Pedi e
Obtereis
Cap. XXVII, O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec
Questões 658 a 666, O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec
Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas que,
afetadamente, oram em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos
pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa.
Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a
vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a
recompensa.
Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como
fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que
serão atendidos. Não vos torneis semelhantes a eles, porque o vosso Pai sabe do
que é que tendes necessidade, antes que lho peçais.
Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer
coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus,
também vos perdoe os vossos pecados. Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos
céus, também não vos perdoará os pecados. (Mateus, 6:5-8; Marcos, 11:25-26)
Ação da Prece.
Transmissão do Pensamento
Conforme Allan Kardec,
“a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo
pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um
pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou
por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os
Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons
Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a
Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, porquanto nada sucede sem a vontade de
Deus.
O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando
o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos
acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para
apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados
no fluído universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e
desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse
fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar
é o do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao
passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o
pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para
desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e
outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som. A
energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim
que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar
onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos
transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem à distância entre
encarnados. Esta explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem
a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece,
mas tornar-lhe inteligível os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e
efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus,
juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.
Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem
das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se,
portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência
do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que favoreçam o
recolhimento. A prece comum tem ação mais poderosa,
quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam
o mesmo objetivo, porquanto é como se muitos clamassem juntos e em uníssono.
Mas, que importa seja grande o número de pessoas reunidas para orar, se cada
uma atua isoladamente e por conta própria? Cem pessoas juntas podem orar como
egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma mesma aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos
em Deus, e mais força terá a prece que lhe dirijam do que a das cem outras”.
Segundo O Livro dos Espíritos, “Orar a Deus é pensar nele, se aproximar
dele e colocar-se em comunicação com ele. Pela prece pode-se propor três
coisas: louvar, pedir e agradecer. Aquele que pede a Deus o perdão de suas
faltas não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações
são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras”.
Falando sobre os poderes
de Deus, Humberto de Campos relata que Simão Pedro, cuja sogra fora curada por
Jesus, pressionado pela família para obter favores excepcionais junto ao Senhor,
perguntou-Lhe:
-
Mestre, será que Deus nos ouve todas as orações? E Jesus respondeu-lhe:
- Não tenhas dúvida: todas
as nossas orações são ouvidas...
- Se
Deus ouve as súplicas de todos os seres, por que tamanhas diferenças de sorte? Por que razão sou obrigado a pescar,
quando Levi ganha bom salário no serviço dos impostos. Como explicar que Joana
disponha de servas numerosas, quando minha mulher é obrigada a plantar e cuidar
de nossa horta?
- Pedro, precisamos não
esquecer que o mundo pertence a Deus e que todos somos seus servidores. Os
trabalhos variam conforme a capacidade do nosso esforço. Todo trabalho
honesto é de Deus. Achas que uma casa
estaria completa sem as mãos abnegadas que lhe varrem os detritos? Se todos os
filhos de Deus se dispusessem a cobrar impostos, quem os pagaria? Assim, Pedro,
precisamos considerar, em definitivo, que somos filhos e servos de Deus, antes
de qualquer outro título convencional, dentro da vida humana. Necessário é,
pois, que disponhamos o nosso coração a bem servi-lo, seja como rei ou como
escravo, certos de que o Pai nos conhece a todos e nos conduz ao trabalho ou à
posição que mereçamos.
-
Mestre, disse Pedro, como deveremos interpretar a oração?
- Em tudo deve a oração
constituir o nosso recurso permanente de comunhão ininterrupta com Deus. Nesse
intercâmbio incessante, as criaturas devem apresentar ao Pai, no segredo das
íntimas aspirações, os seus anelos e esperanças, dúvidas e amargores. Essas
confidências lhes atenuarão os cansaços
do mundo, restaurando-lhes as energias, porque Deus lhes concederá de sua luz.
É necessário, portanto, cultivar a prece, para que ela se torne um elemento
natural da vida, como a respiração. É indispensável conheçamos o meio seguro de
nos identificarmos com o nosso Pai.
Entretanto, Pedro,
observamos que os homens não se lembram do céu, senão nos dias de incerteza e
angústia do coração. Se a ameaça é cruel e iminente o desastre, se a morte do
corpo é irremediável, os mais fortes dobram os joelhos. Mas, quanto não deverá
sentir-se o Pai amoroso e leal de que somente o procurem os filhos nos momentos
do infortúnio, por eles criados com as suas próprias mãos? Em face do
relaxamento dessas relações sagradas, por parte dos homens, indiferentes ao
carinho paternal da Providência que tudo lhes concede de útil e agradável,
improficuamente desejará o filho uma solução imediata para as suas necessidades
e problemas, sem remediar ao longo afastamento em que se conservou do Pai no
percurso, postergando-lhe os desígnios, respeito às suas questões íntimas e
profundas.
Depois de alguns dias,
Pedro tornou a comentar com Jesus:
-
Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a minha comunhão
com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas.
- E que tens pedido a
Deus?
-
Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de
certos problemas materiais.
- Pedro, enquanto orares
pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te
retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que solicitares as bênçãos
de Deus, a fim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito,
receberás pela oração os bens divinos do consolo e da paz.
Um dos filhos de Alfeu,
reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à pequena comunidade ali reunida, adiantou-se para
Jesus, pedindo:
- Senhor, ensina-nos a
orar!
Dispondo-os então em círculo
e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de luz, o Messias
pronunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à Humanidade. Elevando o
seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas
as coisas, exclamou:
- Pai Nosso, que estás
nos céus, santificado seja o teu nome. E, ponderando que a redenção da criatura nunca se
poderá efetuar sem a misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das
imperfeições humanas, continuou: - Venha a nós o teu reino. Dando a
entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as
circunstâncias, acrescentou: - Seja feita a tua vontade, assim na Terra
como nos céus. Esclarecendo que todas as possibilidades de saúde,
trabalho e experiência chegam para os homens, invariavelmente, da fonte sagrada
da proteção divina, prosseguiu: - O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Mostrando
que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma
precisa desvencilhar-se das penosas algemas do passado obscuro pela
exemplificação sublime do amor, acentuou: - Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como
nós perdoamos aos nossos devedores. Conhecedor, porém, das fragilidades
humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna dos cristãos contra o mal,
terminou a sua oração, dizendo com infinita simplicidade: Não nos deixes cair em tentação e
livra-nos de todo o mal, porque teus são o reino, o poder e glória para sempre.
Assim seja.
Levi, o mais
intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, para que a prece
do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples. A rogativa de
Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do
Cristianismo nascente.
Desde aquele dia
memorável, a oração singela de Jesus se espalhou como um perfume dos céus pelo
mundo inteiro. (Boa
Nova, Espírito Humberto de Campos e médium Chico Xavier)
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