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terça-feira, 21 de agosto de 2012


                   Bem-aventurados os Pobres de Espírito

                       Cap. VII, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec

       Bem-aventurados os pobres de espírito, pois que deles é o reino dos céus.

Então, a mãe dos filhos de Zebedeu(Salomé) se aproximou dele com seus dois filhos e o adorou, dando a entender que lhe queria pedir alguma coisa. Disse-lhe ele: - Que queres? Manda, disse ela, que estes meus dois filhos(Tiago e João) tenham assento no teu reino, um à tua direita e o outro à tua esquerda. Mas, Jesus lhe respondeu: Não sabes o que pedes; podeis vós ambos beber o cálice que eu vou beber? Eles responderam: Podemos. Jesus lhes replicou: É certo que bebereis o cálice que eu beber; mas, pelo que respeita a vos sentardes à minha direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim vo-lo conceder; isso será  para aqueles a quem meu Pai o tem preparado. Ouvindo isso, os dez outros apóstolos se encheram de indignação contra os dois irmãos. Jesus, chamando-os para perto de si, lhes disse: Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os grandes as tratam com império. Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo; e aquele que quiser ser o primeiro entre vós, seja vosso  escravo; do mesmo modo que o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de muitos.
Por essa ocasião, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: Quem é o maior no reino dos  céus? Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: - Digo-vos, em verdade que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe.
Disse, Jesus, estas palavras: - Graças te dou, meu Pai, Senhor do céu e da Terra, por haveres ocultado estas coisas aos doutos e aos prudentes e por as teres revelado aos simples e aos pequenos.  (Mateus, 5:3; 18: 1-5; 20: 20-28; 11:25)

Segundo Allan Kardec, “por pobres de espírito Jesus não entende os baldos de inteligência, mas os humildes, tanto que diz ser para estes o reino dos céus e não para os orgulhosos. Os homens de saber e de espírito, no entender  do mundo, formam geralmente tão alto conceito de si próprios e da sua superioridade, que consideram as coisas divinas como indignas de lhes merecer a atenção. Concentrando sobre si mesmos os seus olhares, eles não os podem elevar até Deus. Essa tendência de se acreditarem superiores a tudo, muito amiúde os leva a negar até mesmo a Divindade. Ou, se condescendem em admiti-la, contestam-lhe um dos mais belos atributos: a ação providencial sobre as coisas deste mundo, persuadidos de que eles são suficientes para bem governá-lo. Tomando a inteligência que possuem para medida da inteligência universal, e julgando-se aptos a tudo compreender, não podem crer na possibilidade do que não compreendem. Consideram sem apelação as sentenças que proferem. Se se recusam a admitir o mundo invisível e uma potência extra-humana, não é que isso lhes esteja fora do alcance, é que o orgulho se lhes revolta à ideia de uma coisa acima da qual não possam colocar-se e que os faria descer do pedestal onde se contemplam. Daí  o só terem olhos de mofa para tudo o que não pertence ao mundo visível e tangível. Eles se atribuem espírito e saber em tão grande cópia, que não podem crer em coisas, segundo pensam, boas apenas para gente simples, tendo por pobres de espírito os que as tomam a sério. Entretanto, digam o que disserem, forçoso lhes será entrar, como os outros, nesse mundo invisível de que escarnecem. É lá que os olhos se lhes abrirão e eles reconhecerão o erro em que caíram. Deus, porém, que é justo, não pode receber da mesma forma aquele que lhe desconheceu a majestade e outro que humildemente se lhe submeteu às leis, nem os aquinhoar em partes iguais”.

O grão de mostarda, o trigo, o carvalho, o pólen das flores, todos são importantes na Terra. O grão de areia se anula ante outro para construir a praia imensa que recebe as ondas do mar carinhosamente. Tudo é importante diante de meu Pai...
Entre os homens, o maior é sempre aquele que se esquece de si mesmo, tornando-se o melhor servidor, aquele que não se cansa de ajudar...
Aquele que, dentre vós, desejar ser o maior, o mais importante, o mais amado, torne-se o melhor servidor, o mais atento amigo, sempre vigilante para ajudar e desculpar, porque esse, sim, fará falta, será notado quando ausente, se tornará alicerce para a construção do edifício do Bem.(Até o Fim dos Tempos-Espírito Amélia Rodrigues, médium Divaldo Franco)
Por que Jesus se vale de uma criança como modelo para alcançar o Reino de Deus? Primeiramente está a ideia de humildade, de pequenez. Não será com arrogância e com violência que se ganhará o Reino de Deus, mas com doçura  e desejo de servir. O conquistador do Reino de Deus é aquele que serve antes de ser servido. É aquele que, como Jesus, é capaz de lavar os pés empoeirados do homem comum. É preciso ser puro de coração como uma criança para alcançar o Reino de Deus. A criança, enquanto não está contaminada com a maneira hipócrita de viver da maioria dos adultos, fala sempre com muita sinceridade, porque ainda não aprendeu a mentir.

Conta-se que dois espertalhões, desejando ganhar dinheiro às custas de um rei, foram até o palácio e propuseram ao monarca o seguinte:  Faremos para o senhor uma roupa mágica, tecida com fios divinos, tirados do tear dos deuses. Essa roupa, entretanto, só poderá ser vista por pessoas honestas, que não corrompem nem são corrompidas, pessoas verdadeiras e leais à Vossa Majestade. Assim, o senhor saberá quem lhe é fiel e quem não é. O rei gostou da ideia e deu prazo de 5 dias para que a roupa fantástica fosse feita. No segundo dia, o rei que estava curioso sobre a roupa, mandou um de seus ministros inspecionar a oficina. O ministro, que não era honesto, contou ao rei que a roupa estava ficando muito bonita. A farsa continuou até que a roupa, pronta, foi levada ao rei que, também não a vendo, acreditou que ele próprio não era tão honesto quanto imaginara. Então, o rei decidiu fazer um grande teste: sairia pelas ruas com a sua roupa nova, conhecendo, assim, o caráter de seus súditos. A comitiva, com banda, deixou o castelo e marchou por toda a cidade e todos que a viam diziam para o rei ouvir: “Que bela roupa!” “Nunca vossa majestade esteve tão bem vestido!” Ao passar por uma praça, entretanto, uma criança gritou muito admirada:  “O rei está nu”.

A criança é sincera, franca e honesta até que aprende com  os adultos a ser mentirosa, desonesta, insincera. E Jesus quer de nós essa pureza da criança, esta franqueza natural, sem hipocrisia.

Há, entretanto, uma vaidade que se veste com a capa da humildade para enganar as pessoas menos perspicazes. Conta-se que na cidade de Atenas o filósofo Glauco adorava passar por humilde, usando sempre um velho manto. Certo dia, encontrou-se com Sócrates que, ao vê-lo, comentou: “Oh! Glauco, vejo a tua vaidade me espreitando pelos buracos de teu manto”. Existem pessoas que, como Glauco, vestem-se mal, tentando demonstrar humildade. Os humildes raramente se dão conta do seu modo de ser. 

Albert Einstein foi convidado pela rainha Juliana para um almoço e ele não compareceu. Bem depois do horário, um homem insistia em falar com a rainha. Ela perguntou-lhe o que havia ocorrido e por que chegara atrasado. Ele disse que o motivo era que viera de ônibus. Então ela disse que mandara uma comitiva, inclusive com banda. - E o senhor não viu? – Vi. Mas era para mim? (Evangelho e Qualidade de Vida-José Carlos Leal)
Existe muita confusão entre humildade e pobreza. Por não entender esta frase de Jesus, em tempos passados, muitos cristãos se desfizeram de seus bens materiais, chegando ao absurdo da miserabilidade, isto é, se tornaram mendigos, imaginando que iriam direto para o Céu. Sendo o dinheiro neutro, podendo ser usado para o Bem e para o Mal, não significa que quem não o tem seja melhor do que o tem em quantidade.

A humildade não tem nada a ver com o dinheiro ou situação econômica. No momento em que entendermos que tudo pertence a Deus, então, estaremos em condições de perceber e ingressar no Reino de Deus. E Jesus já nos ensinou que o Reino está dentro de nós, quando estabelecermos plena sintonia com a fonte da Vida.
A simplicidade, então, é fundamental para o ingresso no Reino. Somente o homem humilde tem liberdade total.
A pessoa humilde naturalmente tem aspirações. Contudo, ela não se apega.
Aquele que ultrapassa os limites, querendo sempre mais, torna-se escravo. As aspirações que deveriam ser parte de nossas vidas, tornam-se a finalidade dela. Quando tem sucesso nos negócios, chega ao ponto de não ser mais nem dono de si, tal o envolvimento com a administração de tanta coisa. Outros tornam-se doentes porque não casaram, ou porque não têm filhos, ou não se curam de certos males, ou não tem sucesso na vida. (A Voz do Monte-Richard Simonetti)

Diz-nos o Espírito Públio que o homem já demonstrou que tem força e coragem para trucidar o semelhante, para diminuí-lo em busca do próprio sucesso, para desprezar-lhe as lágrimas, a fome, o desencanto e o desespero como se fossem ruídos de alguma turbulência ao longe, no horizonte. Precisará demonstrar agora, que possui coragem para reverenciar os chamados perdedores da vida. Para elevar-lhes a condição humana ao patamar da dignidade mínima garantida a todas as criaturas sobre a Terra e que compete aos que se consideram maiores ajudar, proteger e promover.
Aprender a ser pequeno é a tarefa que se impõe aos que desejam ser grandes sempre e que já perceberam que todas as suas glórias não foram capazes de trazer a paz ou a felicidade.
Pequenez que não significa miséria material, conduta exterior de humilhação, pobreza moral ou qualquer manifestação externa de debilidade, mas uma consciência que toda grandeza transitória no mundo decorre diretamente da permissão de Deus para que se estabeleça no caminho de alguém por algum tempo.
Sobretudo um comportamento interior de respeito a todos os que a vida não pode enaltecer com o sucesso. Uma mão estendida aos que estão caídos pelos fracassos a que foram expostos pelas contingências da jornada evolutiva ou por suas próprias deficiências.
O gesto que ergue para educar o caído, que ampara o fraco com o respeito fraterno que não humilha, que oferece ajuda sem impor o peso da vergonha sobre o que já se entregou à derrota.
Sentir a misteriosa inspiração para ser pequeno diante dos que o mundo despreza por não terem sido os que ganharam as disputas na qual todos estão engalfinhados cegamente é começar a se aproximar da verdadeira ventura da alma.
Devolver alegria e esperança à multidão dos falidos da emoção, aos esfarrapados morais, aos vitimados pelas tragédias sociais será tarefa que permitirá que cada uma dessas pequenas e mirradas plantinhas se voltem, novamente, para o Sol e, crescendo o quanto possam, com a sua ajuda, ofereçam algumas pequenas sementes na hora da colheita.
Entender o que significa servir é a única vitória consistente para a alma arrogante e ambiciosa, que perceberá que nenhuma ambição pessoal lhe permitirá a ventura sentida pelo menor gesto de altruísmo sincero em favor dos derrotados.
Não é pelo parâmetro mundano que as leis do Universo regem seus filhos.
Não é pelas glórias luminosas de alguns instantes fugazes que as criaturas são avaliadas no céu das grandezas celestes.
E, se  é verdade que o homem pode produzir luzes fulgurantes com pólvora e tecnologia, observamos que um vaga-lume produz, sozinho, mais luz em si e por si mesmo do que ele, o poderoso ser humano.
Aprender a servir, eis a maneira de produzir luz e felicidade próprias, como Jesus ensinou. (Jesus no Teu Caminho-Espírito Públio, médium André L. Ruiz)

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