Páginas

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Pedi e Obtereis

Cap. XXVII, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

Questões 658 a 666, O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec

Quando orardes, não vos assemelheis aos hipócritas que, afetadamente, oram em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. Digo-vos, em verdade, que eles já receberam sua recompensa. Quando quiserdes orar, entrai para o vosso quarto e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em secreto, vos dará a recompensa.

Não cuideis de pedir muito nas vossas preces, como fazem os pagãos, os quais imaginam que pela multiplicidade das palavras é que serão atendidos. Não vos torneis semelhantes a eles, porque o vosso Pai sabe do que é que tendes necessidade, antes que lho peçais.

Quando vos aprestardes para orar, se tiverdes qualquer coisa contra alguém, perdoai-lhe, a fim de que vosso Pai, que está nos céus, também vos perdoe os vossos pecados. Se não perdoardes, vosso Pai, que está nos céus, também não vos perdoará os pecados. (Mateus, 6:5-8; Marcos, 11:25-26)

Ação da Prece. Transmissão do Pensamento

Conforme Allan Kardec,  “a prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. Pode ter por objeto um pedido, um agradecimento, ou uma glorificação. Podemos orar por nós mesmos ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces feitas a Deus escutam-nas os Espíritos incumbidos da execução de suas vontades; as que se dirigem aos bons Espíritos são reportadas a Deus. Quando alguém ora a outros seres que não a Deus, fá-lo recorrendo a intermediários, porquanto nada sucede sem a vontade de Deus.

O Espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluído universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluido recebe da vontade uma impulsão; ele é o veículo do pensamento, como o ar é o do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluido universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som. A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem à distância entre encarnados. Esta explicação vai, sobretudo, com vistas aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar-lhe inteligível os efeitos, mostrando que pode exercer ação direta e efetiva. Nem por isso deixa essa ação de estar subordinada à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, único apto a torná-la eficaz.

Está no pensamento o poder da prece, que por nada depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Pode-se, portanto, orar em toda parte e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência do lugar ou do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que favoreçam o recolhimento. A prece comum tem ação mais poderosa, quando todos os que oram se associam de coração a um mesmo pensamento e colimam o mesmo objetivo, porquanto é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas, que importa seja grande o número de pessoas reunidas para orar, se cada uma atua isoladamente e por conta própria? Cem pessoas juntas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma  mesma aspiração, orarão quais verdadeiros irmãos em Deus, e mais força terá a prece que lhe dirijam do que a das cem outras”.

Segundo O Livro dos Espíritos, “Orar a Deus é pensar nele, se aproximar dele e colocar-se em comunicação com ele. Pela prece pode-se propor três coisas: louvar, pedir e agradecer. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são as melhores preces, porque os atos valem mais que as palavras”.

Falando sobre os poderes de Deus, Humberto de Campos relata que Simão Pedro, cuja sogra fora curada por Jesus, pressionado pela família para obter favores excepcionais junto ao Senhor, perguntou-Lhe:

- Mestre, será que Deus nos ouve todas as orações? E Jesus respondeu-lhe:

- Não tenhas dúvida: todas as nossas orações são ouvidas...

- Se Deus ouve as súplicas de todos os seres, por que tamanhas diferenças de sorte? Por que razão sou obrigado a pescar, quando Levi ganha bom salário no serviço dos impostos. Como explicar que Joana disponha de servas numerosas, quando minha mulher é obrigada a plantar e cuidar de nossa horta?

- Pedro, precisamos não esquecer que o mundo pertence a Deus e que todos somos seus servidores. Os trabalhos variam conforme a capacidade do nosso esforço. Todo trabalho honesto  é de Deus. Achas que uma casa estaria completa sem as mãos abnegadas que lhe varrem os detritos? Se todos os filhos de Deus se dispusessem a cobrar impostos, quem os pagaria? Assim, Pedro, precisamos considerar, em definitivo, que somos filhos e servos de Deus, antes de qualquer outro título convencional, dentro da vida humana. Necessário é, pois, que disponhamos o nosso coração a bem servi-lo, seja como rei ou como escravo, certos de que o Pai nos conhece a todos e nos conduz ao trabalho ou à posição que mereçamos.

- Mestre, disse Pedro, como deveremos interpretar a oração?

- Em tudo deve a oração constituir o nosso recurso permanente de comunhão ininterrupta com Deus. Nesse intercâmbio incessante, as criaturas devem apresentar ao Pai, no segredo das íntimas aspirações, os seus anelos e esperanças, dúvidas e amargores. Essas confidências lhes atenuarão  os cansaços do mundo, restaurando-lhes as energias, porque Deus lhes concederá de sua luz. É necessário, portanto, cultivar a prece, para que ela se torne um elemento natural da vida, como a respiração. É indispensável conheçamos o meio seguro de nos identificarmos com o nosso Pai.

Entretanto, Pedro, observamos que os homens não se lembram do céu, senão nos dias de incerteza e angústia do coração. Se a ameaça é cruel e iminente o desastre, se a morte do corpo é irremediável, os mais fortes dobram os joelhos. Mas, quanto não deverá sentir-se o Pai amoroso e leal de que somente o procurem os filhos nos momentos do infortúnio, por eles criados com as suas próprias mãos? Em face do relaxamento dessas relações sagradas, por parte dos homens, indiferentes ao carinho paternal da Providência que tudo lhes concede de útil e agradável, improficuamente desejará o filho uma solução imediata para as suas necessidades e problemas, sem remediar ao longo afastamento em que se conservou do Pai no percurso, postergando-lhe os desígnios, respeito às suas questões íntimas e profundas.

Depois de alguns dias, Pedro tornou a comentar com  Jesus:

- Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter inalterável a minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de minhas súplicas.

- E que tens pedido a Deus?

- Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de certos problemas materiais.

- Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos, é possível que te retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que solicitares as bênçãos de Deus, a fim de compreenderes a sua vontade justa e sábia, a teu respeito, receberás pela oração os bens divinos do consolo e da paz.

Um dos filhos de Alfeu, reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à pequena  comunidade ali reunida, adiantou-se para Jesus, pedindo:

- Senhor, ensina-nos a orar!

Dispondo-os então em círculo e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de luz, o Messias pronunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à Humanidade. Elevando o seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas as coisas, exclamou:

- Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome. E, ponderando que a redenção da criatura nunca se poderá efetuar sem a misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das imperfeições humanas, continuou: - Venha a nós o teu reino. Dando a entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as circunstâncias, acrescentou: - Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos céus. Esclarecendo que todas as possibilidades de saúde, trabalho e experiência chegam para os homens, invariavelmente, da fonte sagrada da proteção divina, prosseguiu: - O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Mostrando que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma precisa desvencilhar-se das penosas algemas do passado obscuro pela exemplificação sublime do amor, acentuou: - Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Conhecedor, porém, das fragilidades humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna dos cristãos contra o mal, terminou a sua oração, dizendo com infinita simplicidade: Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo o mal, porque teus são o reino, o poder e glória para sempre. Assim seja.

Levi, o mais intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, para que a prece do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples. A rogativa de Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do Cristianismo nascente.

Desde aquele dia memorável, a oração singela de Jesus se espalhou como um perfume dos céus pelo mundo inteiro. (Boa Nova, Espírito Humberto de Campos e médium Chico Xavier)


Nenhum comentário:

Postar um comentário