Bem-aventurados os Aflitos
Cap. V, O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec
Bem-aventurados
os que choram, pois que serão consolados. Bem-aventurados os famintos e os
sequiosos de justiça, pois que serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem
perseguição pela justiça, pois que é deles o reino dos céus. (Mateus, 5:4, 6-10)
Bem-aventurados
vós, que sois pobres, porque vosso é o reino dos céus. Bem-aventurados vós, que
agora tendes fome, porque sereis saciados. Ditosos sois, vós que agora chorais,
porque rireis.(Lucas, 6:20-21)
Ensina Allan Kardec que “somente na vida futura podem
efetivar-se as compensações que Jesus
promete aos aflitos da Terra. Sem a certeza do futuro, estas máximas seriam um
contra-senso; mais ainda: seriam um engodo. Mesmo com esta certeza,
dificilmente se compreende a conveniência de sofrer para ser feliz. Mas, então
pergunta-se: por que sofrem uns mais do que outros? Por que nascem uns na
miséria e outros na opulência, sem coisa alguma haverem feito que justifique
essas posições? Por que uns nada conseguem ao passo que a outros tudo parece
sorrir? Todavia, o que ainda menos se compreende é que os bens e os males sejam
tão desigualmente repartidos entre o vício e a virtude; e que os homens
virtuosos sofram, ao lado dos maus que prosperam. A fé no futuro pode consolar
e infundir paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a
justiça de Deus. Entretanto, desde que admita a existência de Deus, ninguém o
pode conceber sem o infinito das perfeições. Ele necessariamente tem todo o
poder, toda a justiça, toda a bondade, sem o que não seria Deus. Se é
soberanamente bom e justo, não pode agir com capricho, nem com parcialidade. Logo,
as vicissitudes da vida derivam de uma causa e, pois, que Deus é justo, justa
há de ser essa causa. Isso é o que cada um deve bem compenetrar-se. Por
meio dos ensinos de Jesus, Deus pôs os homens na direção dessa causa, e hoje,
julgando-os suficientemente maduros para compreendê-la, lhes revela
completamente a aludida causa, por meio do Espiritismo, isto é, pela palavra
dos Espíritos.
Kardec ensina que os problemas da vida originam-se de
duas fontes: uns têm causa nesta vida e outros fora desta vida.
Causas Atuais das Aflições
Quantos homens
caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu
orgulho e de sua ambição! Quantos se arruínam por falta de ordem, de
perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!
Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de
vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma! Quantas dissensões e
funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos
suscetibilidade! Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos
excessos de todo gênero!”
Ensina o Prof. Raul Teixeira que, “no
campo das aflições da criatura humana, podemos identificar causas que são
criadas agora. Muita gente chora, se lamenta. Há muitos que se desesperam
diante dos problemas, dos tormentos, das dificuldades que estão lhes
assoberbando a vida na atualidade, nesses dias. Quase
nunca essas mesmas pessoas se apercebem de que esses sofrimentos, essas
aflições, esses problemas pelos quais estão passando foram criados agora, nesta
mesma vida, nos tempos da nossa trajetória terrestre. Uma das causas mais pungentes de aflições é o
temperamento. Meu Deus! Quantas são as pessoas que
têm temperamentos fortíssimos. São ditas pessoas
de pavios curtos. Há
outras que nem pavios têm, explodem por qualquer coisa. Então, são pessoas mal
vistas, não são queridas, onde chegam os outros saem. E isso é motivo de
tormento, de aflição. Mas, por causa delas mesmas. Existem outras que afirmam não levar desaforos para
casa e, por qualquer coisa, estouram. Outras afirmam que são muito boas, mas
que ninguém pode pisar-lhes os pés, outras dizem... outras dizem tantas coisas
para justificar o injustificável.
Eu
dou um boi para não entrar na briga; dou uma boiada para não sair da briga.
São pessoas temperamentais, estranhas criaturas. Vão
gerando em torno de si medo em algumas, raiva em outras, indiferença em várias.
Ao mesmo tempo, geram reações similares de outros que também tenham pavios
curtos, não tenham pavios ou que também são muito boas enquanto não tenham os
pés pisados. Afinal de contas, vivemos na Terra em
busca da felicidade, em busca da nossa integração com Deus e com Suas Leis. Não importa se não se é religioso, se não se
frequenta instituição religiosa, se não se participa de circuitos religiosos,
Deus é o Pai do Universo. Não nos importa como Ele seja chamado. Ele é o Pai do
Universo, é o Grande Criador. E o nosso compromisso, nesta vida, é nos ajustar
às Suas Leis. Então há muitos sofrimentos, muitas
aflições geradas por causa do nosso temperamento. Pessoas explosivas, pessoas que
se fecham, ao invés de conversar, de discutir, de dizer o que é que lhes está
incomodando. Elas se fecham e agem com raiva, com mágoa, com ódio, sem dizer
uma palavra. Quando se lhes perguntam: Há algum problema? - elas dizem: Não, está tudo bem. Mas neste está
tudo bem, vai a marca da sua indisposição interior.
Também há problemas, aflições nesta
atualidade, que são pendentes dos vícios que adquirimos. Quantos vícios! Uma
criatura que aprendeu a fumar desde novinha, dali há poucos anos estará com
asma, com bronquite, com enfisema pulmonar e quem sabe com câncer. Estará
transpirando mau odor, o tabaco na circulação sanguínea.
Quantas são as enfermidades,
amputações, degenerescências orgânicas por causa do tabagismo. Não é Lei de Deus ter que fumar, não foi uma
imposição da Divindade ter que fumar, mas há liberdade, o livre arbítrio. Nesta
mesma vida, o indivíduo começou a usar essa droga, o tabaco e foi adoecendo o
corpo, foi mutilando o corpo.
Então, é natural que nós identifiquemos
nesses indivíduos todos, aqueles que estão provocando aflições para suas vidas,
nesta atualidade, nesta mesma existência.
Há aqueles que usam alcoólicos e vão na
mesma direção. Bebem porque bebem. Afirmam mil coisas: bebem por alegria, bebem
por tristeza, bebem porque está quente, bebem porque o tempo está frio.
Bebem porque bebem e vão gerando
desgastes orgânicos, problemas neurológicos, dificuldades sociais que começam
na família, atormentada com uma pessoa alcoólatra ou alcoólica, como se diz
atualmente. Começamos
a verificar que há muitas aflições cujas causas estão na nossa vida presente,
fazem parte da nossa atualidade e cabe a nós ter precaução e evitar
gradativamente.
Existem situações que, verdadeiramente,
são dispensáveis. Há coisas que não se precisa viver aqui, agora, não precisa
sofrer nesta existência.
Recordo-me de um episódio que
acompanhei de perto, porque se tratava de uma pessoa de minhas relações, que
demorou muito a se casar. Era uma
jovem, professora e demorou a se casar porque queria encontrar o par ideal. Casou-se com um homem mais maduro que ela mas de um
temperamento muito explosivo, daqueles intolerantes. Casaram-se, viveram felizes alguns meses. Ela
engravidou, nasceu-lhe o bebê e quando o bebê contava três meses de idade, era
fim de ano e o casal resolveu ir a um comércio para comprar um refrigerador de
maior tamanho, para atender à família que estava começando a crescer. Saíram, fizeram as compras e voltaram para casa.
Ele dirigindo o carro e ela, ao lado, com a criança nos braços. Numa determinada rua da cidade, um taxista
fechou-lhe o carro, por inadvertência desses profissionais que trabalham de
qualquer jeito. Fechou-lhe o carro e ele, naquela aflição, naquela agonia,
imaginou que o taxista tivesse feito de propósito. Acelerou seu veículo, foi atrás do taxista,
cercou-o e abriu a porta do carro. Era para discutir, era para brigar, mas o
taxista imaginou que ele fosse ser agredido, tomou da arma no porta-luvas do
táxi e descarregou sobre o pai de família. Matou
na hora e a esposa teve que criar o filho a sós, sofrer a dificuldade da viuvez
e de todos os comprometimentos decorrentes disso. O outro homem, na prisão. E a
vida seguiu seu curso.
Não haveria nenhuma necessidade dessa
criança ser criada órfã, dessa mulher ficar viúva, desse taxista ser preso, se
não fosse o temperamento e uma atitude infeliz de uma pessoa tensa, de
temperamento tenso.
São as causas atuais das aflições.
Quantas são as pessoas que vão limpar a janela do prédio, do edifício, sem
qualquer instrumento de segurança?
Dependuram-se nas janelas e caem. Não
foi Deus que fez, não estava na hora. São suicídios indiretos.
Quantas são as criaturas que bebem
alcoólicos e apanham o carro para dirigir. Elas podem se matar, podem matar os
outros, podem provocar tragédias inomináveis na sociedade. Aflições geradas,
agora, pela inadvertência, pela incúria, pela má vontade, pelo temperamento
rebelde de alguém que entendeu que o álcool em si não teria o mesmo efeito que
tem sobre todas as demais pessoas. Então
começamos a perceber que há muitas aflições que geramos agora.
Aqueles pais que não educam bem aos
seus filhos e, desde cedo, vão lhes ensinando a devolver violência com
violência, a brigar nas ruas, a não levar desaforos para casa, a tirar proveito
de tudo, a passar por cima de todo mundo para conquistar seus objetivos em nome
da esperteza, logo mais, esses pais estarão sofrendo tanto, porque a polícia
virá à sua porta dizer que eles mataram índios, incendiaram índios pensando que
eram mendigos, bateram em empregadas domésticas, supondo que fossem meretrizes,
como se mendigos e meretrizes devessem apanhar da classe média ou de quem quer
que seja. A educação que receberam. E tanto é
verdade que são esses mesmos pais, que já deflagraram esse processo horrível de
deseducação ou de má educação, que vão em busca de profissionais corruptos para
defender seus filhinhos dos crimes
que eles próprios ensinaram.
É tão estranha a criatura humana quando
se distancia das Leis de Deus, quando não presta atenção no mundo que é, por si
mesmo, de provas e de expiações, que nos cabe amaciar, vivendo melhor. Como é
que me aproveitarei de qualquer que seja a situação de minha vida para piorar a
minha condição?
É preciso ter muito cuidado para que
não geremos nestes dias de nossa vida aflições que teremos que sofrer nestes
dias de nossa vida.(Prof. Raul Teixeira)
Causas Anteriores das Aflições
E Kardec continua: “Mas,
se há males nesta vida cuja causa primária é o homem, outros há também aos
quais, pelo menos na aparência, ele é completamente estranho e que parecem
atingi-lo como por fatalidade. Tal, por exemplo, a perda de entes queridos e a
dos que são o amparo da família. Tais, ainda, os acidentes que nenhuma previsão
poderia impedir; os reveses da fortuna, que frustram todas as precauções
aconselhadas pela prudência; os flagelos naturais, as enfermidades de nascença,
sobretudo as que tiram a tantos infelizes os meios de ganhar a vida pelo
trabalho: as deformidades, a idiotia, o cretinismo, etc. Os que nascem nessas
condições, certamente nada hão feito na existência atual para merecer, sem
compensação, tão triste sorte, que não podiam evitar, que são impotentes para
mudar por si mesmos e que os põe à mercê da comiseração pública. Por que, pois,
seres tão desgraçados, enquanto, ao lado deles, sob o mesmo teto, na mesma
família, outros são favorecidos de todos os modos?
Todavia, em virtude do
axioma segundo o qual todo o efeito tem
uma causa, tais misérias são efeitos que hão de ter uma causa e, desde que
se admita um Deus justo, essa causa também há de ser justa. Ora, o efeito
precedendo sempre a causa, se esta não se encontra na vida atual, há de ser anterior a essa
vida, isto é, há de estar numa existência precedente.”
E o Prof. Raul Teixeira prossegue: “Há
muitas coisas na existência que nos causam dúvidas curiosas.
Há muita coisa que se não sabe de onde
é que vem, porque acontece, como é que ocorre.
Basta olharmos as nossas crianças.
Desde novinhas, demonstram coisas curiosas para nós, nos dizem coisas que nunca
lhes ensinamos, apresentam situações que nunca esperamos.
Crianças que nascem microcéfalas, com o
crânio reduzido; macrocéfalas, com o crânio ampliado; crianças que nascem sem
cérebro, anencéfalas; crianças que nascem surdas, mudas, que ficam paralíticas,
sem nenhuma razão exterior palpável.
As mães fizeram pré-natais notáveis,
sérios, com bons médicos e os filhos nascem com lesões irreversíveis.
Encontramos situações para as quais não
vemos explicações imediatas na vida que temos.
Por que é que nascem crianças em Nova
York, em São Paulo, em Tóquio, que não lhes falta nada e nascem outras em Serra
Leoa, na Libéria, nos confins do Nordeste brasileiro às quais falta tudo?
Qual é a visão que temos dessas
questões, se considerarmos as Leis de Deus? Por que é que Deus faz isto?
Por que nascem crianças com todas as
possibilidades de se desenvolver e nascem outras para as quais falta tudo? As
dificuldades homéricas para que se desenvolvam...
Como é que nascem crianças ricas,
poderosas e outras miseráveis, famélicas? Como explicar essas coisas?
Essas crianças não fizeram nada para
merecer isso.
A voz popular diz que são verdadeiros
anjinhos e uma mãe retém, nos seus braços, um anjinho marcado por doenças
incuráveis ou por doenças gravíssimas tendo ela feito tudo o que era preciso
fazer durante a gestação, tendo ela todo o amor do mundo para dar ao seu neném.
O que é que acontece?
Ficamos pensando nesses problemas para
os quais não achamos explicações agora, nesta atualidade do mundo, mas nem por
isso menos aturdentes.
São situações grotescas mesmo. Como é
que uma criança é violada? É violentada e morta? Como se justifica isto?
Somente na fereza do adulto que fez?
Como é que podemos justificar isso, se consideramos as Leis de Deus Leis de
perfeição?
Isso faz com que muita gente estabeleça
não crer mais em Deus porque seria impossível admitirmos esse Deus justo,
amoroso, bom, paternal, Pai de toda a Humanidade, admitindo a unicidade das
vidas. Chegamos na Terra uma vez só, vivemos na Terra uma vez só. Se for assim,
a vida não merece ser vivida.
Essa miséria toda que se espalha no
mundo, ao lado dessa riqueza toda que o mundo guarda. Deus, de fato, não
poderia existir.
O que acontece é que, às vezes, nos
falta esse olhar para compreendermos que não estamos na Terra por primeira vez,
nem pela última vez.
Adotar a visão milenar
reencarnacionista, não aquela que, por exemplo, têm os nossos irmãos indianos
de que um familiar pode nascer num rato, num bicho qualquer, como havia na
Grécia a ideia da metempsicose; seres humanos que podiam nascer em corpos de
plantas ou de bichos. Não, não é por aí.
Admitimos, sim, que as almas voltam
para habitar novos corpos, para viver de novo na Terra, mas em corpos humanos
e, nesses corpos humanos é que elas terão que dar conta do que desarranjaram no
seu passado, quando viveram em outros corpos humanos.
Diante dessas situações, temos que
admitir que não existe uma única existência na Terra, não existe uma única vida
na Terra.
Lembramos do texto do Evangelista João,
no seu capítulo terceiro, onde há uma conversa entre Jesus e o Rabi Nicodemos
quando Ele diz que: Aquele que não nascer
de novo, não verá o Reino dos Céus.
Nicodemos pergunta ao Mestre Jesus: Como pode um homem, sendo velho, voltar ao
ventre de sua mãe para tornar a nascer?
Nicodemos tinha entendido, não tinha
admitido que pudesse acontecer isso. Como é que um homem velho...?
E Jesus Cristo redargue:
Aquele que não nascer da água e do Espírito, não
verá o Reino dos Céus.
Naturalmente que, ao longo das idades,
já no século XX, os cientistas demonstraram que um corpo físico é um corpo de
água. Demonstraram que a vida orgânica nasceu no seio das águas, ainda nos
tempos remotos da Terra.
E nascer do Espírito é essa renovação
que o corpo físico nos permite viver.
Estamos num corpo físico para aprender
a iluminar o Espírito, para trabalhar essa questão da alma.
Então aqueles equívocos, aqueles erros
que perpetramos em outras vidas, em outras existências, não se apagaram.
Mas não foi outra pessoa que viveu esse passado?
Sim, foi outra pessoa, mas o mesmo
indivíduo.
A pessoa, a personalidade é a máscara; Persona, do latim, quer dizer máscara,
cara.
Em cada existência, mudamos de face,
mudamos de cara, mudamos de persona,
mudamos a personalidade, mas é o mesmo indivíduo mudando de caras, mudando de
máscaras. Quando trocamos de roupa, não deixamos de ser quem somos.
Então, os erros que cometemos no
passado voltam conosco. Estamos de roupa nova, mas a alma é a mesma e temos que
dar conta disto.
Os acertos que tenhamos feito no
passado também retornam conosco.
É por isso que já merecemos uma
sociedade com progressos, já temos luz elétrica, já temos vacinas, já temos remédios,
já temos uma moradia boa.
Isso tudo corresponde ao bem que já
espalhamos na Terra, ao bem que já fizemos na Terra, às realidades luminosas
que inauguramos na Terra.
No entanto, os erros cometidos, os
enganos perpetrados, Cristo disse: Só
saireis daí depois de pagardes o último quadrante, a última moeda.
É importantíssimo perceber que a Terra
é, ao mesmo tempo, uma escola, também um hospital, também uma cadeia,
dependendo daquilo que estejamos fazendo aqui.
Quem precisa continuar aprendizados que
não foram concluídos no seu passado e está na Terra, a Terra se lhe mostra uma
escola.
Quem não foi punido pela justiça no
passado, foi esperto e escapou da lei, para esses, quando retornam, a Terra é a
mão da justiça, é um presídio, é um cárcere.
Para aqueles que criaram patologias nas
vivências desorganizadas do seu passado, os que se encheram de drogas, de
excessos e infelicitaram a vida e saíram do corpo mais cedo, voltam à Terra e,
para esses, a Terra é um hospital.
De qualquer forma, seja uma escola, um
hospital, uma oficina de trabalhos, seja um presídio, a Terra é o nosso campo
abençoado de oportunidades.
Tudo quanto não temos explicações na
atualidade, essas explicações estão no nosso passado, nas coisas que fizemos,
positivas ou negativas.
Todos estamos na Terra nascidos de
novo, como lembrou Jesus.
Quem não nascer de novo, não progride,
não avança, não melhora, não tem tempo para isto.
Seria terrível em uma única existência
definirmos tudo. Quem vive cem anos na Terra não aprende tudo. Imaginemos quem
nasce e morre, quem morre jovem não aprendeu tudo, nem no mundo do intelecto,
nem no campo da moral, da ética.
É por isso que precisamos voltar à essa
escola, voltar a esse cárcere, voltar a esse hospital, voltar a esse campo de
aprendizados, que é a Terra.
Todas as questões para as quais não
encontremos respostas hoje, essas respostas estão no ontem nosso, pessoal ou no
ontem da Humanidade.” (Prof. Raul Teixeira)
O Sofrimento Alheio
Belarmino Cintra,
sentado no quinto banco do bonde, estava magoado, desesperado. Por 11 anos
aguardara a promoção no trabalho correto na repartição onde estava há 20 anos,
mas outro colega, que ele julgava sem condições, ocupara a vaga. Então,
escrevera uma carta ao chefe ameaçando-o de inquérito escandaloso, e o chefe
chamara-o a gabinete para entendimento pessoal. Não suportaria qualquer
advertência. Estava revoltado e armara-se caso o chefe lhe desconsiderasse.
O bonde para por
alguns minutos e, no banco da frente, uma senhora míope levanta um livro
espírita que Belarmino lê a seguinte frase: -
Tenha paciência. Fitando o sofrimento
alheio, aprendemos a encontrar a felicidade que é nossa. Belarmino sentiu
uma ducha fria. Nisso sobe um homem pesado e senta-se no banco próximo e
comenta:
- Vida penosa! Não
aguento mais!
- É, meu amigo, disse
outro homem que estava ao lado, cada qual neste mundo tem sua quota de
aflição...
- Vida boa é de
médico, disse o gordo ao passarem em
frente a um consultório médico com uma fila enorme. Os clientes lhe trazem a
sopa à boca.
- O senhor está
enganado. Eu sou médico. Estamos presos ao sofrimento humano. Cada enfermo é um
problema... E desabafa: - Vida boa deve ser do caixeiro viajante...
- Caixeiro viajante?
Não diga isso. Sou viajante comercial há 15 anos e só encontro humilhações por toda parte, longe da família...
Belarmino prestava
atenção na conversa, quando uma senhora subiu no bonde com uma criança doente,
com uma faixa sanguinolenta nos olhos.
E Belarmino
perguntou-lhe: - O que foi?
- Meu filhinho perdeu
os olhos com a explosão de uma bomba.
Ele procura
consolá-la.
Pouco depois, ele
desce do bonde, transformado, e entra no gabinete da chefia. O diretor recebe-o, evidentemente irritado. Mas,
Belarmino fala humilde:
- Doutor, antes de
tudo, quero pedir-lhe desculpas por minha carta violenta e ofensiva... Eu não
tinha razão!
O chefe sorriu, como
quem se livrara de um desastre iminente, e falou alegre:
- Oh! Graças a Deus,
você entendeu por fim... As injunções políticas são pedras no caminho... Somos
companheiros, Belarmino. Não perca a esperança. A promoção virá breve... Mas
Belarmino sorri também, e roga:
- Doutor, peço-lhe! Não se preocupe comigo. Eu estava
perturbado.
E despediu-se
tranquilo, para voltar ao trabalho.
Mas, no dia seguinte,
o chefe procurou-o, com excelentes informes, e Belarmino contou-lhe a história
viva da frase que lera de escantilhão. (Almas em Desfile-Espírito Hilário
Silva, FCX e WV)
Nenhum comentário:
Postar um comentário