que o Criador espera de nós em cada encarnação aqui na Terra. E, todos os dias, temos oportunidades de aprendizado e teste. A cada minuto estamos sendo aferidos pelas leis divinas para sermos elevados ou reprovados por força das nossas atitudes perante o próximo, ou seja, qualquer um que cruze o nosso caminho, desde nossa casa, passando pela vizinhança, pelas ruas, por nosso trabalho, em qualquer lugar. Em geral, a maior parte da população da Terra, dita civilizada, pode compreender o que realmente somos: Espíritos em evolução, progredindo sempre, conforme determina a legislação divina. Hoje, mais do que nunca, com as luzes da Doutrina Espírita que se espalham sobre o globo, ficamos cada vez mais conscientes do que somos e o que viemos fazer aqui. Sabendo o que somos torna-se bem mais fácil agir como criaturas que trabalham pela própria paz e, consequentemente, por um mundo melhor.
Segundo Allan Kardec, “a misericórdia é o complemento da brandura, porquanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão das ofensas. O ódio e o rancor denotam alma sem elevação, sem grandeza. O esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada, que paira acima dos golpes que lhe possam desferir. Uma é sempre ansiosa, de sombria suscetibilidade e cheia de fel; a outra é calma, toda mansidão e caridade.
Ai daquele que diz: nunca perdoarei. Esse, se não for condenado pelos homens, sê-lo-á por Deus. Com que direito reclamaria  ele o perdão de suas próprias faltas, se não perdoa as dos outros? Jesus nos ensina que a misericórdia não deve ter limites, quando diz que cada um perdoe ao seu irmão, não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes.
Na prática do perdão, como, em geral, na do bem, não há somente um efeito moral: há também um efeito material. A morte, como sabemos, não nos livra dos nossos inimigos; os Espíritos vingativos perseguem, muitas vezes, com seu ódio, no além-túmulo, aqueles contra os quais guardam rancor; donde decorre a falsidade do provérbio que diz: “morto o animal, morto o veneno”, quando aplicado ao homem. O Espírito mau espera que o outro, a quem ele quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interesses, ou nas suas mais caras afeições. Nesse fato reside a causa da maioria dos casos de obsessão, sobretudo dos que apresentam certa gravidade, quais os da subjugação e possessão. O obsidiado e o possesso são, pois, quase sempre vítimas de uma vingança, cujo motivo se encontra em existência anterior, e à qual o que a sofre deu lugar pelo seu proceder. Deus o permite, para os punir do mal que a seu turno praticaram, ou, se tal não ocorreu, por haverem faltado com a indulgência e a caridade, não perdoando. Importa, conseguintemente, do ponto de vista da tranquilidade futura, que cada um repare, quanto antes, os agravos que haja causado ao seu próximo, que perdoe aos seus inimigos, a fim de que, antes que a morte lhe chegue, esteja apagado qualquer motivo de dissensão, toda causa fundada de ulterior animosidade.
Por essa forma, de um inimigo encarniçado neste mundo se pode fazer um amigo no outro; pelo menos, o que assim procede põe de seu lado o bom direito e Deus não consente que aquele que perdoou sofra qualquer vingança. Quando Jesus recomenda que nos reconciliemos  o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras. Não saireis de lá, da prisão, enquanto não houverdes pago até o último centavo, isto é, enquanto não houverdes satisfeito completamente a justiça de Deus”.
Na questão 661, de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta se podemos, através da prece, pedir perdão a Deus e os Espíritos Superiores deram a seguinte resposta: - Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras.
                  Aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama
Um fariseu chamado Simão, em Cafarnaum, convidou Jesus para jantar em sua casa. O jantar ia em curso, quando bela mulher entrou com um vaso de alabastro contendo perfume. Ajoelhou-se e pôs-se a lavar os pés de Jesus, derramando lágrimas de emoção e enxugando-os com seus cabelos, beijando-os e ungindo-os  com perfume.
Simão, o fariseu hospedeiro, pretendia testar Jesus, pois, os grandes profetas jamais permitiriam que uma prostituta os tocassem tornando-os impuros. E Simão pensou: “ Se este homem fosse profeta, saberia quem é esta mulher. Trata-se de uma pecadora”.
Lá pelas tantas, Jesus disse-lhe: Simão, tenho algo a dizer-te. – Fala, Mestre...
- Certo homem tinha dois devedores: um devia quinhentos denários e o outro cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou a dívida a ambos. Qual deles, portanto, lhe terá mais amor?
- Suponho que foi aquele a quem mais perdoou.
- Julgaste bem. Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para os pés; ela, porém, os regou com lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, porém, desde que entrei, não cessou de beijar-me os pés. Não ungiste minha cabeça com óleo; ela, porém, ungiu com perfume os meus pés. Por isso te digo: perdoados lhe são os pecados, que são muitos, porque ela muito amou; mas, aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama.
E disse à  mulher: - Perdoados são os teus pecados. A tua fé te salvou. Vai-te em paz! (Lucas, 7:36-50)
                                                           Boa Nova: O Perdão
O Espírito Humberto de Campos,  relembrando fatos marcantes da visita de Jesus a Nazaré, conta que os apóstolos se inflamaram, discutindo com as pessoas nas ruas e entre si,  devido ao tratamento dispensado ao Messias pelo povo daquela cidade, falando mal Dele, ao que o Cristo afirmou, tendo em vista às inúmeras questões colocadas por seus discípulos, pois, Ele não revidara e determinara a retirada de todos daquela cidade:
- “Mas, não será vaidade exigirmos que toda gente faça de nossa personalidade elevado conceito?  Nas ilusões que as criaturas da Terra inventaram para a sua própria vida, nem sempre constitui bom atestado da nossa conduta o falarem  bem de nós, indistintamente. Agradar a todos  é marchar pelo caminho largo, onde estão as mentiras da convenção. Servir a Deus é tarefa que deve estar acima de tudo e, por vezes, nesse serviço divino, é natural que desagrademos aos mesquinhos interesses humanos.
O que é indispensável é nunca perdermos de vista o nosso próprio trabalho, sabendo perdoar com verdadeira espontaneidade de coração. Se nos labores da vida um companheiro nos parece insuportável, é possível que também algumas vezes sejamos considerados assim. Temos que perdoar aos adversários, trabalhar pelo bem dos nossos inimigos, auxiliar os que zombam da nossa fé”. 
E Pedro atalhou: - Mas, para perdoar não devemos aguardar que o inimigo se arrependa? E que fazer, na hipótese de o malfeitor assumir a atitude dos lobos sob a pele da ovelha? E Jesus respondeu-lhe:
- Pedro, o perdão não exclui a necessidade da vigilância, como o amor não prescinde da verdade. A paz é um patrimônio que cada coração está obrigado a defender, para bem trabalhar no serviço divino que lhe foi confiado. Se o nosso irmão se arrepende e procura o nosso auxílio fraterno, amparemo-lo com as energias que possamos despender; mas, em nenhuma circunstância cogites de saber se o teu irmão está arrependido. Esqueça o mal e trabalha pelo bem. Quando ensinei que cada homem deve conciliar-se depressa com o adversário, busquei salientar que ninguém pode ir a Deus com um sentimento de odiosidade no coração. Não poderemos saber se o nosso adversário está disposto à conciliação; todavia, podemos garantir que nada se fará sem a nossa boa-vontade e pleno esquecimento dos males recebidos. Se o irmão infeliz se arrepender, estejamos sempre dispostos a ampará-lo e, a todo momento, precisamos e devemos olvidar o mal.
Foi quando, então, fez Simão Pedro a sua célebre pergunta:
- Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? Será até sete vezes?
- Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete, disse-lhe Jesus.
Daí por diante, o Mestre sempre aproveitou as menores oportunidades para ensinar a necessidade do perdão recíproco, entre os homens, na obra sublime da redenção.
Acusado de feiticeiro, de servo de Satanás, de conspirador, Jesus demonstrou, em todas as ocasiões, o máximo de boa-vontade para com os espíritos mais rasteiros de seu tempo. Sem desprezar a boa palavra, no instante oportuno, trabalhou a todas as horas pela vitória do amor, com o mais alto idealismo construtivo. E no dia inesquecível do Calvário, em frente dos seus perseguidores e verdugos, revelando aos homens ser indispensável a imediata conciliação entre o espírito e a harmonia da vida, foram estas as suas últimas palavras:
- Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!... (Boa Nova, Espírito Humberto de Campos e médium Chico Xavier)

Diz-nos o Dr. Alírio de Cerqueira  Filho, que “a maior dificuldade que temos, em relação ao perdão, é o processo de culpa instalado em nossas mentes, especialmente na cultura ocidental. Temos fortemente alicerçado em nossa cultura o hábito de nos culparmos e culpar aos outros quando cometemos, ou alguém comete, algum erro. Devido a princípios religiosos, associamos o erro ao pecado e, automaticamente, à culpa. A culpa que sentimos, é resultado de séculos de condicionamento dentro do pensamento judaico-cristão. Quando o cristianismo transformou-se em catolicismo, como também ocorreu nas várias religiões dele derivadas, ele, o cristianismo, não estabelecia a culpa e a punição como segue até hoje”.
Em inúmeras passagens do Evangelho, Jesus aborda a improcedência da questão do julgamento, da condenação e da punição, reforçando a necessidade da renovação interior pelo arrependimento e pelo auto-aperfeiçoamento, que nos liberta dos erros:
E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?
Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim, os doentes. Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento. (Mateus: 9:11-13) (Psicoterapia à Luz do Evangelho de Jesus, Alirio de Cerqueira Filho)
                                                      Cumprindo a Lei do Perdão
O fato ocorreu, há vários anos, nas proximidades da cidade mineira de Pedro Leopoldo. A pobre viúva, certo dia, é surpreendida por um quadro desolador: trazem-lhe para casa o cadáver do filho assassinado. Ela não conseguiu saber a causa do homicídio e nem mesmo o nome do assassino, que fugira sem deixar pista. Inconsolável, a mãe extremosa passou a viver num verdadeiro mar de lágrimas. Como se lhe agravassem os sofrimentos morais, uma sua amiga, Dona Joaninha Gomes, resolveu recorrer aos préstimos de Chico Xavier.  O médium não se fez de rogado. Compareceu sem demora à residência da viúva, para realizar uma reunião do Culto do Evangelho. Forma-se um círculo de cinco pessoas que, após a prece inicial, se aprestam para a leitura de um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo, aberto ao acaso, indicando o item 14 do Capítulo X, intitulado Perdão das Ofensas.
Chico ia proceder à leitura, quando alguém bate à porta. A dona da casa atende. É um desconhecido, esfarrapado, a implorar um prato de comida e um cobertor. Entra. Pede-se-lhe que aguarde alguns momentos. Ele se ajeita num banco, esperando. Prossegue a sessão. Após a leitura e o comentário do tema, um dos presentes indaga da viúva se ela havia perdoado o matador de seu filho, cujo nome, daí por diante, foi repetido várias vezes.
O Evangelho, pelo menos, lhe mandava que perdoasse – foi o que respondeu.
Surge, então, o imprevisto. O desconhecido, aproximando-se da dona da casa, pergunta-lhe:
- Pois a senhora é a mãe do morto?
Incontinenti, para assombro de todos, pôs-se a chorar convulsivamente, confessando ter sido ele o assassino do rapaz. Ajoelhou-se e pediu perdão.
Num gesto de elevado sentimento cristão, a viúva, também sem conseguir conter o pranto, exclama, comovida: - Não me peça perdão, meu filho, que eu também sou uma pobre pecadora... Roguemos a Deus para que nos perdoe!
Trouxe-lhe em seguida uma refeição farta e nutriente, bem como o agasalho de que ele necessitava.
Vejamos como Chico Xavier narra o final da ocorrência, conforme encontramos no Anuário Espírita, 1972:
- Ele, entretanto, transformado, saiu do Culto do Evangelho conosco e foi-se  entregar ã Justiça. No dia imediato, Joaninha Gomes e eu voltamos ao lar da generosa senhora e ela nos contou, edificada, que durante a noite sonhara com o filho, a lhe dizer que, ele mesmo, a vítima, trouxera o ofensor ao seu regaço de mãe, para que ela o auxiliasse com bondade e socorro, entendimento e perdão.
Quanta sublimidade nesse fato real que mais parece uma pequena obra-prima de ficção! A vida imitando a arte? Seria mais certo dizer: a própria arte da vida, ou seja, a arte do bem viver, segundo os preceitos evangélicos!
Que nos sirva de lição: o Espírito evolvido perdoa ao ofensor, adquirindo mérito. O Espírito atrasado mais se atrasa exercendo a vingança sobre aquele que o ofende. Daí os terríveis  dramas da obsessão, que martirizam simultaneamente obsidiados e obsessores.
Cumpramos, pois, a Lei do Perdão, que está bem definida nas palavras do Pai Nosso:  Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores... (Pelos Caminhos da Vida-Aureliano Alves Neto)


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