Honrai a Vosso Pai e a Vossa Mãe
Cap. XIV, O Evangelho
Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec
Por
que muitos filhos abandonam seus pais?
Por
que temos que dar atenção aos nossos pais?
Sabeis os mandamentos:
não cometereis adultério; não matareis; não roubareis; não prestareis falso
testemunho; não fareis agravo a ninguém; honrai a vosso pai e a vossa mãe. (Marcos, 10:19; Lucas, 18:20; Mateus,
19:18-19)
Honrai a vosso pai e a
vossa mãe, a fim de viverdes longo tempo na terra que o Senhor vosso Deus vos
dará. (Decálogo:
Êxodo, 20:12)
Explica-nos o Evangelho Segundo o Espiritismo, de
Allan Kardec, que não pode amar ao próximo aquele que não ama a seu pai e a sua
mãe. Mas, o termo honrai significa um
dever a mais para com eles, ou seja, a piedade filial. Quis o Senhor mostrar,
por esta forma, que ao amor se devem juntar o respeito, as atenções, a
submissão e a condescendência, o que envolve a obrigação de cumprir-se para com eles, de modo ainda mais rigoroso,
tudo o que a caridade determina ao próximo em geral.
“Estando ainda a falar às multidões,
sua mãe e seus irmãos estavam fora procurando falar-lhe. Alguém lhe disse: Eis
a tua mãe e os teus irmãos que estão aí fora e procuram falar-te. Jesus
respondeu àquele que o avisou: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E
apontando para os discípulos com a mão, disse: Aqui estão minha mãe e meus
irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é
meu irmão, irmã e mãe.
(Mateus, 12: 46-50)
“Os laços de sangue não criam forçosamente os
liames entre os Espíritos. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede
do Espírito, porquanto o Espírito já existia antes da formação do corpo. Não é
o pai quem cria o Espírito de seu filho, ele mais não faz do que lhe fornecer o
invólucro corpóreo, cumprindo-lhe, no entanto, auxiliar o desenvolvimento
intelectual e moral do filho, para fazê-lo progredir.
Não são os da consanguinidade os
verdadeiros laços de família e sim os da simpatia e da comunhão de ideias, os
quais prendem os Espíritos antes, durante e depois de suas encarnações. Foi o
que Jesus quis tornar compreensível, dizendo de seus discípulos: Aqui estão
minha mãe e meus irmãos, isto é, minha família pelos laços do Espírito...”
A Tradição dos Anciãos
Nos textos de Marcos e Mateus encontramos o
seguinte: “Então chegaram a Jesus uns
fariseus e escribas vindos de Jerusalém e lhe perguntaram: Por que transgridem
os teus discípulos a tradição dos anciãos, pois não lavam as mãos quando
comem?” Ele, porém, respondendo, disse-lhes: “E vós, por que transgredis o
mandamento de Deus por causa da vossa tradição? Pois Deus ordenou: Honra a teu
pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá.
Mas vós dizeis: Qualquer que disser a seu pai e a sua mãe: O que poderias
aproveitar de mim é oferta ao Senhor; esse de modo algum terá de honrar a seu
pai. E assim por causa da vossa tradição invalidastes a palavra de Deus. Hipócritas!
Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os
lábios; o seu coração, porém, está longe
de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.
E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi, e entendei: Não é o que entra
pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca, isso o que o contamina”.
Com a Doutrina
Espírita, a nossa visão se alarga diante desta questão. Muitos filhos destinam
peças no fundo para seus pais, isolando-os. Outros não visitam seus pais
velhinhos, dando desculpas de falta de tempo. Pessoas idosas são jogadas em
clínicas, casas de repouso, asilos...
O Espírito Públio comenta
que “isto não os impediu de irem a festas,
clubes, jogos e torneios, absolutamente inúteis para as coisas do coração. Por
que não visitam os pais envelhecidos mais vezes? Se as coisas pudessem ser vividas no seu
momento devido, os funerais e os velórios não estariam cheios de consciências
culpadas, acusando-se de não terem feito tudo o que poderiam e deveriam ter
feito. Por que eu não fui mais vezes
vê-los? O momento é agora! Depois que tudo passa, nem fotografias, nem
relíquias, nem objetos pessoais são capazes de os trazerem de volta”. (Jesus
no Teu Caminho-Espírito Públio, médium André L. Ruiz)
E o Espírito Públio
enfatiza, em outra obra que, “abaixo
do Criador, as honras da vida devem ser atribuídas sem economias, sem mescla de
mágoas, sem considerações fúteis àqueles que aceitaram contribuir com o Pai
para a edificação do nosso corpo físico. Dessa maneira, aos filhos deverão
estar atribuídas as obrigações que são, por se referirem aos que lhes
concederam as oportunidades da existência carnal, mais do que deveres, mais do
que reverências formais ou discursos de virtude. Aos genitores, mesmo àqueles
que se demonstraram menos dignos depois, importa que nunca se lhes subtraia a
imensa quota de méritos que lhes pertencem por terem nos recebido na vida e, à
sua maneira, nos amado como podiam. Enquanto você está lendo este texto,
milhares de pais estão deixando clínicas ou lugares suspeitos nos quais
acabaram de renunciar ao convite de serem co-autores da vida, sócios de Deus na
Terra. Quantos Gandhis, Franciscos de Assis, Chicos Xavieres, Alberts Sabins,
Beethovens, Renoires, Rembrandts, Ghoets, Castros Alves, Zerbinis, Schwaitzers,
Paulos de Tarsos, Luteros, Leonardos da Vincis, Pasteures, não haverão perdido
a oportunidade de renascer, vendo seus futuros corpos reduzidos a uma pequenina
massa disforme e sangrenta? E se seus pais tivessem escolhido isso para você?
Honrai-os, mais do que amai-os. Se estão velhos e confusos, lembre-se de que
foram eles que limparam suas fraldas pouco perfumadas. Se estão inválidos,
lembre-se de quanto suaram para que você comesse e crescesse para ser o que é
hoje. Se não produzem mais nada de recursos, transformando-se em pesos sobre
suas costas, recorde-se de quantos anos você precisou da ajuda deles para
atingir a maturidade da compreensão a fim de caminhar sozinho. Se voltaram a
ser crianças caprichosas ou estão enfermos da razão, lembre-se do quanto
suportaram as crises que você enfrentou na infância vulnerável, nas
enfermidades difíceis que o atacaram, nas noites sem dormir, nos sonhos
pessoais que eles deixaram de realizar para que você pudesse ser o que
esperava.
Certamente, abaixo de
Deus, os pais físicos ou aqueles que ocuparam seus lugares pela tutela amorosa
que ofereceram a todos nós, são os nossos maiores credores silenciosos.
E como Deus, aprenderam a
virtude de aceitar o nosso descaso, a nossa fuga, a nossa falta de respeito, de
piedade, de atenção, resignação esta que demonstra o grau de Divindade do Amor
paternal e maternal que já incorporaram a si próprios, oferecendo tudo o que de
melhor possuem, apagando-se para que os que amam venham a brilhar em seu lugar.
Em geral, são os únicos seres da Terra que, verdadeiramente, renunciam ao
brilho próprio para brilharem através do sucesso dos filhos vitoriosos. E por
isso, você só será capaz de avaliar o sacrifício que fizeram por você, quando,
por sua vez, você se tornar pai ou mãe e perceber que seus filhos não conseguem
vislumbrar o que significa o esforço de criá-los, no sacrifício que exigem e no
trabalho que lhe dão.
Nessa hora, no entanto,
costuma ser muito tarde para pedir desculpas aos seus pais, que já podem
encontrar-se no Mundo dos Espíritos, vivos para a Verdade, tentando ajudá-los
nos apuros que você passa na criação da prole que Deus lhe concedeu”. (Relembrando
a Verdade-Espírito Públio, médium André L. Ruiz)
Muitos filhos ingratos
justificam com o “eu não pedi para nascer”. Enganam-se. No Mundo Espiritual,
quando é planejada a reencarnação, existe um trabalho intenso, coordenado por nossos mentores, onde, muitas
vezes, imploramos aos futuros pais, com o fito de harmonizarmo-nos com eles,
evitando a rejeição, e por imperiosa necessidade de reajuste, a oportunidade de
entrarmos na vida física, a fim de que a lei divina seja restaurada, pois, em
vivências anteriores não soubemos nos comportar como filhos de Deus.
No livro “Os
Mensageiros”, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, o autor espiritual
mostra-nos o grande trabalho que tiveram amigos e mentores para aproximarem
Segismundo de seu futuro pai biológico, Adelino, haja vista que, no passado,
ele o havia assassinado para ficar com sua mulher, Raquel. Agora, a lei exigia que eles se perdoassem e
reparassem os danos causados no passado, pois, ninguém despreza o que foi
estabelecido pelo Criador e que foi ensinado por Jesus, ao exortar que “devemos
fazer aos outros tudo o que quisermos que eles nos façam”, e, agora, nestes
últimos tempos, muito bem esclarecido pelo Espiritismo.
A Fama de Rico
O Coronel Manoel
Rabelo, influente fazendeiro no Brasil Central,
fora acometido de paralisia nas pernas. Vivia no leito, rodeado pelos filhos
atentos. Muito carinho. Contínua assistência. No decurso da doença veio a
conhecer a Doutrina Espírita, que lhe abriu novos horizontes à vida mental.
Pouco a pouco desprendia-se da ideia de posse. Para que morrer com fama de
rico? Queria agora a paz, a bênção da paz. Viúvo, dono de expressiva fortuna e
prevendo a desencarnação próxima, chamou os quatro filhos adultos e repartiu
entre os seus bens. Terras, sítios, casas, animais, avaliados em seis milhões
de reais, foram divididos escrupulosamente. Com isso, porém, veio a
reviravolta. Donos de riqueza própria, os filhos se fizeram distantes e
indiferentes. Muito embora as rogativas paternas, as visitas eram raras e as
atenções inexistentes.
Rabelo, muito triste e
quase completamente abandonado, perguntava a si mesmo se não havia cometido
precipitação ou imprudência. Os filhos não eram Espíritas e mostravam
irresponsabilidade completa. Nessa conjuntura, apareceu-lhe antigo e inesperado devedor. O Coronel Antonio Matias, seu amigo
da mocidade, veio desobrigar-se de empréstimo vultoso, que havia tomado sob
palavra, e pagou-lhe dois milhões de reais em cédulas de contado. Na presença
de dois dos filhos, Rabelo colocou o dinheiro em cofre forte, ao pé da cama.
Sobreveio o imprevisto. Os quatro filhos voltaram às antigas manifestações de
ternura. Revezavam-se junto dele. Papas de aveia, caldos de galinha, frutas e
vitaminas. Mantinham cobertores quentes e fiscalizavam a passagem do vento
pelas janelas. Raramente Rabelo ficava algumas horas sozinho. E, assim, viveu
ainda dois anos, desencarnando em grande serenidade.
Exposto o cadáver à
visitação pública, fecharam-se os filhos no quarto do morto e, abrindo
aflitivamente o cofre, somente encontraram lá um bilhete escrito e assinado
pela vigorosa letra paterna, entre as páginas de surrado exemplar de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”.
O papel assim
dizia: “Meus filhos, Deus abençoe vocês
todos. O dinheiro que me restava distribui entre vários amigos para obras
Espíritas de caridade. Lego, porém, a vocês, o capítulo décimo quarto de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”.
E os quatro,
extremamente desapontados, leram a legenda que se seguia:
“Honrai a vosso pai e
a vossa mãe – Piedade Filial” (Almas em Desfile-Hilário Silva- Waldo Vieira)
O Valor do que falta
Todos os dias a pobre
mãe, apesar dos parcos recursos que detinha, oferecia, com o mais extremado
carinho, a alimentação ao filho. Nessas ocasiões, sentava-se à mesa e
conversava com ele, relacionando os acontecimentos do dia e lhe perguntando
como tinha sido o seu... A tudo isso, o
jovem correspondia com enfado, em monossílabos, insatisfeito. No entanto, a mãe
continuava com os seus comentários em torno das dificuldades enfrentadas, mas
realçando a esperança que tinha no Deus de misericórdia que, com certeza, lhe
traria dias melhores. O filho não suportava mais, terminava o alimento sem uma
palavra sequer de conforto, dirigindo-se logo para o seu quarto ou ligando a
televisão para ouvir o noticiário e não mais dar atenção à genitora, fazendo-a
notar o seu completo desinteresse pelos assuntos do dia. A infeliz velhinha,
percebendo o cansaço do rapaz, punha-se
a afagar-lhe a espessa cabeleira e, em pensamento, orava por sua felicidade,
para logo após recolher-se ao sono físico.
Aconteceu que aquela
nobre senhora adoecera rapidamente, desencarnando em poucas horas, sem tempo de
despedir-se do filho, que estava entregue aos afazeres cotidianos. Ao chegar em
casa, o jovem surpreendeu-se... Sua mãezinha havia partido para o mundo
invisível... Sem crença alguma, apesar
dos princípios da fé materna, no velório e no enterro portou-se quase
indiferente. Ouviu os comentários dos religiosos, mas não se deixou comover.
Achava a vida assim mesmo, ingrata, cujo final era a morte.
Chegando em sua
residência, sentou-se à mesa e já não viu mais aquele prato quente de comida,
olhou a cadeira à sua frente e não mais avistou nem percebeu a mãe, nem lhe
ouviu a voz meiga comentando as ocorrências, nem obteve mais de seus lábios as
perguntas em torno do seu dia, de sua rotina. E sem que notasse sentiu que
grossas lágrimas desciam de seus olhos... Chorou, chorou muito, pensando no
tempo que perdeu em não retribuir à sua mãe o mesmo carinho e dedicação de que
era objeto...
Apesar disso, dessas
reflexões amargas, ao seu lado lá estava, como dantes, silenciosa, sem ser
vista, sua mãe afagando-lhe os cabelos e orando por sua paz...
Em muitas situações
somos ingratos, ignorando as oferendas do Pai Celeste às nossas existências. E
somente quando perdemos esses recursos é que sabemos perfeitamente o valor do
que falta... (Valérium, in “Contos do Invisível”,
de Nilton Sousa)
Filha Rebelde
Dona Matilde sempre dizia para sua filha Emilinha
que era preciso atender ao problema espiritual, buscando a luz do Cristo porque
a vida na Terra oferecia inúmeras surpresas, ocasionando a queda das almas
desprevenidas. Emilinha, gargalhava e dizia:
- Ora, mãe, não necessito de sermões. Seus
conselhos são muito antiquados, suas observações são descabidas e eu sou dona
da minha vontade, faço o que entendo.
- Sim, filha, mas o cuidado materno obriga-me a
esclarecê-la. Quem é mãe sofre muito por desvelar-se junto dos filhos...
- Não precisará desfiar o rosário de lágrimas. Para
quê?
Era assim a situação entre D. Matilde e a filha
mais velha, tratando-a com dureza, inclusive na presença de visitas,
humilhando-a a todo instante, o que fez com que D. Matilde se retraísse,
ficando calada.
Quando D. Matilde comentava sobre ensinamentos
evangélicos, Emilinha debochava e dizia que não acreditava em reencarnação,
dizendo que não passamos de experiência biológica da Natureza e que o resto é
ilusão, puro fanatismo religioso.
E Emilinha fez no mundo o que lhe pareceu
melhor, contraindo pesados débitos,
surda às advertências maternas.
O tempo, a dor e a morte são os cobradores da
realidade. Emilinha, porém, foi morar no Umbral. Sua mãe visitava-a
frequentemente, mas ela não notava a sua presença por trazer a mente absorvida
por negras visões e vozes angustiadas. Anos se passaram, quando D. Matilde
deliberou voltar à esfera carnal. Solicitou ao Alto amparo para tal e, pela
primeira vez, após a separação, Emilinha pode ver a mãe. D. Matilde falou-lhe
do projeto de retornarem ambas à Terra e Emilinha considerou:
- Mamãe, me aceitaria de novo ao seu lado?
- Como não, minha filha? Se o Senhor permitir,
reconstituiremos nosso velho lar...
- Prometo compreendê-la... disse a filha em pranto.
Nesse instante, fez-se visível o diretor daquela
região de sofrimento retificador. Emilinha rojou-se aos pés, rogando:
- Emissário de Jesus, que me conheceis os
padecimentos, ajudai-me para que eu possa voltar à Terra em companhia de minha
mãe. Pelo amor de Deus, permiti a minha volta! A sábia entidade contemplou-a
fraternalmente e falou:
- No momento, minha irmã, não lhe será possível
retirar-se daqui. Ainda precisará desgastar por alguns anos os envoltórios
inferiores que criou em torno de si mesma. Seus atuais veículos de manifestação
não lhe permitem por enquanto, a vida em zona menos pesada que esta. Mais tarde
poderás voltar a viver ao lado de Matilde, ouvindo-lhe os conselhos cristãos.
Emilinha, que não cabia em si de contente, elevou
as mãos ao Céu e exclamou: - Graças a Deus!
O diretor espiritual, contudo, retomou a palavra e terminou:
- Não poderá, todavia, voltar à situação de
parentesco que já passou. Não tens títulos de serviço prestado que a autorizem,
agora, a regressar como filha de Matilde, mas retornarás ao mundo como criada
humilde da sua residência, para que na verdadeira condição de obediência,
aprenda a valorizar o tesouro que Deus lhe concedeu.(Pontos
e Contos-Humberto Campos e C. Xavier)
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